FIGUEIREDO VOLTA ATRÁS E RETIRA EMENDA;
TANCREDO JÁ SE PREPARA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 1984
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Quebrando suas reiteradas promessas - feitas até através
de cadeias nacionais de rádio e televisão - de restaurar
as eleições diretas em 1988, e sob o argumento de que
não podia permitir "esse desvio clamoroso (as diretas-já)
dos objetivos do projeto", o presidente Figueiredo retirou do
Congresso a emenda Leitão, impedindo que ela fosse submetida
a votação.
A decisão foi comunicada ontem de manhã às lideranças
partidárias pelo presidente do Congresso, senador Moacir Dalla.
Em reunião em seu gabinete, às 9 horas, Dalla transmitiu
o teor de uma carta do Presidente, que lhe fora entregue no final
da noite de anteontem. Na carta, Figueiredo diz-se decepcionado com
a "atitude assumida pelas oposições" e afirma
não poder permitir que "se responda dessa forma à
proposta de entendimento que se achava implícita naquele documento".
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Tumulto
no plenário |
Pouco depois da reunião das lideranças, os deputados
(cerca de 180) que se encontravam no plenário foram cientificados
da decisão presidencial aos gritos, os parlamentares passaram
a pedir ao senador Álvaro Dias (PMDB-PR), único integrante
do Senado presente, que assumisse a presidência dos trabalhos
e abrisse a sessão do Congresso. Dias recusou-se.
Mais tarde, Dalla prometeu colocar em votação, no dia
8 de agosto, a emenda Teodoro Mendes, em tramitação
no Congresso. Essa emenda prevê diretas imediatamente, em dois
turnos.
À tarde, na sessão ordinária da Câmara,
os oposicionistas se revezaram em pronunciamentos de condenação
à atitude de Figueiredo. Antes de subir à tribuna para,
sob aplausos do grupo malufista, defender a retirada da emenda Leitão,
o líder do governo e principal articulador das negociações
com a oposição, deputado Nélson Marchezan, constatava,
melancólico: "Nós não soubemos negociar".
Apesar do que se informava na véspera, Marchezan, não
demonstrou qualquer empenho em deixar o posto de líder do governo.
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A
estratégia da oposição |
A partir da saída de cena da emenda do governo, as oposições
passaram a trabalhar em função de uma nova estratégia:
Tancredo Neves e Constituinte. O assunto foi tratado numa reunião
de manhã, entre o governo mineiro e 19 coordenadores de bancadas
estaduais do PMDB. Na reunião, Tancredo admitiu sua renúncia
ao governo de Minas e considerou "aconselhável" um
certo calendário, definido na véspera por coordenadores
de sua candidatura. Por esse organograma, o processo da candidatura
indireta de Tancredo deve começar na reunião da Executiva
Nacional do PMDB, marcada para hoje. O governador mineiro incluirá
em sua plataforma a convocação de uma Assembléia
Constituinte em 1986, que decidiria sobre as diretas.
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Editorial |
Nação frustrada
A retirada da emenda Leitão do Congresso é um fato que
se tornou previsível desde quando se foi desenhando, com a
proximidade de sua votação, a chance efetiva de aprovação
das diretas-já.
Pressionado pela campanha nacional em favor do voto popular, que mobilizou
e unificou a quase totalidade da população brasileira
politicamente ativa, o Planalto decidiu apresentar um projeto de emenda
constitucional contendo dispositivos liberalizantes, inclusive a restauração
do pleito presidencial direto a partir de 1988. O poder central permaneceu,
contudo, irredutível em face da reivindicação
maior da cidadania: diretas-já.
É verdade que, na exposição de motivos que acompanhou
o projeto, o presidente Figueiredo conclamou o Congresso Nacional
a "aprimorar as soluções ora submetidas à
sua alta apreciação", acrescentado em seguida:
"Não há limites no poder de emenda e, por conseguinte,
de aperfeiçoar o texto constitucional vigente".
Não tardaram, porém, a surgir declarações,
oriundas do Planalto, determinando como inegociável o prazo
de 1988 para a vigência do pleito direto. Em outras palavras:
o Colégio Eleitoral, para a escolha do próximo presidente,
seria intocável.
Com isso, o presidente Figueiredo perdia mais uma oportunidade de
mediante um gesto de estadista, recuperar a imagem de seu governo,
completamente desgastada perante a opinião pública reconciliando-se
com a nação e conquistando a consagração
da História. O ato de retirada da emenda é, sem dúvida
, regimental, da mesma forma que era regimental o pedido de destaque
de um de seus artigos, formulado pelas oposições e que
poderia redundar no triunfo das diretas-já.
O preço dessa atitude intransigente do Planalto talvez se mostre
demasiado alto, ampliando a já enorme distância entre
o governo e a sociedade, o que a emenda Leitão aparentemente
visava a encurtar, e agravando sobremaneira o impasse institucional.
A intransigência do governo é tanto mais contraditória
quando se levam em conta dois aspectos. Primeiro, que o fantasma de
possíveis candidatos presidenciais, pretensamente não
assimiláveis pelas forças mais conservadoras, já
foi exorcizado com o esgotamento do prazo de desincompatibilização.
Segundo, que a proclamada segurança do PDS de fazer o sucessor
do presidente Figueiredo, via Colégio Eleitoral, ficou seriamente
abalada. Como é notório, em fase da possibilidade de
uma candidatura única das oposições e da desagregação
crescente das fileiras do partido situacionista.
Diante deste quadro sombrio, repleto de perplexidade, parece só
restar uma certeza: a de que a sociedade brasileira, novamente frustrada
em suas legítimas aspirações, continuará
a lutar pelo direito de traçar o próprio destino.
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Restos
da retirada |
Janio de Freitas
A operação
destinada a manter sob pressão constante o Planalto e a imprensa,
o primeiro para retirar a emenda e a segunda para dar divulgação
grandiloquente aos riscos que justificassem o recuo do governo,
foi realizada com o apoio de andreazzistas, mas foi toda planejada
no escritório do deputado Paulo Maluf.
Os sucessivos levantamentos procedidos pelo ministro Leitão
de Abreu não comprovaram, em instante algum, os resultados
ameaçadores das contagens servidas ao Planalto e à
imprensa. E entre uma e outra aritmética, o jurista Leitão
de Abreu é por certo um matemático sério.
Uma diversão proveitosa para parlamentares, ainda mais se
do grupo Só Diretas, seria verificar quantos e quais são
os nomes que, necessária e notoriamente adversários
das diretas, de repente apareceram, ao final da tarde de anteontem,
entre os que a apoiariam até à morte.
Não muitas horas antes, o deputado Flávio Bierrenbach,
sério e ativo componente do Só Diretas, ao fim de
todas as apurações feitas pelo grupo continuava definindo
assim suas expectativas: "É muita ingenuidade supor
que a diretas-já será aprovada apenas com um 'putsch'
regimental".
E, no entanto, deu-se de repente o milagre bíblico da multiplicação
dos votos.
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Tática
de pressa |
Menos pelo novo bloqueio à direta-já do que pela intenção
de pedessistas da Frente Liberal de buscarem candidato próprio
- propósito aqui revelado anteontem - a partir de agora a candidatura
Tancredo Neves vai ter sua tática invertida, lançando-se
em campanha externa e acelerando ao máximo a formalização
de apoios.
Os peemedebistas pró-Tancredo, cientes de que a chamada dissidência
pedessista precisaria de tempo para entender-se em torno de uma candidatura
própria através do PTB, pretendem que o impulso da candidatura
peemedebista torne ocioso qualquer propósito contrário
dos pedessistas dissidentes. A estes restaria assim, para não
beneficiar o deputado Paulo Maluf com uma terceira corrente no Colégio
Eleitoral, assegurar seu apoio ao candidato do PMDB.
Mas, a comprovar que a tendência do vice-presidente Aureliano
Chaves em favor de Tancredo Neves não é seguida por
toda a Frente, uma vez noticiado o propósito de candidato próprio
o governador Roberto Magalhães decida expor publicamente sua
presença entre os proponentes desta fórmula. Apoiar
candidato do PMDB é uma solução antimalufista
que ele não quer adotar.
Se puder, é claro.
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Exemplo
e guarda |
Ah, Senhor, como é ameno viver sob a guarda e educar os filhos
sob o exemplo de homens de palavra: "Juro que farei deste País
uma democracia".
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