ENTREGA-SE NO ACRE ASSASSINO DO SERINGUEIRO


Publicado na Folha de S. Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1988




O assassino do sindicalista Francisco Mendes Filho se entregou na Secretaria de Segurança Pública do Acre, às 15h de Brasília. Darci Alves Pereira, filho do fazendeiro Darli Alves da Silva, foi levado para o 4º Batalhão de Fronteira. O presidente Sarney havia determinado a apuração imediata do assassinato, ocorrido na semana passada. O diretor-geral da Polícia Federal, Romeu Tuma, e o secretário-geral do Ministério da Justiça, José Fernando Cirne Lima Richenberg, chegaram ontem a Rio Branco.

Filho de fazendeiro se entrega e confessa ter matado Chico Mendes

Da Sucursal e do Correspondente

O filho do fazendeiro Darli Alves da Silva, Darci Alves Pereira, 21, se entregou ontem às 12h (15h de Brasília) ao secretário de Segurança do Acre, Carlos Castelo Branco, confessando ter sido o autor do disparo que matou o líder sindical Francisco Mendes Filho, 44, na última quinta-feira. O fazendeiro era apontado pela polícia como o principal suspeito do crime.
O filho do fazendeiro se apresentou acompanhado de um advogado. O secretário de Segurança achou prudente transferir Darci para o quartel do Exército do 4o Batalhão Especial de Fronteira, localizado no bairro do Bosque, em Rio Branco.
O comandante Lélio de Castro Duarte disse que o Exército não tem nada a ver com o processo, mas aceitou o preso em razão do pedido do secretário.
Também foi preso ontem em Brasiléia (240 km de Rio Branco) o capataz da fazenda Paraná, de propriedade de Darli Alves da Silva. A prisão foi determinada pelo delegado especial da Secretaria da Segurança, Nilson Alves de Oliveira, que preside o inquérito. Segundo o secretário Castelo Branco, haveriam "fortes pistas contra o capataz". A Comissão Pastoral da Terra informou que o capataz, no dia do crime, cometido às 18h45, saiu de Xapuri às 15h para Brasiléia, onde chegou apenas às 3h do dia seguinte. A duração normal da viagem é de uma hora.

"Inadmissivel"

A Secretaria de Imprensa do Planalto informou ontem que o presidente José Sarney "determinou a apuração imediata dos fatos" relativos ao assassinato de Chico Mendes, ocorrido em Xapuri (188 km a sudoeste de Rio Branco). Segundo a secretaria, o presidente Sarney "ficou consternado com o que aconteceu" e qualificou o assassinato de Chico Mendes de "inadmissível".
Através do ministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes, Sarney determinou que o secretário-geral do Ministério da Justiça José Fernando Cirne Lima Eichenberg, e o diretor-geral do Departamento da Polícia Federal, Romeu Tuma, fossem a Xapuri para acompanhar as investigações. Os dois chegaram ontem a Rio Branco (AC) às 12h15, e no final da tarde os dois foram com o secretário da Segurança para Xapuri. Eichenberg disse que "o crime não ficará impune, com a identificação do executor e do mandante. A vontade política das autoridades federais é de que a justiça seja exercida. O inquérito não vai ficar na prateleira".
Com eles, foram os secretários do ministério Roberto Ramos, do Conselho de Direitos de Defesa da Pessoa Humana, e Antonio Luis Calderaro, de Justiça e Segurança. A comitiva do ministério foi recebida no aeroporto pela atriz Lucélia Santos, do PV, e outros manifestantes, representando 36 entidades do comitê de solidariedade a Chico Mendes. Eles entregaram a Einchenberg, um abaixo-assinado com as seguintes reivindicações: 1. imediata punição dos assassinos, mandantes e mentores; 2. afastamento do superintendente local da Polícia Federal, Mauro Sposito; 3. apuração da vinculação da UDR local com o crime organizado; 4. averiguação nas fazendas de Xapuri e Brasiléia para checar quem é foragido da Justiça e trabalha como pistoleiro ou jagunço e apreender armas dos fazendeiros; 5. proteção aos líderes sindicais e autoridades religiosas ameaçados de morte no Estado.
Romeu Tuma disse que o Ministério da Justiça, ao receber as denúncias de que Chico Mendes era ameaçado de morte, "alertou o governo do Estado sobre responsabilidade" para que adotasse medidas cabíveis.
"Infelizmente as providências que tomaram não surtiram efeito. Isso cabe à polícia do Estado", disse. Tuma explicou que "existem competências jurisdicionais para determinados crimes e proteção das pessoas que se sentem ameaçadas —que são da alçada dos governos do Estado". A afirmação foi feita após indagação sobre a possibilidade de afastamento de Mauro Sposito, superintendente local do PF, "por omissão" no caso.
O sindicalista Sebastião Lopes Neto, da Executiva nacional da CUT, que veio a Rio Branco acompanhar a mobilização em solidariedade a Chico Mendes, disse que a morte do líder sindical "foi a mais anunciada".


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