FOLHA INOVA E CRIA O CARGO DE OMBUDSMAN

A partir de hoje a Folha é o primeiro jornal brasileiro a ter um ombudsman, jornalista encarregado de criticar o próprio jornal. Ele é Caio Túlio Costa, que foi editor da Ilustrada, secretário de Redação e correspondente em Paris, Verdadeiro super-ego ou consciência crítica do jornal, vai examinar queixas de leitores. Ele terá uma coluna dominical.

Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 23 de setembro de 1989

Folha lança amanhã a coluna do ombudsman

A Folha publica amanhã a primeira coluna do primeiro ombudsman do país. Caio Túlio Costa, que era correspondente do jornal em Paris, inicia um mandato de um ano, prorrogável por mais um ano, como o responsável por ouvir os leitores e resguardar seus direitos.

Entre as tarefas de Costa está o contato direto com os leitores para levantar as reclamações e esclarecer as dúvidas. "Vou receber pessoalmente entidades, instituições, leitores", diz Costa.
O ombudsman fará também a supervisão da Folha Emergência, que recebe denúncias e propostas de reportagem dos leitores, e do Painel do Leitor, editado diariamente na página A-3. A seção, que publica uma média de 12 cartas por dia, não sofrerá maiores mudanças.

Nas colunas semanais - publicadas todo domingo na editoria de Política, no primeiro caderno, sob o título Ombudsman - Costa não vai trabalhar necessariamente com as questões levantadas pelos leitores. A exemplo do que ocorre no jornal norte-americano "The Washington Post", fará críticas da Folha e da mídia brasileira, incluindo televisão.

Além do "The Washington Post", que teve seu primeiro ombudsman em 1970, e do espanhol "El Pais", em 1985, cerca de 50 jornais no mundo todo já introduziram o ombudsman. Já foi criada até a Organização Internacional de Ombudsman de Imprensa.

Para facilitar o acesso dos leitores ao ombudsman da Folha seus telefones serão divulgados nas colunas de domingo.

Estréia em jornal foi nos EUA em 67; hoje ombudsman está no mundo todo

Criado na Suécia, no século 19, o ombudsman só foi estrear na imprensa em 1967 no Kentucky. Foi no "Louisville Courrier Journal", da capital daquele Estado norte-americano, que a figura do mediador entre o jornal e seus leitores apareceu pela primeira vez.

Hoje há ombudsman em jornais dos EUA, Suécia, Inglaterra, Espanha, Áustria, Canadá, Filipinas e até África do Sul, numa publicação antiapartheid.

Foi no "The Washington Post", onde existe desde 1970, que o ombudsman começou a ganhar fama. Um dos primeiros foi Ben Bagdikian. Num artigo de 1972, ainda no cargo, ele comentou: "A idéia é um pouco louca - uma instituição pagando alguém para criticá-la em público. Um jornal honesto demitiria um crítico de teatro pago pelo teatro, e ainda assim o crítico de imprensa recebe salário do alvo de suas críticas. Mas não há muita alternativa."

O "media criticism", uma das tarefas do ombudsman, surgiu nos jornais muito antes de 1967. No Brasil o exemplo mais conhecido é um pouco posterior: o "Jornal dos Jornais", escrito por Alberto Dines na Folha entre 1975 e 1977. Mais recentemente, o trabalho foi retomado por revistas como a "Crítica e Informação" - já extinta - e "Imprensa".
Assim como o "media criticism", os controles internos de precisão do noticiário surgiram antes do ombudsman do "Louisville Kentucky Courrier". O Escritório de Exatidão do jornal norte-americano "World", o mais antigo, data de 1913.

O que diferencia o ombudsman dessas experiências anteriores é servir como intermediário para o pensamento dos leitores. Não só nas colunas que escreve, mas também no esclarecimento de reclamações e críticas. Isso por vezes provoca reações dos jornalistas. "Alguns deles gostam, outros não", comenta Richard Harwood, o atual ombudsman do "Port".

Harwood diz que não vai aceitar um novo mandato. Jose Miguel La Raya, do "El País", também não se mostrou muito animado com a idéia de ficar mais tempo como ombudsman. Segundo ele, a função é muito desgastante junto aos demais jornalistas. Ao contrário de Harwood, o ombudsman do "El País" não vai para casa, e sim para a redação.


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