ATLAS INTERNACIONAL DAS NUVENS
Um
seculo de discussões afinal encerrado - Lamarck e as nuvens
- Nem todos os pesquisadores têm sorte
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 1º de março
de 1959
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Etapa das mais importantes para a classificação e nomenclatura
das nuvens marcou o aparecimento em 1956 do atlas internacional editado
e organizado pela Organização Mundial de Meteorologia.
Pode-se dizer que esse atlas veio encerrar um seculo de discussões.
É curioso assinalar que a primeira classificação
publicada com bases cientificas foi a de um zoologo eminente, o bem
conhecido Lamarck, em 1802. Não logrou ela entretanto muito
exito, apesar de ter alguns indiscutiveis meritos. Ao contrario, grande
exito coroou o trabalho publicado no mesmo sentido por Luke Howard,
na Inglaterra, um ano após. Erros fundamentais havia na contribuição
do inglês, que por outro lado não escondia a grande semelhança
que tinha com o sistema de Lamarck. Apesar disso, o francês
ficou no esquecimento e o inglês ganhou fama. A seguir, o assunto
foi tratado pelo alemão Kaemz (1840) e pelos franceses Reonou
e Poey, este ultimo em Cuba, alem de outros. Cada um desses pesquisadores
deixou traço marcado de sua passagem, traço esse que
se reconhece nas classificações ainda hoje em vigor.
Em 1879 apareceu um trabalho muito importante do sueco Hildebrandsson,
que pela primeira vez aplicou a fotografia das nuvens ao estudo sistematico
destas ultimas. Weilbach e Ritter, Maze e Clayton e Lee propuseram
mais tarde classificações que não lograram muito
exito. Ao contrario, a classificação proposta por Hildebrandsson
e Abercromby teve grande aceitação e sem modificações
apreciaveis se acha encampada atualmente pela nomenclatura hoje oficialmente
aceita. O trabalho desses dois autores é de 1887. Abercromby
fez uma longa viagem pelo mundo a fim de verificar se a forma das
nuvens era a mesma em todas as partes da terra. A classificação
passou então a ser objeto de discussão em congressos
internacionais. Em 1891 uma conferencia meteorologica em Monaco decidiu
a publicação de um atlas, que realmente apareceu cinco
anos mais tarde, graças à generosidade do francês
Teisserenc de Bort, que arcou com as despesas. Em 1927 a Météorologie
Nationale Française publicou um atlas provisorio que se fazia
necessario em vista dos progressos da aviação.
A um mecenas catalão, Rafel Paxtot, se deve uma edição
especial de mil exemplares. Em 1932 os franceses publicaram um atlas
de grande valor, coincidindo com o Ano Polar, nome dado ao segundo
empreendimento geofisico internacional. Agora a Organização
Mundial de Meteorologia publicou o seu atlas, numa soberba edição
que representa o fruto de dez anos de intensos trabalhos, com 224
pranchas, cem das quais coloridas, que mostram nuvens fotografadas
de todos os angulos; o atlas é acompanhado de um volume introdutorio,
que atualiza o assunto e explica as peculiaridades da grande obra.
Uma primeira questão que surge é a de saber o que seja
exatamente uma nuvem. Segundo a definição oficial, é
um conjunto visivel de pequenissimas particulas de agua, ou gelo,
em suspensão na atmosfera. Nessa definição poderia
entrar a neve, é certo, mas ela vem mais geralmente classificada
como hidrometeoro. A nuvem pode encerrar particulas liquidas não
aquosas ou solidas, provenientes de vapores industriais e outras fontes
como gases, fumaças ou poeiras.
O aspecto da nuvem depende de sua natureza, dimensões, numero
e distribuição, no espaço, das particulas que
a constituem, intensidade e cor da luz recebida, posição
relativa do observador quanto ao sol e à lua e em relação
à propria nuvem. Na descrição do aspecto da nuvem
os especialistas levam em consideração as dimensões,
a forma, o esplendor, a estrutura, a tessitura e a cor. Algumas dessas
qualidades permitem avaliar a altura a que se encontra uma determinada
nuvem em relação a outras.
Na classificação das nuvens distinguem-se as chamadas
nuvens normais das especiais. Normais são as que foram já
definidas.
Entre as nuvens normais reconhece-se um certo numero limitado de nuvens
caracteristicas. A classificação das formas tipicas
se faz em generos, especies, variedades e particularidades. Os generos
são os seguintes: cirrus, cirrocumulus, cirrostratus, altocumulus,
altostratus, nimbostratus, stratocumulus, stratus, cumulus e cumulonimbus.
As especies são: fibratus, uncinus, spissatus, castellatus,
floccus, stratiformis, lenticularis, nebulosus, fractus, humilis,
mediocris, congestus, calvus, capillatus.
São variedades: intortus, radiatus, vertebratus, duplicatus,
undulatus, lacunosus, translucidus, perlucides, opacus.
Particularidades: mamma, virga, praecipitio, pannus, pileus, velum,
arcus, tuba, incus.
A diferenciação entre generos e especies é materia
que vem descrita nos livros especializados e não importa referir
aqui. Nosso desejo é apenas mostrar aos leitores como o assunto
é complexo. De um modo geral, e para a pratica corrente, os
termos fundamentais são apenas quatro, que convem guardar de
cabeça: cirro, cumulu, estrato e nimbo. Está ultima
é caracteristica das nuvens de temporais.
As nuvens especiais tambem se distinguem por muitos nomes especificos.
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