Mauro Lopes
Enviado especial ao Rio
Um
pequeno exército de pelo menos 88 homens ficou encarregado
de proteger Fernando Collor de Mello (PRN) ontem no Rio. Havia tensão
entre os colloridos, temerosos de um incidente com brizolistas na
favela da Rocinha, onde o candidato discursou num comício
para cerca de 500 pessoas. Nada aconteceu. Mas houve confusão
entre seguranças de Collor e policiais militares depois da
inauguração de um comitê no bairro da Gávea
(zona sul).
Collor chegou ao Rio às 12h20. Estavam a postos para protegê-lo:
18 seguranças do esquema particular do candidato e dez contratados
pela direção da campanha de Collor no Rio; 20 agentes
da Polícia Federal; dez policiais militares do comitê
da Gávea; e 30 PMs na Rocinha. É possível que
fossem mais, pois os números referem-se apenas àqueles
seguranças que este repórter conseguiu contar.
A inauguração do comitê na Gávea durou
cerca de meia hora. Às 13h20 o candidato partiu para a Rocinha
(a maior favela do Rio, também na zona Sul), num Opala. Foi
quando começou o tumulto. De um grupo de petistas e brizolistas
que vaiavam o candidato foram lançados sobre um dos carros
da comitiva uma pedra e um ovo.
Quatro Opalas que compunham a comitiva ficaram retidos na esquina
das ruas Marquês de São Vicente (onde fica o comitê)
e Duque Estrada. De um deles saltou um segurança de Collor,
fortíssimo. Desferiu um soco na boca do estudante petista
Leandro (de 18 anos, aparência de classe média), arrancando
dois dentes do rapaz.
O segurança saiu correndo em direção ao comitê,
no meio da rua Marquês de São Vicente. O estudante
agredido, com outros rapazes e alguns PMs correram atrás
dele. O homem foi alcançado. Policiais, seguranças
de Collor, o estudante e seus amigos agarraram-no, cada um puxando
o agressor para seu lado. Venceram os seguranças, que embarcaram
seu colega num dos Opalas.
Ainda na Gávea, num sinal de trânsito na praça
Sibelius, a comitiva foi interceptada por dois carros da PM. Desceram
dos carros dez policiais, de armas nas mãos, um deles com
metralhadora. Os seguranças de Collor também desceram,
cerca de 15. Os seguranças "locais", contratados
pela direção da campanha no Rio - eram três
naquele momento - caminharam em direção aos policiais,
com uma das mãos nas costas, como se fossem puxar revólveres.
Policiais e seguranças gritaram uns com os outros. Enquanto
isso, sozinho, Leandro começou a olhar nos carros, tentando
achar seu agressor. Como os policiais não o acompanharam,
desiste. Acabou a confusão. A comitiva seguiu para a Rocinha.
Os policiais foram embora, levando o estudante, que ainda sangra
na boca.
Na Rocinha, a tensão era grande. os seguranças chegaram
atrasados e perderam Collor, que resolveu, em vez de ir diretamente
para o local do comício, uma praça, descer a rua Dois.
Ninguém na praça sabia onde estava o candidato. Finalmente,
às 14h05, ele chegou, acompanhado de seu assessor de imprensa,
Cláudio Humberto Rosa e Silva, de seus ajudantes-de-ordens,
tenente Dário Barros Cavalcante e sargento Luis Amorim, e
de dez favelados. No caminho, Collor ouviu um ou outro grito de
"Brizola!", nada mais.
Collor disse que será "o presidente do Brasil e da Rocinha".
Os agentes da PF não estavam na Rocinha. Foram dispensados
por Cláudio Humberto Rosa e Silva.
Depois de falar a cerca de 300 mulheres no Hotel Nacional, em São
Conrado, próximo à Rocinha, Collor foi para outras
cidades do Estado: Petrópolis, Resende, Vassouras e Teresópolis.
As visitas a Barra Mansa e Volta Redonda (onde fica a Companhia
Siderúrgica Nacional) foram canceladas. Os colloridos fluminenses
souberam que os sindicatos locais, dirigidos por brizolistas e petistas
armavam uma manifestação contra seu candidato.
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