EXERCITO PRENDE CHEFE E 17 DOS GUERRILHEIROS
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 29 de março de
1965
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Neste texto foi mantida a grafia original
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FOZ DO IGUAÇU, 28 (FOLHA) - Foram detidos pelo Exercito
o ex-coronel Jeferson Cardim de Alencar Osorio e mais 17 guerrilheiros
sob seu comando.
Interrogado durante três horas no quartel do I Batalhão
da Fronteira, em Foz do Iguaçu, confessou que o movimento era
de origem brizolista, tramado no Uruguai pelo ex-deputado Leonel Brizola,
e que deveria ter inicio nos fins deste mês, quando do primeiro
aniversario da revolução. Informou-se que o sarg. Alberi,
expulso da Brigada Militar, participou de todo o planejamento, que
foi posto em pratica pelo ex-coronel, que se adiantou em vista da
inauguração da Ponte Internacional. Segundo os planos,
os movimentos iniciais seriam nas cidades de Porto Alegre, Bagé
e Santa Maria.
No unico choque armando havido, o ex-coronel matou com dois tiros
na perna e um no peito, com uma pistola 45, o sarg. Carlos Argemiro
Camargo, em Marmelandia.
A area de Capanema continua sendo ocupada pelas tropas do Exercito,
que procuram os guerrilheiros remanescentes. Segundo o ex-coronel,
estes seriam em numero de 20. As estradas estão sendo vigiadas
e todos os carros revistados.
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Ministerio
da Guerra anuncia prisão do chefe de guerrilheiros |
BRASILIA, 27 (FOLHA) - O gabinete do ministro da Guerra confirmou
esta tarde a prisão do ex-coronel Jefferson Cardim, entre Capanema
e Cascavel, no Paraná que, ao ser interrogado, "confessou
que cumpria missão plenamente entrosada com o ex-deputado Leonel
Brizola, e que o assalto a Três Passos seria a senha para um
movimento de ambito geral".
Enquanto nota oficial daquele Ministerio "lamenta o falecimento
do 3.o sargento Carlos Argemiro Camargo", morto durante a captura
do ex-coronel, corriam boatos em Brasilia, segundo os quais esperava-se
em Goiás e Pernambuco a eclosão de movimentos de guerrilhas.
Alem do ex-coronel Jefferson Cardim, foram presos mais 5 componentes
e seu grupo, e os demais 15 "abandonaram o armamento e a munição
e, em trajes civis roubados de colonos daquela região, procuram
fugir".
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A
nota oficial |
Eis a integra da nota oficial distribuida hoje, nesta capital, pelo
gabinete do ministro da Guerra:
"O grupo que assaltou os fracos contingentes da Brigada Militar
do Rio Grande do Sul nas localidades de Três Passos e Tenente
Portela e que se apossou do armamento e da munição ali
existentes era chefiado pelo ex-cel. Jeferson Cardim de Alencar Osorio,
comunista reconhecido e por isso mesmo afastado das fileiras do Exercito
pelo Ato Institucional.
"Após a pilhagem, os assaltantes se apossaram de um caminhão
"Mercedes" e seguiram segundo o eixo rodoviario Três
Passos-Tenente Portela-Frederico Westephalen (no Rio Grande do Sul).
Entraram no Estado de Santa Catarina e na direção de
Barracão, no Estado do Paraná, prosseguiram para Capanema-Cascavel
no referido Estado. A 50 quilometros ao sul desta ultima localidade,
foram cercados.
"O ex-coronel Jefferson foi preso e, ao ser interrogado, confessou
que cumpria missão plenamente entrosada com o ex-deputado Leonel
Brizola e que o assalto a Três Passos seria a senha para um
movimento de ambito geral. Foram presos cinco integrantes do bando,
sendo que os demais componentes, em numero de 15, abandonaram o armamento
e a munição e, em trajes civis roubados dos colonos,
procuram fugir.
"A operação para a captura dos fugitivos prossegue,
sendo de assinalar que a população civil colabora de
forma extraordinaria para a identificação e localização
dos bandoleiros.
"O Exercito tem a lastimar o falecimento do 3.o sargento Carlos
Argemiro Camargo, da 1.a Companhia do 13.o Regimento de Infantaria
que, no cumprimento do dever, morreu em ação, contra
maus brasileiros que tentam subverter a ordem".
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V
Região distribui comunicado oficial |
CURITIBA, 28 (FOLHA) - O Quartel General da V Região
Militar, com sede nesta capital, distribuiu na tarde de hoje a seguinte
nota oficial:
"O comandante da V Região Militar e V Divisão de
Infantaria informa que a situação no Este paranaense
está praticamente normalizada.
"Nas operações do dia 27 foram feitos 5 prisioneiros,
inclusive o ex-coronel Jeferson Cardim de Alencar Osorio, tendo os
demais abandonado o armamento e assaltado casas de colonos, roubando
trajes civis. O ex-coronel Jeferson, ouvido pelas autoridades, declarou
cumprir missão dada por Leonel Brizola.
"Prossegue a operação de limpeza a fim de capturar
os remanescentes, contando as forças do Exercito, na area,
com a ajuda total da população civil. Em todas as operações
as forças do Exercito receberam a colaboração
eficiente das Policias Militares do Paraná e de Santa Catarina.
Assinado, general de Divisão Alvaro Tavares Carmo, Comandante
da V Região Militar e V Divisão de Infantaria."
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Combate |
Às ultimas horas da noite de ontem, aproximadamente 24 horas,
o Quartel General da V Região Militar divulgou nota oficial
informando que na tarde de ontem "travou-se combate na região
de Leonidas Marques, sendo aprisionado o caminhão e feitos
5 prisioneiros, que estão sendo transportados para Foz do Iguaçu".
O comandante da V Região Militar informou tambem a morte do
3.o sargento Carlos Argemiro de Camargo, pertencente à 1.a
Cia, do 13.o Regimento de Infantaria, que participava da caçada
ao grupo de guerrilheiros.
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Surpresa
ajudou |
Segundo pessoas que testemunharam os fatos ocorridos em Três
Passos, os guerrilheiros comandados pelo ex-cel. Jeferson de Alencar
Osorio tiveram sua ação facilitada nessa cidade pelo
reduzido policiamento existente e pelo adiantado da hora, já
que o assalto ao quartel da Brigada Militar ocorreu durante a madrugada.
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Surpresa |
A Brigada Militar foi facilmente subjugada. Ali se encontravam apenas
um cabo e três soldados que, atacados de surpresa, não
puderam reagir. Dominantes, os guerrilheiros apossaram-se, no deposito
de armas, de 30 mosquetões e 4 fuzis-metralhadoras, alem de
600 balas.
À uma hora da madrugada, foram avistados defronte ao predio
do Banco do Brasil, pelo inspetor Altino Estanislau de Sousa, que
os interpelou. Atacado e ameaçado por revolveres e metralhadoras,
foi levado a um posto de gasolina. Ali, os assaltantes obrigaram o
vigia do posto a entregar as chaves de um caminhão, propriedade
da firma "Moinho Três Passos". Precisavam do veiculo
porque o de que se serviam, um Chevrolet 1939, havia enguiçado
logo na entrada do municipio.
Enquanto a cidade dormia e os habitantes nem sequer suspeitavam de
uma ação militar extraordinaria, os guerrilheiros encaminharam-se
para a Central Telefonica e danificaram completamente as mesas, deixando
a população com as comunicações interrompidas.
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Manifesto |
O grupo dirigiu-se em seguida às instalações
da Radio Difusora. Apertando a campainha, foram atendidos pelo proprietario,
sr. Beno Adelar Braitenbach, que mora nos fundos da emissora. Depois
de conduzido para a frente do predio, o cel. Jeferson entregou-lhe
um cartão de visitas com os seguintes dizeres: "Cel. Jeferson
Cardim de Alencar Osorio, comte. das Forças Armadas da Libertação
Nacional" e intimou o sr. Braitenbach a colocar a radio no ar.
Após tentarem utilizar, inutilmente, um gravador de som, leram
um manifesto ao vivo.
Depois, aumentados em numero e fardando uniformes do Exercito ou da
Brigada Militar, os guerrilheiros puseram-se em marcha para Tenente
Portela, onde repetiram a operação. Despojados das armas,
os membros da Brigada tiveram de munir-se com revolveres em estabelecimentos
comerciais.
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Mourão:
não há condições no Sul para manter guerrilhas |
RIO, 28 (FOLHA) - O general Mourão Filho, ex-comandante
da 4.a Região Militar, classificou o grupo de guerrilheiros
que assaltou cidades no Rio Grande do Sul de «uns palhaços
à cata de cartaz no noticiario sensacionalista dos jornais».
Para o general Mourão Filho não existem condições
na maior parte do territorio gaucho para a pratica deste tipo de ação
militar.
- «Eles não tem nem condições politicas
nem militares, e sem armas especialmente preparadas para esse tipo
de guerra, sem qualquer motivação politica, contentam-se
em assaltar postos militares insignificantes e apreender armas obsoletas
como o pesado fuzil de 1908» - acrescentou o general.
Ao concluir, o general Mourão esclareceu que para o irrompimento
de uma guerra de guerrilha, alem do mais, «há necessidade
de uma imensa rede de suprimento, a qual não é possivel
obter sem o apoio da população. Há, ainda, necessidade
de um armamento especial e de munição igualmente diferente
da convencional, pois o guerrilheiro deve sempre andar com coisa leve».
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KRIEGER:
«TROPELIAS» |
O senador Daniel Krieger afirmou, ontem, ao seguir para o Rio Grande
do Sul, onde vai participar de uma convenção udenista,
que as «tropelias de militares expurgados, no interior do Sul
do país, atacando cidades despoliciadas, onde há apenas
de seis oito homens da Brigada, não é um fenomeno de
importancia».
O senador esclareceu que pelo conhecimento que tem da região
"esta tropelia não terá duração".
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Amaral
Peixoto condena |
O presidente do PSD, sr. Amaral Peixoto, condenou a tentativa de sublevação
no Sul, realizada por um grupo reduzido, lembrando que ela vai provocar
reações que alcançarão setores sem qualquer
culpa.
Por outro lado, é indispensavel não perturbar a harmonia
no país para que a campanha eleitoral possa começar
o mais cedo possivel, pois já se iniciará com atraso.
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Drama
da mãe de Jeferson |
A mãe do coronel Jeferson Cardim de Alencar Osorio, residente
no Rio, em Copacabana, disse à imprensa, hoje, que vive um
drama pessoal, pois enquanto seu filho abre luta armada contra a Revolução,
outros parentes seus, militares, fazem parte, inclusive da "linha
dura".
- "Eu era favoravel à Revolução de 31 de
março, mas mudei de opinião depois que o novo governo
reformou meus dois filhos, o coronel atualmente em ação
no Sul e outro capitão de fragata" - acrescentou da. Corina
Cardim de Alencar Osorio.
A mãe do coronel é vizinha de uma filha, mãe
do menino preso em agosto do ano passado sob a acusação
de servir de pombo-correio para correspondencia entre o ex-deputado
Leonel Brizola e elementos ligados ao antigo governo Goulart no Rio.
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