CONGRESSO REPELE CERCO POLICIAL E VOTA HOJE A EMENDA DAS DIRETAS


Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 1984



Clóvis Rossi
Enviado especial a Brasília

Na véspera da votação da emenda Dante de Oliveira, o Congresso Nacional passou pouco mais de três horas (até cerca de 21 horas) cercado por um contingente da Polícia Militar, que foi retirado apenas após uma reunião dos três ministros militares, que decidiram atender aos insistentes apelos dos parlamentares para que o cerco fosse levantado. O sítio ao Congresso começou pouco antes das seis da tarde, depois que um grupo de aproximadamente 800 estudantes, concentrados no saguão do Congresso, decidiu promover uma vigília cívica e ali permanecer até a votação da emenda. Houve duas explicações oficiais para as providências governamentais: o porta-voz do general Newton Cruz, executor das medidas de emergência, disse que simplesmente foi antecipado em 24 horas o esquema de segurança que seria adotado apenas hoje, para impedir o acesso ao Congresso de todas as pessoas que não estiverem devidamente credenciadas. O bloqueio serviria também para impedir uma passeata dos estudantes, do Congresso até a torre de televisão. Para o porta-voz da Presidência, Carlos Atila, tudo não passou de "reforço de policiamento". Atila rejeitou a classificação de "cerco", considerando a palavra muito drástica. Os policiais ficaram nas calçadas das três rampas de acesso ao Congresso e, segundo Dalla, não invadiram, em momento algum, a área do Parlamento. Dez minutos depois de montada a operação, começou a "jornada do barulho" em Brasília: os carros dispararam suas buzinas por toda a cidade, procurando concentrar-se especialmente na Espanha dos Ministérios, bem à frente dos contingentes policiais. O ruído chegou claramente ao palácio do Planalto, em uma festa sonora como a Capital jamais vira antes. As Forças Armadas da área do Distrito Federal entraram em regime de semiprontidão. A votação da emenda Dante de Oliveira começa às 9 horas e é impraticável fazer qualquer prognóstico a respeito do resultado.

A população não aprova emergência

* A maioria da população paulistana desaprova as medidas de emergência decretadas pelo presidente Figueiredo. A constatação é da Pesquisa "Folha", realizada em São Paulo: 66,4% dos entrevistados afirmam que o Presidente não agiu corretamente.

* Todos os oito governadores do PMDB chegarão juntos hoje ao Congresso Nacional para acompanhar a votação. O governador Franco Montoro disse que essa decisão expressa "a unidade do partido e a vontade de mais da metade da população brasileira"

* Figueiredo considera o governo Tancredo Neves "um nome confiável para a conciliação nacional", aceito tanto pelo sistema como por ele próprio, revelou ontem o deputado João Paganella (PDS-SC), após ser recebido pelo presidente da República.

* Rojões, buzinas, sirenes, panelas - tudo que fizesse barulho foi usado pela população de São Paulo a partir das 20 horas de ontem para uma última manifestação pela aprovação da emenda Dante de Oliveira e a volta imediata das eleições presidenciais diretas.

* A edição de ontem do "Jornal Nacional", da TV Globo, foi cortada em 18 minutos. Com isso, a emissora não veiculou qualquer notícia sobre política nacional. O Dentel ameaçou lacrar o equipamento das emissoras que transmitirem notícias sobre a situação em Brasília.

* O diretor-geral do Dentel, coronel Antônio Fernandes Neiva, deteve por uma hora os fotógrafos Jorge Araújo, da "Folha", Antônio Dorgivam, do "Jornal do Brasil" e Kim-Ir-Sem, da Agência Ágil, porque fotografavam a sala da censura às telecomunicações.


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