EM LIBERDADE PROVISORIA OS MARINHEIROS REBELDES

Publicado na Folha de S.Paulo, sabado, 28 de março de 1964

Neste texto foi mantida a grafia original

Rio, 27 (Folha) - Os marinheiros e fuzileiros navais rebeldes que se concentravam no Palacio dos Metalurgicos ficarão em liberdade até segunda-feira, quando se apresentarão presos às respectivas unidades. Na tarde de hoje, quando ainda se encontravam presos, foram eles recolhidos ao quartel do Batalhão de Guardas, de onde sairam às 18h30, em liberdade provisoria.
A libertação e posterior apresentação dos marujos decorre de um acordo entre autoridades federais, o Comando Geral dos Trabalhadores e representantes da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. O acordo prevê ainda a recondução do almirante Aragão ao comando do Corpo de Fuzileiros (já efetivada) e a nomeação do almirante Pedro Paulo de Araujo Suzano para a chefia do Estado-Maior da Armada.
O presidente Goulart aceitou a demissão do ministro Silvio Mota e nomeou em seu lugar o almirante Paulo Mario da Cunha Rodrigues, da Reserva Naval. O novo ministro assumiu o cargo à tarde, em solenidade a que a imprensa não teve acesso, cercado o Ministerio por tanques do Exercito.
Em reunião do Almirantado, varios de seus membros haviam instado com o alm. Silvio para que não se demitisse, a fim de que fosse fixada a responsabilidade do presidente Goulart pela crise.
Um fuzileiro naval morreu e três ficaram feridos, na sede da corporação (Ilha das Cobras), quando pretendiam fugir à prisão para unir-se aos companheiros rebelados.
Às 5 horas de hoje, o porta-aviões "Minas Gerais" e o cruzador "Tamandaré" deixaram a Guanabara com destino desconhecido. Sabe-se apenas que o porta-aviões dirigia-se para o Sul.

Marinheiros libertados: serão presos segunda-feira

Rio, 27 (Folha) - Os marinheiros e fuzileiros navais que se encontravam no Palacio dos Metalurgicos foram transferidos esta tarde para o quartel do Batalhão de Guardas. A seguir, foram liberados, após entendimentos mantidos pelo presidente Goulart com deputados da Frente de Mobilização Popular e lideres do Comando Geral dos Trabalhadores. Deverão os marinheiros apresentar-se presos segunda-feira em suas unidades.
Libertados, os marinheiros dirigiram-se, cantando o Hino Nacional, para a sede da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. Lá chegando, cantaram o Hino Nacional e retiraram-se para suas residências.

Transferência

Os marinheiros foram transferidos do Palacio dos Metalurgicos para o quartel do Batalhão de Guardas ao meio-dia. Concordaram com a transferencia após entendimentos mantidos pelos deputados da Frente de Mobilização Popular com seus lideres. Onibus e caminhões transportaram-nos até São Cristovão, onde fica o quartel.
O Comandante Geral dos Trabalhadores, durante os entendimentos com o presidente da Republica, ameaçou decretar greve geral caso os marinheiros não fossem libertados.

Incidente

O Exercito, durante a operação de transferencia, isolou novamente o quarteirão do Palacio dos Metalurgicos. Os componentes do CGT, em consequencia, determinaram a suspensão da transferencia. "Excesso de aparato militar" - justificaram. Depois de acertarem com o Exercito o relaxamento da vigilancia, os dirigentes do CGT concordaram com a transferencia dos restantes marinheiros. O ultimo onibus deixou o Palacio dos Metalurgicos às 16 h 30.

Tanques no ministerio

Quatro tanques de guerra, pertencentes à guarnição da Vila Militar - chefiada pelo general Oromar Osorio - deslocaram-se para a praça da Republica, onde está localizado o Ministerio da Guerra. Os tanques instalaram-se atrás do panteon de Duque de Caxias, a fim de reforçar a prontidão em que se encontra o corpo de guarda do predio. Outros veiculos blindados estão em prontidão na Guanabara, no Ministerio da Marinha e proximo do Palacio dos Metalurgicos, para evitar possiveis perturbações da ordem.

© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.