PC FARIAS É ASSASSINADO EM MACEIÓ
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Publicado
na Folha de S. Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 1996
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* Empresário foi achado junto ao corpo da namorada em casa de praia
* Policia fala em crime passional, mas não afasta 'queima de arquivo'
* Tesoureiro da campanha de Collor deporia na sexta-feira no Supremo
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O empresário Paulo César Cavalcante Farias, 50, foi
morto na madrugada de ontem na sua casa de praia em Guaxuma, Maceió.
Ao lado do corpo dele estava o da namorada, Suzana Marcolino da Silva,
28. Os dois morreram com tiros no peito.
A polícia trabalha com a hipótese de crime passional:
Suzana teria atirado em PC e se suicidado. O secretário Rubens
Quintela (Justiça) admite a possibilidade de "queima de
arquivo". Para Augusto Farias, irmão de PC, ele "sabia
muita coisa e por isso pode ter sido assassinado".
Tesoureiro da campanha de Fernando Collor, PC foi condenado por falsidade
ideológica e estava em liberdade condicional. Investigações
sobre esquema de corrupção montado pelo empresário
levaram ao impeachment em 92. PC deporia sexta no Supremo.
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PC
Farias é morto com tiro em Alagoas |
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
O empresário Paulo César Cavalcante Farias, 50, ex-tesoureiro
da campanha do ex-presidente Fernando Collor, foi assassinado, com
um tiro à queima-roupa, na madrugada de ontem em sua casa na
praia de Guaxuma, litoral norte de Maceió (AL).
O corpo de PC foi encontrado às 11h por seus seguranças
e estava na cama ao lado de sua namorada, Suzana Marcolino da Silva,
28, também morta. A polícia disse ter encontrado um
revólver Taurus, calibre 38, ao lado de Suzana. A arma foi
encaminhado para perícia.
Investigações da polícia de Alagoas apontam para
a possibilidade de o crime ter sido passional.
Segundo o secretário de Segurança Pública de
Alagoas, coronel da PM Antonio Azevedo Amaral, a autópsia confirmou
a existência de pólvora na mão da namorada de
PC - um indício de que ela foi a autora do disparo que o matou.
Mas, na opinião do diretor-técnico do Instituto de Criminalística
de São Paulo, José Barth, "o fato de a pólvora
estar na mão da vítima não é prova determinante".
Para a polícia alagoana, Suzana matou PC com um tiro no peito,
que perfurou os dois pulmões. PC teve morte súbita.
A polícia crê que Suzana matou PC enquanto ele dormia
e, em seguida, sentou-se na beira da cama e atirou contra o próprio
peito. Eles namoravam havia um ano e quatro meses.
PC havia obtido a liberdade condicional em 28 de dezembro de 95.
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Família |
Um dos irmãos de PC, Luís Romero, é cauteloso
sobre as versões para o crime: "Paulo César era
uma figura emblemática e por isso deve-se manter cautela
e esperar as autoridades fazerem o seu relato".
Segundo o irmão, "Paulo César não vinha
sofrendo ameaças e a família sabia muito pouco do
relacionamento com a namorada".
"Todo crime sem testemunha ocular leva a política a
admitir todas as hipóteses, inclusive a de queima de arquivo,
apesar de a possibilidade de crime passional ser a mais forte no
momento", afirmou o secretário de Justiça de
Alagoas, Rubens Quintela, 72.
Por determinação do ministro da Justiça, Nelson
Jobim, a Polícia Federal entrou nas investigações.
Segundo Bergson Toledo, superintendente da PF em Alagoas, a determinação
do ingresso da PF no caso foi tomada devido aos processos e inquéritos
que PC respondia, todos de ordem federal.
Quase três anos após o afastamento de Collor, PC não
havia se livrado das acusações de montar um esquema
de corrupção.
No próximo dia 28, PC deporia no Supremo Tribunal Federal
junto com a ex-ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello,
ambos acusados de terem beneficiado, por tráfico de influência,
empresários do setor de transportes.
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Vinculações
políticas
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PC era considerado e se considerava um "arquivo vivo"
do país. Apesar de dizer que a causa mais provável
das mortes tenha sido passional, a polícia vai investigar
a possibilidade de o assassinato de PC ter vinculações
políticas.
PC trabalhava quatro horas semanais na Secretaria de Justiça
de Alagoas. Era parte da pena por sua condenação,
pelo STF, a sete anos de prisão por falsidade ideológica.
"Falar em queima de arquivo é um delírio. O Paulo
César vinha provando que não praticou nenhum ato de
corrupção", disse Nabor Bulhões, advogado
de PC.
O corpo de PC foi encontrado pelos cinco seguranças de sua
casa de praia. PC havia pedido que fosse acordado às 11h.
Como nem PC nem Suzana atenderam aos chamados dos seguranças,
eles arrombaram a porta do quarto.
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Pijama
cinza
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Segundo a polícia, eles encontraram PC na cama de barriga
para cima, com pijama cinza, enrolado em um cobertor e com um tiro
do lado do mamilo direito.
No lado esquerdo da cama, estava a namorada, com um tiro no peito.
A bala atravessou o corpo e furou um biombo de madeira.
A polícia encontrou, no video-cassete do quarto, a fita do
filme "Bonecos Assassinos", que teria sido alugada por
Suzana.
O primeiro parente a chegar na casa foi o irmão de PC Augusto
Farias, deputado federal e candidato do PPB à Prefeitura
de Maceió.
Segundo o primo e porta-voz dos Farias, Gabriel Mousinho, a família
acredita na hipótese de "assassinato de PC seguido de
suicídio", devido aos ciúmes dela e das recentes
discussões do casal.
Segundo Mousinho, no carro da namorada de PC foram encontrados vestígios
de que ela havia trazido o revólver para matar PC: "Havia
balas no carro dela".
Os seguranças afirmaram aos policiais que não ouviram
tiros. Segundo eles, PC os havia dispensado do trabalho por volta
de 2h.
Às 15h55, os corpos de PC e da namorada foram levados para
o Instituto Médico Legal. O diretor do IML, Marcos Peixoto,
disse que já tinha como provar que PC morreu antes da namorada.
Cícero Torres, delegado que preside o inquérito, descartou
a hipótese de Suzana estar grávida. A tese surgiu
durante a tarde como o motivo da briga do casal. Segundo a família,
PC fez uma vasectomia.
A família Farias marcou o enterro de PC para as 15h, depois
de saber que a Suzana será enterrada às 10h. Os dois
serão enterrados no mesmo cemitério.
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