ESTUDANTE MORTO EM CHOQUE NO RIO
Na Assembléia o corpo do estudante morto em choque
com a policia carioca
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1968
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Rio (Sucursal) - Um choque da Policia Militar, sob o comando
do tenente Falcão, invadiu ontem o galpão em que foi
instalado o antigo restaurante do Calabouço, onde se realizava
uma assembléia estudantil e, após entrar em luta com
os estudantes e praticar depredações, fez disparos de
metralhadora, matando Nelson Luís Souto,* de 16 anos, de Belem
do Pará, aluno do curso do Instituto Cooperativa de Ensino,
e Benedito Frazão Dutra, de 20 anos. Frazão, com um
tiro no peito, foi socorrido pelo deputado Jamil Hamiden e levado
para o pronto socorro, onde está em estado de coma.
O corpo do primeiro estudante foi conduzido para a Assembléia
Legislativa; esta, logo depois, foi cercada por soldados da PM e investigadores
do DOPS, que deixavam entrar parlamentares e estudantes, mas não
permitiam que ninguem saisse.
Varios oradores fizeram uso da palavra e abriram o plenario para uma
"sessão popular" de 24 horas, para impedir uma invasão
policial.
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A
invasão |
A invasão do restaurante estudantil verificou-se quando os
estudantes estavam reunidos para acertar pormenores de uma passeata,
que se realizaria hoje, de protesto contra a demora do governo estadual
em construir o restaurante que substituiria o antigo Calabouço,
derrubado para construção de um trevo rodoviario.
Comandados pelo tenente Falcão, soldados da Policia Militar
invadiram o recinto e entraram em luta corporal com os estudantes.
Agentes do DOPS e soldados da Policia da Aeronautica chegaram logo
depois.
Ao lado do galpão do restaurante funciona o Instituto Cooperativa
de Ensino, onde é ministrado um curso do artigo 99 (Madureza).
No momento da invasão estava sendo dada aula de Geografia.
O professor protestou e foi espancado pelos policiais.
Soldados da Policia Militar e da Aeronautica ocuparam as cercanias
da Assembléia Legislativa, obrigaram o fechamento dos bares
e impediram a formação de grupos.
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Sessão
permanente |
Varios deputados resolveram manter-se em sessão permanente
na Assembléia Legislativa, para impedir a invasão policial.
Os oradores condenaram a violencia policial. A camisa ensanguentada
do estudante Nelson Luís Souto foi agitada como bandeira utilizada
para angariar fundos com os quais serão realizados os funerais
do jovem.
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Negrão |
O governador Negrão de Lima reuniu-se com seus auxiliares imediatos
para estudar medidas com que contornar a situação criada
com a morte do estudante e preparar uma nota oficial.
Convocado pelos deputados, o general Niemeyer, representante do secretario
da Segurança, foi à Assembléia e fez um relato
dos acontecimentos, segundo a versão policial. Disse que o
choque da PM fôra enviado ao restaurante para impedir uma manifestação
de protesto contra a guerra do Vietnã e que os policiais foram
surpreendidos por um individuo que estava infiltrado entre os estudantes.
Informou que a PM não entrará na Assembléia Legislativa
a não ser solicitada pelos parlamentares.
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Embaixada
apedrejada |
Quando levavam para a Assembléia Legislativa o corpo de seu
colega morto, os estudantes passaram em frente à Embaixada
dos EUA e apedrejaram o edificio.
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Filas
na AL |
A necropsia do estudante Nelson Souto será realizada pelos
proprios medicos da Assembléia. Não se sabe, ainda,
a hora em que sairá o enterro hoje.
À noite, a policia afrouxou o cerco em torno da Assembléia.
Filas de populares formam-se à porta do Legislativo, para ver
o corpo do estudante.
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Greve
em Recife |
Recife, 28 - Em virtude da prisão de 100 colegas, alunos
da Universidade Federal de Pernambuco estão em greve desde
anteontem. A greve foi decidida numa assembléia convocada pelo
DCE, como sinal de protesto contra a atitude do vice-reitor Jonio
Lemos. Alunos da Universidade Catolica, ao saberem do ocorrido, tambem
deixaram as aulas. No entanto, o governador Nilo Coelho ordenou a
soltura de todos os detidos.
Enquanto isso, na Universidade Rural, em Dois Irmãos, quase
se registrou sério incidente entre 50 estudantes grevistas
e numerosos policiais, após um comicio. Hoje é o 29º
dia de greve naquele estabelecimento.
*Nota
dos editores do "Almanaque": o estudante morto chamava-se
na realidade Edson Luís de Lima Souto.
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