O EXÉRCITO ADVERTE COMUNISTAS

Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 1979

Os dirigentes comunistas anistiados "aqui encontrarão o Exército com as mesmas convicções de 1935 e 1964, vigilante, coeso e identificado com a imensa maioria do povo brasileiro. Apontaremos, sem hesitar o profissional da violência que empunha, perfidamente, a bandeira da paz; liberticida que se oculta no clamor dos falsos libertários; e desnudaremos, sem vacilar, a face criminosa do detrator que se esconde sob a máscara de pretensa vitima".
Estas são as principais afirmações do ministro do Exército, general Válter Pires, na ordem do dia que será lida hoje em todas as unidades do País, alusiva à Intentona Comunista de 1935.
Por sua vez, em nome da marinha, o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Carlos Auto de Andrade, declara em ordem do dia que "os heróis de 1935 morreram porque se recusaram a aceitar a mentira, não permitiram que a impostura comunista violentasse a índole brasileira. Porque repeliram a violência, em defesa da liberdade, e preferiram a altivez da independência, ao destino de satélites ou caudatários".

Pires adverte anistiados e diz que Exército vigia

Das Sucursais e do Serviço Local
Na ordem do dia que será lida hoje em todos os quartéis, alusiva ao 44° aniversário da Intentona Comunista, o ministro do Exército, Válter Pires, adverte os dirigentes comunistas anistiados que "aqui encontrarão o Exército com as mesmas convicções de 1935 e 1964, vigilante coeso e identificado com seus irmãos da Marinha e da Força Aérea e com a imensa maioria do povo brasileiro, que repele os pequenos grupos de radicais e extremados, incapazes de sobreviver fora da baderna ou do arbítrio".
"Hoje não nos deixaremos enganar pela estratégia multiforme da revolução que apregoam. Apontaremos, sem hesitar, o profissional da violência que empunha, perfidamente a bandeira da paz; enfrentaremos com destemor a sanha liberticida que se oculta no clamor dos falsos libertários; e desnudaremos, sem vacilar, a face criminosa do detrator que se esconde sob a máscara de pretensa vítima" - acrescenta Válter Pires.
Por outro lado, o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Carlos Auto de Andrade, afirma também em ordem-do-dia alusiva à data, que "os heróis de 35 morreram porque não permitiram que a impostura comunista violentasse a índole brasileira e repeliram a violência, em defesa da liberdade".

Exército

É a seguinte a íntegra da ordem-do-dia do ministro do Exército:
"Evocamos, nesta data, os sombrios acontecimentos que, em novembro de 1935, cobriram de luto a nossa Pátria. A época, um grupo de fanáticos, motivados por um credo político totalitário e conduzidos por uma central de subversão instalada distante de nossas fronteiras, proporcionou à nossa gente pacífica a visão terrível de um dos episódios mais dramáticos de nossa história.
"A anterior organização, entre nós, de sua agremiação política e a pertinaz pregação da violência e da luta de classe, que imediatamente se seguiu, não haviam sido suficientes para que o movimento comunista internacional obtivesse o apoio popular necessário à consecução de seus desígnios em nosso País.
"Em 1935, contudo, como pretexto aparente de resistência democrática e de oposição ao fascismo, então ameaçador, os agentes do comunismo, através de peculiar técnica revolucionária, formaram uma aliança política de amplitude nacional, para onde arrastaram ingênuos e oportunistas. Era a cobertura que necessitavam para infiltrar-se em nossas instituições, criando, deste modo, condições favoráveis à implantação de um Estado soviético no Brasil.
"Julgando próximos os resultados almejados e obedientes à palavra de ordem vinda do Exterior, fizeram eclodir a sinistra Intentona. De Natal, a rebelião propagou-se com rapidez até Recife e, na madrugada de 27 de novembro, atingiu o Rio de Janeiro, deixando atrás de si um repugnante rastro de sangue, terror e morte.
"A falsidade, o ódio e a traição, que haviam caracterizado a cruenta ação bolchevista no Nordeste, atingiram proporções inimagináveis no interior do 3° Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, e na antiga Escola de Aviação Militar, no campo dos Afonsos.
"Companheiros de farda, tomados de surpresa durante a noite escura, foram traiçoeiramente abatidos pelos supostos amigos do entardecer. Era uma nova forma de luta que desconheciam, assentada na ação torpe que, na busca dos seus objetivos, não despreza o crime e a desonra, valendo-se da calúnia, da mentira e do covarde assassínio.
"Vidas preciosas foram ceifadas e roubadas à Nação. Numerosas famílias, enlutadas.
"Derrotados pela firme determinação de nossas Forças Armadas e pela repulsa nacional às suas idéias, impuseram-se, os títeres do imperialismo marxistalenisnista, uma breve retirada que propiciasse a reformulação dos seus métodos.
"Reintegrados à vida do País, pela outorga de um perdão que jamais concedem a seus dissidentes e opositores, voltaram a ignorar a inquebrantável vocação de liberdade de nossas Forças Armadas e, outra vez, subestimaram a força emanada do espírito cristão do nosso povo, urdindo nova trama contra as nossas instituições democráticas.
"Assim ocorreu nos primeiros anos da década de 60, quando, aproveitando a complacência de um governo omisso, se infiltraram na administração pública e, após semearem o caos e a corrupção, julgaram chegada a hora da tomada do poder. Nesta nova investida, encontraram inexpugnáveis as muralhas dos nossos quartéis, então já edificadas sobre o sacrifício dos mártires de 1935. Dessa tentativa, resultou o memorável movimento de 31 de março de 1964, quando irmanados em causa comum, povo e Forças Armadas saíram às ruas para restabelecer a ordem e a moralidade, repudiando, de uma vez por todas, qualquer ideologia contrária à nossa índole e às nossas aspirações.
"Vencida a árdua fase pós-revolucionária, cujo esforço se concentrou no combate a persistentes surtos de terror, o Brasil, fiel aos princípios do movimento de março de 1964, voltou-se para a restauração da pela normalidade democrática.
"Nesse quadro, em coerência com os compromissos democráticos assumidos pelo excelentíssimo senhor presidente da República e traduzindo a essência da alma brasileira, não poderia faltar um novo perdão.
"Não se tinha ilusão de que o gesto largo da anistia, verdadeira mensagem de conciliação e paz, sensibilizaria os espíritos impregnados de fanatismo ideológico dos contumazes promotores da subversão. Sabia-se, sim, que o ato magnânimo tocaria fundo o nobre sentimento cristão da grande maioria do povo brasileiro, valendo a pena arrostar o risco da tolerância com essa minoria extremada, para levar avante o projeto de normalização da vida democrática do País.
"Acolhidos pelo nosso espírito conciliador, aí estão, entre os que regressam, líderes e comparsas dos amotinados de ontem. alguns trazem a consciência conturbada pelos males causados no passado; outros, um inconfessável espírito de revanchismo; a grande maioria, porém, declaradamente empenhada em promover as pressões das massas, a serviço de seus objetivos.
"Compreendam, no entanto, eles e os seus insanos sequazes - antes que se sintam tentados a uma nova aventura - que aqui encontrarão o Exército com as mesmas convicções de 1935 e 1964, vigilante, coeso e identificado com seus irmãos da Marinha e da Força Aérea e com a imensa maioria do povo brasileiro, que repele os pequenos grupos de radicais e extremados, incapazes de sobreviver fora da baderna ou do arbítrio.
"Hoje, amadurecidos pela dolorosa experiência do passado, não nos deixaremos enganar pela estratégia multiforme da revolução que apregoam. Apontaremos, sem hesitar, o profissional da violência que empunha, perfidamente a bandeira da paz; enfrentaremos, com destemor, a sanha liberticida que se oculta no clamor dos falsos libertários, e desnudaremos, sem vacilar, a face criminosa do detrator que se esconde sob a máscara de pretensa vitima.
"Nesta hora de reverência, com o pensamento voltado para os bravos companheiros tombados em 1935 e inspirados nos seus exemplos, renovemos o nosso juramento de soldados, com a disposição de oferecer a nossa vida, se necessário for, para que as gerações futuras recebam de nossas mãos uma Pátria livre, onde todos possam desfrutar de uma vida digna, em clima de paz, harmonia e Justiça Social".

Marinha

A integra da ordem do dia do chefe do Estado-Maior da Armada é a seguinte:
"Reverenciamos hoje a memória daqueles que tombaram, vítimas da intentona comunista de 27 de novembro de 1935, quando as insurreições de Natal, Recife e Rio de Janeiro chocaram a Nação brasileira pelo modo traiçoeiro de sua ação, pondo à mostra o perigo latente do comunismo internacional.
"É importante que relembremos aos brasileiros, especialmente às gerações mais jovens, a verdadeira face da ideologia comunista, para que jamais exista em nossa terra clima propício à repetição dessa página de nossa História. Não devemos nos esquecer por que morreram os heróis de 1935.
"Morreram porque se recusaram a aceitar a mentira, porque não permitiram que a impostura comunista violentasse a índole brasileira. Porque repeliram a violência, em defesa da liberdade. Porque preferiram a altivez da independência, ao destino de satélites ou caudatários. Porque tiveram a coragem de dizer não ao comunismo apátrida.
"Nós os homenageamos respeitosamente porque sua luta impediu que se instalasse no Brasil um regime cuja base filosófica assenta em considerações puramente materialistas e cuja prática importa na total submissão do Homem, sem o direito de pensar e agir livremente, porque compreenderam que tal regime é desumano quando admite que seus fins justificam seus meios.
"Ao prestarmos esta homenagem, reafirmamos nossa gratidão aos que, com seu sangue, impediram naquela ocasião que o comunismo se institucionalizasse no Brasil, através da sublevação e da traição, legando à posteridade a lição de que são invencíveis aqueles que se batem por um ideal superior de garantir a honra da Pátria, os ideais democráticos e os sagrados direitos do Homem".

Solenidades lembram hoje Intentona de 35

A Intentona Comunista será lembrada hoje em todas as unidades militares do País, com solenidades em homenagem às suas vítimas, nas quais serão lidas as ordens-do-dia dos ministros militares. No Rio, o presidente Figueiredo participará da solenidade e em São Paulo, o 2° Exército promoverá um ato de recordação no ginásio do Ibirapuera.
Sem nenhum pronunciamento do presidente da República, será realizada hoje, às 10 horas, no Rio, a solenidade em memória das 31 vítimas da Intentona. Pelas Forças Armadas, falará o general de brigada José Luiz Torres Marques.
O embarque de Figueiredo está previsto para às 7h30 na base aérea de Brasília, chegando ao Galeão ás 9 horas de onde se desloca para a praça General Tiburcio, na Urca, onde será realizada a cerimônia. Depois de passar em revista a guarda de honra, o general Figueiredo depositará uma coroa de flores junto ao monumento que relembra as vítimas da Intentona que terão seus nomes lidos antes do discurso do general Torres Marques, comandante da 2° Brigada de Infantaria, que falará em nome das Forças Armadas.
Ao término da solenidade, Figueiredo retorna ao Galeão, embarcando de volta a Brasília, uma vez que à tarde ele despachará no Palácio do Planalto.
Acompanharão o Presidente em sua viagem ao Rio todos os ministros militares da Marinha. Exército, Aeronáutica, Gabinete Militar, SNI e EMFA.

No Ibirapuera

Em São Paulo, as homenagens às vítimas da Intentona começarão às 10 horas, quando o comando do 2° Exército espera reunir 12 mil pessoas do Ibirapuera. Lá após a leitura da ordem-do-dia do ministro do Exército, a poetisa Lea Surian declamará o poema "Toque de Silêncio". Em seguida, a Policia do Exército disparará a salva fúnebre e o sr. Fernando Nobre Filho lembrará a data, em discurso.
Durante o culto religioso, o maior capelão do 2° Exército, José Inácio de Melo, dirá que "permanece ainda viva amarga e cruel da Intentona de 35, um acontecimento antipatriótico, desumano e anticristão, que abalou a sociedade brasileira. O Brasil, tradicionalmente pacífico, viu-se envolvido numa luta sangrenta de irmãos contra irmãos, nas horas caladas da noite, numa atitude de covardia, deslealdade e fanatismo".

Dom Scherer adverte

Em Porto Alegre, o cardeal dom Vicente Scherer homenageou as vitimas da Intentona, comparando-as a "heróis que lutam e morrem no cumprimento fiel do dever em defesa da soberania das instituições livres e democráticas da Nação".
Para o cardeal Scherer, "não admira que dirigentes do comunismo hoje elogiam a Igreja. Nossa luta contra a miséria imerecida e a favor de efetiva Justiça lhes parece conveniente e útil para apressar mudanças que eles na hora oportuna tentariam aproveitar para o triunfo de sua própria causa. Estão enganados. Queremos mudanças, mas não caminhamos para o lado deles nem aceitamos os métodos que empregam".
"Não queremos a caça aos comunistas e respeitamos a sua condição de pessoas humanas e de cidadãos livres, mas não cessamos de alertar que sua doutrina e atividade aberta e subterrânea conduzem a uma organização social intolerável e desumana e, além disso, destruidora implacável de todas as formas de religião" - concluiu o cardeal.

Outras homenagens

Em Manaus, as solenidades e, homenagem às vitimas da Intentona serão realizadas hoje, no QG do Comando Militar da Amazônia, sob as presidência do general Rosaldo Eduardo Jansen. Além de representantes da Aeronáutica e da Marinha, participarão das solenidades o governador José Lindoso, e outras autoridades. Na ocasião, será lida a ordem-do-dia do ministro do Exército.
Em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade promoverá missa às 18h, na Catedral Melquita do Paraíso, em homenagem às vítimas da Intentona.

© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.