A PARAHYBA CONFLAGRADA

Mil e quinhentos policiaes apertam o cerco de Princeza que está bem defendida pelos sertanejos

Publicado na Folha da Manhã, quinta-feira, 27 de março de 1930

Neste texto foi mantida a grafia original

Recife, 26 - As noticias mais recentes do interior da Parahyba dizem que continua o exodo da cidade de Princeza e que o deputado José Pereira Lima, que chefia as forças revoltosas, tem procurado recrutar, nas localidades visinhas, algum pessoal, afim de reforçar suas hostes.
Estas contam mil homens bem armados e municiados.
O governo faz marchar sobre aquella cidade, que é o quartel general de José Pereira, uma columna de 1.500 homens da Força Publica do Estado, presumindo-se que já se tenha dado o ataque decisivo, pois essa columna, à data das ultimas communicações, achava-se apenas a tres leguas de distancia.
O juiz de direito de Princeza, que conseguiu deixar a cidade, com sua familia, declarou em Triumpho, cidade pernambucana proxima, que José Pereira nas suas exortações aos revoltosos diz ter o apoio completo do Governo Federal e dos Estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte, dos quaes acredita lhe chegarão, opportunamente, reforços.
O referido magistrado pretende seguir para a Parahyba.

O deputado José Pereira telegrapha ao sr. João Pessoa

Recife, 26 - O sr. José Pereira, que chefia o movimento de Princeza, na Parahyba, dirigiu ao presidente João Pessoa o seguinte telegramma:
"Tendo v. excia. feito declarar pelo seu jornal que existem em Princeza varios criminosos de morte, roubo e furto, cujos nomes v. excia. indica, venho pelo presente pedir-lhe o favor de enviar a autoridade que v. excia. determinar, com o fim de proceder uma pesquisa dentro de todo o municipio de Princeza, para verificar que v. excia. falseia mais uma vez a verdade. Os sertanejos que, nesta hora amarga, defendem Princeza contra a horda de assalariados criminosos que v. excia. alliciou para tentar enxovalhar e massacrar o povo laborioso de minha terra, tão livre e destemido. Desde já declaro que o enviado de v. excia. terá, não só dentro do municipio que até agora administro como nos demais logares onde se está reflectindo minha acção moralisadora, todas as garantias constitucionaes. Ao mesmo tempo que lhe faço a solicitação acima, offereço-me para indicar a v. excia. os nomes de todos os criminosos que existem na policia. Saudações. (a) José Pereira".

A policia espera ter victoria esmagadora em Princeza

Parahyba, 26 - Informações da noite passada dizem que a policia aperta o cerco de Princeza, enviando mais alguns contingentes para o theatro dos acontecimentos.
As tropas do governo, melhor distribuidas em varias columnas convergentes, dispondo de abundante material bellico, diminuem o circulo da acção.
O serviço de abastecimento, assim como de assistencia medica, é feito por caminhões e automoveis, que marcham a retaguarda das forças, sob forte escolta.
O delegado geral telegraphou de Nova Olinda, localidade situada a pequena distancia de Princeza, dizendo-se confiante na victoria, que seria esmagadora.
Sabe-se aqui que a policia conduz 3.000 kilos de dynamite.

O sr. João Pessoa telegrapha ao juiz de Princeza, refugiado em Pernambuco

Parahyba, 26 - O juiz de direito de Princeza refugiou-se em Triumpho, no Estado de Pernambuco, de onde officiou ao governo parahybano, relatando que naquella cidade não se encontra mais nenhuma familia, estando o commercio fechado.
O presidente João Pessoa telegraphou àquelle juiz, sr. Climaco Xavier da Cunha, convidando-o a voltar ao Estado.

A consternação publica pelos lamentaveis acontecimentos

Parahyba, 26 - Os ultimos acontecimentos verificados no alto sertão, determinando choques armados entre a policia e os elementos do deputado José Pereira, estão causando grande consternação publica.
O "Diario da Parahyba", em seu numero de hoje, profliga os attentados da policia, em nome da civilisação e da humanidade.

Habeas-corpus concedido a jornalistas ameaçados pela policia

Parahyba, 26 - O Tribunal de Justiça, em sua sessão de hontem, concedeu habeas-corpus preventivo ao dr. Eduardo Pinto, redactor chefe do "Diario da Parahyba", e a mais cinco auxiliares, todos ameaçados de violencias pela policia.
Desses auxiliares, tinham soffrido prisão arbitraria os srs. José Borges e Ranovaldo Martins.
A decisão do Tribunal confirma as violencias exercidas contra os partidarios das candidaturas nacionaes.

© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.