PRESOS 1.000 NA PUC


Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1977

Às 21h50, a Polícia dissolve manifestação de estudantes

O secretário da Segurança Pública coronel Antônio Erasmo Dias, comandou pessoalmente a operação policial que interrompeu o ato público que se realizava ontem à noite defronte à PUC, prendendo todos os manifestantes estimados em mais de mil pessoas. Todos os detidos foram transportados em 20 ônibus da CMTC para o Batalhão Tobias Aguiar, da polícia Militar na avenida Tiradentes.
"O ato público está proibido", disse o secretário "Comicios, passeatas e qualquer tipo de ato público estão proibidos. Todos serão presos e enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Não aceitaremos desafio. Onde é que nós estamos?"
Os manifestantes pretendiam festejar a reorganização da União nacional dos estudantes e criticar a ação policial que impediu a realização do III Encontro nacional dos estudantes, quarta-feira, na USP. Às 21h50 de ontem, vinte minutos depois do início do ato, os estudantes liam a ata do III Encontro quando agentes do Deops e do batalhão de choque que assistiam tudo à distância, impediram o prosseguimento da manifestação.
Cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral foram empregados pelos policiais. Os estudantes correram para os três prédios da PUC, de onde foram desalojados pela Policia, que posteriormente liberou professores e funcionários.
Em fila indiana e de mãos dadas, os detidos foram conduzidos ao estacionamento defronte à PUC, onde permaneceram sentados. O vice-reitor, Edênio Vale, disse que "vários alunos estavam assistindo aula. Como é que vocês querem que eu me sinta com a Polícia invadindo assim o campus? Como é que pode?"
O vice-reitor foi procurado pelo delegado Romeu Tuma, do Deops, que o convidou para uma conversa com o secretário da Segurança. O coronel Erasmo informou então que os nomes dos detidos de ontem serão checados com as três listas de estudantes presos em manifestações anteriores.
Às 22h40, o secretário se dirigiu aos detidos no estacionamento, utilizando um megafone:
"Vamos proceder a uma triagem. Os que são da USP, estão presos. Os professores e os que não são estudantes serão liberados agora. Os estudantes da PUC que não tiverem antecedentes também estão liberados. Os demais ficarão presos.
A estudante Jurema Cursino Troiani Stuppi, da Faculdade de Ciências Sociais da USP, sofreu uma queimadura na mão e ferimentos nas pernas, devido à explosão de uma bomba de gás lacrimogêneo, e foi conduzida a um Pronto Socorro, juntamente com outras duas. Tereza Borcese e Bete, que desmaiaram durante a ação policial.
"Vou mandar invadir a gráfica", disse o secretário ao vice-reitor.
"Para que isso? O sr. já acabou com tudo", respondeu a própria reitora. Nadir Kfouri, que não assistiu ao inicio dos acontecimentos.
"Vou mandar invadir a gráfica", repetiu o secretário.
E ordenou a invasão, concordando antes que um membro da PUC assistisse, como pediu um professor, "para ver o que vai acontecer".
Os ônibus que conduziram os presos não entraram na sede do batalhão. Estacionados defronte, tiveram as portas abertas um de cada vez, com os estudantes saindo em fila indiana e entrando no "Tobias Aguiar".

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