O QUE HA EM POLITICA
O melhor sorriso da America em Petropolis - Os tenentes e
a constituicionalização - Magistratura rebaixada -
Estudam as formas... - Que sahirá das syndicancias em Minas,
Parahyba e Rio Grande? - O P.L. e o manifesto do P.D. - No caso
de Minas a Concentração conservadora tem parte
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Publicado
na Folha da Noite, sábado, 23 de janeiro de 1932
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Nenhuma noticia fornecida por S.Paulo, em politica, das que contornam
o caso da interventoria.
Contentemo-nos pois, com o que nos vem dito pelas agencias telegraphicas:
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Os
"tenentes" são pela costitucionazação |
RIO, 23 - o "Jornal do Brasil" declara que, ao contrario
do que muita gente poderia suppôr, o grupo dos "tenentes"
não está mal satisfeito com a marcha que vai seguindo
os trabalhos no sentido da constitucionalização do paiz,
porque os "tenentes" não se manifestaram favoraveis
ao prolongamento indefinido do regime discricionario. E, se nenhum
delles ainda estabeleceu caso para o governo revolucionario, fica
tambem claro que, ao menos publicamente, todos estão de accôrdo
em que não poderemos passar muito tempo sem a volta ao regime
legal.
Continuando diz aquelle jornal que, já agora, não se
pode dizer, como se disse ha algum tempo, que o apello às urnas
era uma "camouflage" dos "saudositas" e, principalmente,
dos "sem emprego da politica".
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Elles
estudam todas as formas... |
RIO, 23 - O "Correio da Manhã" divulga estar
assentado, entre os srs. Flores da Cunha, Manoel Ribas e Ptolomeu
de Assis Brasil, respectivamente interventores do Rio Grande, Paraná
e Santa Catharina, uma frente unica desses tres Estados para dever
de seus interesses communs e mais para quantos tiverem que opinar
sobre qualquer problema nacional opinar em conjunto, unidos como um
blóco. Foi esse o motivo por que o sr. Manoel Ribas teve, antes
de acceitar a interventoria do Paraná, uma conferencia com
o sr. Flores da Cunha e um entendimento com o sr. Ptolomeu de Assis
Brasil.
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Que
sahirá das syndicancias em Minas, Parahyba e R. G. do Sul |
RIO, 23 - A proposta do sr. Juarez Tavora, apresentada na ultima
reunião da Commissão de Correição para
que entendesse aquelle tribunal revolucionario suas syndicancias aos
Estados de Minas, Paraná e Rio Grande do Sul, vem despertando
alguma celeuma na imprensa.
Commentando as declarações do sr. Manoel Teixeira que
falando ao jornal, disse não ter sido approvada a proposta
do sr. Juarez Tavora, o "Jornal do Brasil" accentua que
o procurador especial não disse ter sido ella rejeitada.
E querendo demonstrar que não houve desapprovação
à iniciativa do ex-delegado do Norte, o "Jornal do Brasil"
accentua que o sr. Oswaldo Aranha, que se declarou de pleno accôrdo
com o sr. Juarez Tavora, e fez suas as palavras desse collega, forçosamente
considera approvada a proposta explicita contida na fala do ex-commandante
das forças revolucionarias do septentrião.
Approvaram-na, com seus votos, esse corregedor e mais o sr. Ary Parreiras,
que igualmente fez suas as palavras daquelle official revolucionario.
Se essa unanimidade de pontos de vista não significa approvação,
então, diz o jornal, não se sabe o que seja approvar.
Conclue aquelle matutino, portanto, com a promessa de que está
approvada. Resta apenas cumprir o que nella se dispõe e é
do interesse do governo revolucionario, no dizer do major Juarez Tavora.
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A
concentração conservadora, no accordo de Minas |
RIO, 23 - O "Jornal do Brasil" diz ter ouvido de
figura de destaque da Concentração Conservadora, que
o sr. Mello Vianna está representando aquella agremiação
politica nas "démarches" levadas a effeito em Minas
Geraes para a unificação dos partidos do Estado.
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O
partido libertador e o manifesto do P. D. |
RIO, 23 - Annuncia-se para o dia 27 deste mez uma reunião
do directorio central do Partido Libertador do Rio Grande do Sul.
Essa reunião será em Porto Alegre e, segundo se affirma,
tem por fim examinar o caso paulista, em face do rompimento dos democraticos
com o governo federal.
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Parte
para Petropolis o melhor sorriso da America |
RIO, 23 - O sr. Getulio Vargas irá, hoje, a Petropolis,
viajando de automovel pela estrada de rodagem.
O chefe do governo provisorio deverá chegar à cidade
serrana às 15 horas.
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A
magistratura, em, Matto Grosso, a pão e laranja |
RIO, 23 - Os magistrados de Matto Grosso apresentaram ao ministro
da Justiça um recurso contra o acto do interventor federal
naquelle Estado, que lhe rebaixou os vencimentos de 45%.
O ministro da Justiça, recebendo o recurso, prometeu dispensar
ao mesmo a maior consideração, pois sempre considerou
a magistratura digna de lhe serem ampliadas as garantias e não
restringidas, especialmente no que diz respeito à irreductibilidade
dos vencimentos.
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Revolução |
Cousa indiscutivel: os chefes revolucionarios de outubro foram, em
dado momento e por algum tempo, lidimos representantes do povo, consagrado
no mais memoravel plebiscito que já se realizou no Brasil,
plebiscito levado a effeito de Norte a Sul, com a população
toda em acclamações pelas ruas. Os chefes revolucionarios
tiveram a seu lado a opinião publica, todos esses proceres
politicos e todos os elementos de classes conservadoras, que hoje
contra elles se arremetem. Contando com toda essa força moral,
contavam, egualmente, com poderes discricionarios, senhores absolutos
das forças armadas, governando sem leis nem codigos, sem cercamentos
de especie alguma. Poderiam, pois, realizar tudo quanto quizessem,
tudo quanto deliberassem. Traziam alguns planos e assentaram outros.
O chefe supremo delles já estava preso a compromissos formaes,
assumidos ante cem mil pessoas na esplanada do Castello. Compromettera-se
a realizar certas reformas, que dependeriam exclusivamente de uma
pennada discricionaria.
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E que
fizeram, esses onipotentes, que tudo poderiam fazer? Nada fizeram.
Frequentaram estações de aguas e crearam "casos".
Só isso. É certo que deveriamos dar tempo ao tempo.
Os proceres allegavam não pretender servir-se de poderes
discricionarios. Prefeririam auscultar a opinião, amadurecer
os assumptos. E iamos esperando. Enquanto isso, as suas attitudes
dubias, a sua inoperancia, os seus equivocos e desaguisados os foram
desprestigiando. Até que o sr. Getulio Vargas, o napoleãozinho
que subira sorridente na vanguarda de exercitos sem conta, chegou
a este estado de desprestigio: não poder demitir um ministro.
Está aturando até hoje, contra a sua vontade, o ineffavel
sr. Lindolpho Collor, que factos reiterados e diuturnos vêm
demonstrando não possuir envergadura para figurar num governo
realmente regenerador, realmente moralizador e cujos dispauterios,
na pasta do Trabalho, são inteiramente contrarios à
orientação que, no assumpto, o chefe do governo havia
se traçado.
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E ahi está como se inutiliza um movimento tão lindo
e sobretudo, tão caro em dinheiro e sacrificios. É
mais uma decepção. Fomos dos que mais esperaram. Somos
dos que nada pediam para si proprias, nada ambicionavam e nada queriam,
a modos que nossas attitudes não podem ser attribuidas ao
interesse nem ao despeito. O que pleiteavamos à Revolução,
era para o Brasil e para o povo, e ella se compromettera a dar.
Esperando que tivesse palavra, arrostamos idiosyncrasias a seu lado.
Pensamos e proclamamos que, antes da Constituinte, ella devia realizar
tudo quanto promettera. Mas, se nada realiza, forcemol-a a dar-nos
a Constituinte. O povo brasileiro tem sido muito infeliz na companhia
dos politiqueiros e já deve ter bôa pratica no aquilatar
das cantadas dos demagogos. Por isso, é de crer que, convocado
às urnas escolher homens de principios, capazes de levar
avante as reformas que reerguerão a economia nacional. Vamos
visal-o com a nossa imperterrita campanha economica. Que elle nos
ouça mais do que nos ouviu a Revolução. Que
se instrua e se esclareça a respeito dos problemas que mais
de perto lhe falam e mande aos parlamentos representantes à
altura das grandes necessidades do Brasil. Quanto aos revolucionarios,
saibam render-se à pressão popular e devolvam o paiz
ao povo, que tão confiadamente a elles o havia entregue,
enquanto ainda ha possibilidades de serem perdoados. Afinal, errar
é humano. Indesculpavel, é a perseverança no
erro.
LUIS
AMARAL
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