Rio, 29 (Da nossa sucursal) — Desde a manhã que a cidade se enchera de rumores, alguns alarmantes mesmo, que aludiam a um movimento armado, que tivera início na Vila Militar logo sendo subjugado, tendo muitas pessoas se recolhido às suas casas e tomado precauções especiais, tal como a de munir-se de conservas em lata, e outras providências. Não obstante, no centro urbano, a não ser "choques" da Polícia Especial, que de quando em quando, deixavam o quartel do morro de Sto. Antônio, com o guincho agudo das suas sirenes, não se notava nada de anormal. Sabia-se, apenas, que os comandantes dos fortes existentes em Copacabana haviam tomado providências extraordinárias, extendendo as guardas dos respectivos estabelecimentos militares aos cruzamentos estratégicos das ruas. Medidas idênticas haviam sido tomadas pelos comandantes de outras unidades com sede em outros lugares, como no bairro de S. Francisco Xavier, onde tem sua sede a tropa motorizada, nos artigos terrenos do Derby Clube. Isto até as primeiras horas da noite.
Passado algum tempo, todavia, não tendo sido irradiada a "Hora do Brasil", como habitualmente, a reportagem da Sucursal das "Folhas" procurou apurar o que havia a respeito, sabendo, então, que o edifício da Câmara dos Deputados, o Palácio "Tiradentes", que está sendo remodelado, e onde será instalado o futuro Parlamento, fôra ocupado, antes das 19h30, por um contingente de tropas do Exército, comandado por um major. Êste, depois de dispor seus soldados, deu ordens terminantes para que não fôsse permitida, nem a entrada, nem a saída de pessoa alguma. Não dera, a respeito dessa atitude, nenhum esclarecimento aos funcionários da Secretaria da Câmara, que ali trabalhavam na ocasião.
O Palácio Guanabara, residência oficial do Chefe da Nação, desde a tarde, que se acha com a guarda reforçada.
À noite, muitos caminhões da Polícia Especial ali chegaram, postando-se em tôdas as ruas que circundam o Palácio, cheias de policiais.
As famílias foram convidadas a se retirarem das portas e a se recolherem ao interior de suas residências. As instalações do Fluminense Futebol Clube também foram ocupadas por fôrças daquela Polícia.

RIO, 29 (Da nossa sucursal) — Após a reunião dos generais no Palácio da Guerra, que se prolongou desde a tarde até depois das 24 horas, foi distribuída à imprensa, para divulgação, a seguinte nota oficial:
"O General Pedro Aurélio de Góis Monteiro, em nome das classes armadas, declara que o Exmo. Sr. Presidente da República, diante dos últimos acontecimentos políticos, se afastara do Govêrno, transmitindo o poder ao Presidente do Supremo Tribunal Federal.
O Sr. Presidente fará uma proclamação ao povo brasileiro, concorrendo com a sua renúncia de alto patriotismo para que a ordem pública não sofra solução de continuidade e se mantenha inalterado o prestigio do Brasil. (a) P. Gois."

RIO, 29 (Da nossa sucursal) — Em declarações feitas aos jornalistas ao deixar o edifício do Ministério da Guerra, o General Osvaldo Cordeiro de Farias disse que reinava ordem e tranquilidade em todo o Território Nacional.

O Sr. Sebastião Nogueira de Lima, que foi ao Rio para tomar posse do cargo de Interventor Federal em São Paulo, comunicou-se, cêrca das 20 horas, com o Sr. Fernando Costa, em telefonema do Hotel Serrador, onde se acha hospedado. Falando com o Sr. Fernando Costa, o Sr. Sebastião Nogueira de Lima pôs S. Exa. ao corrente dos fatos que se passavam na Capital do país e que culminaram com a renúncia do Sr. Getúlio Vargas do cargo de primeiro magistrado da Nação.
Mais tarde, por volta das 22 horas, o Sr. Sebastião Nogueira de Lima novamente se comunicava com o Palácio dos Campos Elíseos, fornecendo ao Sr. Fernando Costa outros informes sôbre os acontecimentos no Rio de Janeiro.

O Sr. Sílvio de Campos também foi informado dos acontecimentos do Rio de Janeiro, pelo Cel. Lima Figueiredo, que chefiou o Gabinete do Sr. Gaspar Dutra quando Ministro da Guerra.

Tendo deliberado deixar a Presidência da República, o Sr. Getúlio Vargas, segundo informações que corriam ontem à noite em Palácio, escrevera uma proclamação que seria lida ao povo brasileiro. Nessa mensagem, o Sr. Getúlio Vargas explicava à Nação os motivos da sua renúncia e pedia ao povo brasileiro que se conservasse em calma.

O Sr. Sebastião Nogueira de Lima, como é sabido, tomou posse ontem, perante o Sr. Agamenon Magalhães, do cargo de Interventor Federal em São Paulo. Diante, entretanto, da alteração por que acaba de passar o Govêrno do País, não se sabe se S. Exa. assumirá aqui a Interventoria. Corria ontem com muita insistência, tanto nos meios oficiais como nos meios políticos, que possivelmente S. Exa. não fôsse confirmado no cargo. Nesse caso, assumiria a Interventoria Federal em São Paulo, até que se processem as eleições e seja empossado o futuro Governador do Estado, o Presidente do Tribunal de Apelação, Desembargador Mário Guimarães.

A reportagem da "Folha da Manhã" verificou ontem à noite que soldados do Exército guardavam o edifício dos Correios e Telégrafos. Na porta de entrada de seção dos Telégrafos, a única aberta àquela hora, era mantida uma sentinela, enquanto outras praças se conservavam no interior do prédio. O movimento do público era normal.
A Guarda do Quartel General, sede do Comando da 2ª Região Militar, foi reforçada com diversas praças.
Logo que as notícias sôbre os sucessos ocorridos na Capital da República chegaram a São Paulo, o Secretário da Segurança Pública, Sr. Pedro de Oliveira Ribeiro Sobrinho, imediatamente se dirigiu ao Palácio dos Campos Elíseos, onde conferenciou com o Sr. Fernando Costa. Em seguida, S. Exa. articulou-se com o General Comandante da 2ª Região Militar e com o Comando da Fôrça Policial do Estado. Já informado do que se passava, o General Amaro Bitencourt havia determinado rigorosa prontidão em todos os quartéis, que foram isolados e ficaram interna e externamente guardados por fôrças embaladas. Logo depois, o mesmo acontecia com referência aos quartéis da Fôrça Policial.

Quanto à Polícia Civil, o Secretário da Segurança convocou imediatamente os delegados auxiliares, especializados e distritais, bem como todo o corpo de investigadores, estabelecendo rigoroso policiamento preventivo tanto na Capital como no Interior do Estado. O Delegado de Ordem Política e Social, Sr. Venâncio Aires, teve ordem de manter severa vigilância em todos os setores políticos, inclusive na sede dos partidos políticos, e manter um policiamento preventivo nos estabelecimentos fabris. A Fôrça Policial ficou encarregada de guarnecer as repartições públicas e exercer vigilância nos pontos estratégicos da Capital.

Malgrado as notícias procedentes do Rio, que davam conta de séria agitação, em São Paulo, pelas informações que colhemos na Secretaria da Segurança, onde estivemos até às primeiras horas da madrugada de hoje, a situação, conquanto de grande expectativa, era de absoluta calma, não se registrando qualquer fato anormal digno de menção.

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