SEGURANÇA DE COLLOR ESMURRA PETISTA NO RIO


Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1989

Um segurança do candidato Fernando Collor de Mello (PRN) deu um soco que arrancou dois dentes de um estudante petista ontem à tarde no Rio. O incidente ocorreu quando Collor e sua comitiva se dirigiam à favela da Rocinha, a maior da cidade, após inaugurar um comitê na Gávea.
Brizolistas e petistas lançaram uma pedra e um ovo num dos carros. O segurança, de nome não identificado, desceu e agrediu o estudante, chamado Leandro. Carros da PM interceptaram a comitiva. Houve discussão, mas não prisões. Na favela, Collor falou a cerca de 500 pessoas. Ao menos 88 homens, faziam a segurança.

Collor faz campanha no Rio com 88 seguranças; estudante é agredido

Mauro Lopes
Enviado especial ao Rio

Um pequeno exército de pelo menos 88 homens ficou encarregado de proteger Fernando Collor de Mello (PRN) ontem no Rio. Havia tensão entre os colloridos, temerosos de um incidente com brizolistas na favela da Rocinha, onde o candidato discursou num comício para cerca de 500 pessoas. Nada aconteceu. Mas houve confusão entre seguranças de Collor e policiais militares depois da inauguração de um comitê no bairro da Gávea (zona sul).
Collor chegou ao Rio às 12h20. Estavam a postos para protegê-lo: 18 seguranças do esquema particular do candidato e dez contratados pela direção da campanha de Collor no Rio; 20 agentes da Polícia Federal; dez policiais militares do comitê da Gávea; e 30 PMs na Rocinha. É possível que fossem mais, pois os números referem-se apenas àqueles seguranças que este repórter conseguiu contar.
A inauguração do comitê na Gávea durou cerca de meia hora. Às 13h20 o candidato partiu para a Rocinha (a maior favela do Rio, também na zona Sul), num Opala. Foi quando começou o tumulto. De um grupo de petistas e brizolistas que vaiavam o candidato foram lançados sobre um dos carros da comitiva uma pedra e um ovo.
Quatro Opalas que compunham a comitiva ficaram retidos na esquina das ruas Marquês de São Vicente (onde fica o comitê) e Duque Estrada. De um deles saltou um segurança de Collor, fortíssimo. Desferiu um soco na boca do estudante petista Leandro (de 18 anos, aparência de classe média), arrancando dois dentes do rapaz.
O segurança saiu correndo em direção ao comitê, no meio da rua Marquês de São Vicente. O estudante agredido, com outros rapazes e alguns PMs correram atrás dele. O homem foi alcançado. Policiais, seguranças de Collor, o estudante e seus amigos agarraram-no, cada um puxando o agressor para seu lado. Venceram os seguranças, que embarcaram seu colega num dos Opalas.
Ainda na Gávea, num sinal de trânsito na praça Sibelius, a comitiva foi interceptada por dois carros da PM. Desceram dos carros dez policiais, de armas nas mãos, um deles com metralhadora. Os seguranças de Collor também desceram, cerca de 15. Os seguranças "locais", contratados pela direção da campanha no Rio - eram três naquele momento - caminharam em direção aos policiais, com uma das mãos nas costas, como se fossem puxar revólveres.
Policiais e seguranças gritaram uns com os outros. Enquanto isso, sozinho, Leandro começou a olhar nos carros, tentando achar seu agressor. Como os policiais não o acompanharam, desiste. Acabou a confusão. A comitiva seguiu para a Rocinha. Os policiais foram embora, levando o estudante, que ainda sangra na boca.
Na Rocinha, a tensão era grande. os seguranças chegaram atrasados e perderam Collor, que resolveu, em vez de ir diretamente para o local do comício, uma praça, descer a rua Dois. Ninguém na praça sabia onde estava o candidato. Finalmente, às 14h05, ele chegou, acompanhado de seu assessor de imprensa, Cláudio Humberto Rosa e Silva, de seus ajudantes-de-ordens, tenente Dário Barros Cavalcante e sargento Luis Amorim, e de dez favelados. No caminho, Collor ouviu um ou outro grito de "Brizola!", nada mais.
Collor disse que será "o presidente do Brasil e da Rocinha". Os agentes da PF não estavam na Rocinha. Foram dispensados por Cláudio Humberto Rosa e Silva.
Depois de falar a cerca de 300 mulheres no Hotel Nacional, em São Conrado, próximo à Rocinha, Collor foi para outras cidades do Estado: Petrópolis, Resende, Vassouras e Teresópolis. As visitas a Barra Mansa e Volta Redonda (onde fica a Companhia Siderúrgica Nacional) foram canceladas. Os colloridos fluminenses souberam que os sindicatos locais, dirigidos por brizolistas e petistas armavam uma manifestação contra seu candidato.


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