Magalhães desliga-se do governo Castelo Branco
|
Publicado
na Folha de S. Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 1965
|
|
Neste texto foi mantida a grafia original
|
BELO HORIZONTE, BRASILIA E RIO, 24 (FOLHA) - O governador Magalhães
Pinto voltou a afirmar hoje, em Belo Horizonte, que persistem suas
divergencias com o governo federal, mesmo no que diz respeito às
eleições nos Estados, e deixou transparecer que a partir
de agora se considera desvinculado do governo central e ligado as
chamadas forças populares e nacionalistas.
Na entrevista concedida pelo governador merecem destaque os seguintes
pontos: afirmou que "nunca temi as urnas, mas sou contra os processos
classicos usados pela revolução no encaminhamento do
problema sucessorio"; condenou a orientação que
vem sendo imprimida à politica externa do Brasil, que considera
"entreguista"; e disse que continua divergindo do governo
central em profundidade.
O sr. Magalhães Pinto afirmou ainda que não há
intranquilidade em Minas Gerais; o que há - segundo ele - é
decepção dos mineiros em relação ao governo
federal.
Declarou o governador mineiro que a prorrogação do mandato
do presidente Castelo Branco e do seu proprio não pode ser
interpretada como manobra continuista, egoista ou ambiciosa, mas deve
ser tomada apenas como evidencia de que a Revolução
oferece aos seus autores instrumentos necessarios à execução
dos ideais revolucionarios.
|
Lacerda:
"Usurpação" |
Na Guanabara o governador Carlos Lacerda, depois de criticar violentamente
o projeto de lei de inelegibilidades, afirmou que "prorrogação
é sinonimo de usurpação e usurpação
não tem mais lugar no Brasil". Disse mais que "é
chegada a hora do povo de farda, o povo sem farda, o povo das armas
e o povo nas urnas decidir o que realmente quer e não o que
lhe desejam impor, através da mentira e da falsidade".
|
"Subversão" |
Em Brasilia, na sessão da Camara dos Deputados, o petebista
mineiro João Hercolino afirmou que "há uma subversão
da ordem em marcha neste país, comandada pelo governador Magalhães
Pinto, e que não tem por objetivo o aprimoramento do regime
democratico, mas a derrubada do presidente Castelo Branco e a instalação
de um governo de extrema direita".
O governador Ademar de Barros, e, em coro com ele, os dirigentes do
PSP, considera que a crise criada com as manifestações
do sr. Magalhães Pinto contra a realização de
eleições "é de curta duração,
uma vez que todos querem eleições".
O governador paulista reiterou sua confiança no presidente
da Republica e frisou que o mal. Castelo Branco deseja eleições
como caminho para a normalização da vida politica e
do processo democratico do país.
|
Magalhães
reafirma divergencias profundas com governo federal |
Senado Federal
Artur Virgilio condena a Lei de inelegibilidades
BRASILIA, 24 (FOLHA) - O sr. Artur Virgilio (PTB-AM) fez hoje seu
reaparecimento no Senado para condenar o projeto das inelegibilidades,
tachando-o de "antidemocratico e farisaico", pois só
visa atingir "alguns politicos e candidatos a postos eletivos,
capazes de derrotar os do governo".
Depois de acentuar que o projeto é casuistico, citando os casos
dos srs. Helio de Almeida e Sebastião Pais de Almeida, afirmou
que ele contem dispositivos perigosos, "cuja amplitude é
tal que poderá representar, amanhã, terrivel arma de
obstrução do processo democratico". Desse projeto
- acrescentou - sairá, tudo o indica, uma lei que não
honra as tradições do Direito Constitucional Brasileiro,
representando um processo de muitos anos na caminhada deste país.
|
Intervenções |
Em apartes, os srs. Pedro Ludovico (PSD-GO) e Eurico Rezende (UDN-ES)
acentuaram, o primeiro, que o projeto "é indecente, imoral
e adredemente preparado para atingir adversarios do governo, que se
diz moralista e honesto"; e o segundo que o país se encontra
em fase revolucionaria, em pleno andamento, e o Poder Executivo tem
de captar toda a instrumentalização necessaria para
realizar o seu programa socio-economico e administrativo e, portanto
"as leis severas não devem surpreender".
"A superação deste periodo de transição
- disse - está dependendo exclusivamente da compreensão
do Congresso Nacional e da propria opinião publica".
|
Krieger |
Foi à tribuna a seguir, o sr. Daniel Krieger, lider do governo,
para defender ligeiramente o projeto como "instrumento necessario"
e rebater enfaticamente as acusações formuladas à
atuação da UDN criticada pelos srs. Artur Virgilio e
Pedro Ludovico, como sendo "um partido que pretende manter um
clima de pressão permanente, a fim de empolgar o poder através
das baionetas ao invés de conquistá-lo nas ruas, nos
comicios, nos pleitos eleitorais".
"Meu partido - disse o sr. Krieger - e hão de fazer justiça
os senhores senadores, tem tido uma grande missão na vida democratica
deste país, e, neste governo, sem usufruir qualquer proveito,
tem arcado com todos os onus do desgaste que o acarreta, porque a
nossa vocação é a de servir à patria e
ao regime democratico."
|
Emenda
constitucional |
O sr. Ermirio de Moraes (PTB - PE), com a assinatura de mais 18 parlamentares,
encaminhou projeto de emenda constitucional que dá nova redação
ao paragrafo 1.o do art. 135 da Constituição Federal,
objetivando entregar a exploração do subsolo apenas
a brasileiros ou a sociedades organizadas no país, com capital
majoritariamente brasileiro, sob a direção de brasileiros.
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|