REATAMENTO PRATICAMENTE REALIZADO; BRASIL E URSS ASSINAM OS DOCUMENTOS
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1961
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BRASILIA, 21 (FSP) - O chanceler San Tiago Dantas comparecerá
amanhã à Camara dos Deputados, às 14 h 20, para proferir finalmente
o discurso sobre o reatamento de relações com a União Sovietica.
Embora o ministro se restrinja à vaga declaração de que "revelará
em detalhes o estagio atual das negociações", fontes do Itamarati
e do Palacio do Pinhal informam que o reatamento está praticamente
realizado: os dois paises já assinaram os documentos à formalização
do ato e "o estagio atual das negociações" seria então a conclusão
dos entendimentos com o restabelecimento das relações diplomaticas
e comerciais em sua plenitude. O chanceler deverá fazer tambem um
relatorio sobre sua recente viagem à Argentina e suas conversações
com o sr. Miguel Angel Carcano, chanceler daquele país.
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Duvida
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Segundo noticias que a FSP colheu em diversas fontes do governo
e do Parlamento (na propria Comissão de Relações
Exteriores da Camara), é exata a informação
de que o reatamento depende apenas do anuncio oficial para sua completa
formalização. Contudo, o sr. San Tiago Dantas poderia
evitar aquela proclamação por mais alguns dias, a
fim de que o reinicio das relações não coincida
com as homenagens que anualmente se prestam à memória
dos mortos na intentona comunista de 1935. De qualquer forma, grande
é a expectativa nos circulos politicos em torno do pronunciamento
do chanceler, que passou toda a manhã de hoje e parte da
tarde em contatos com os parlamentares, sobretudo na Camara, articulando
a cobertura politica para seu discurso.
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Definição
dos politicos
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Essa atividade do chanceler San Tiago Dantas nos meios politicos
explica a declaração prestada pelo primeiro-ministro Tancredo Neves,
que, ao desembarcar pela manhã, no aeroporto, disse que "o reatamento
está em fase de definição dos poderes politicos nacionais". O assunto
é da competencia do Poder Executivo e só depende do Parlamento (
poder politico) na medida que este, colocado contra a decisão do
governo, possa derrubá-lo através do voto de desconfiança. Este
foi o sentido da longa presença do ministro das Relações Exteriores
hoje na Camara, onde procurou assegurar-se da cobertura de lideres
conservadores, como os srs. Adauto Lucio Cardoso, da UDN, Etelvino
Lins, do PSD, e Teodulo Albuquerque, do PR.
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China
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Ao contrario do que se dizia ontem, nada de concreto existe até
agora sobre o estabelecimento de relações comerciais
com a China Comunista. Este depende de determinadas providencias
para as quais é necessario algum tempo. Tanto o problema
da URSS como o da China foram objeto de conversa que ontem o chanceler
manteve com o presidente João Goulart, no Palacio da Alvorada,
à noite. Nessa oportunidade, o presidente da Republica teve
conhecimento do teor do discurso que fará o ministro e do
estagio em que se encontram as negociações com a China.
Chefe da missão que iniciou entendimentos com o governo chinês,
no inicio de agosto, o sr. João Goulart deposita grandes
esperanças nos resultados do intercambio comercial com aquela
nação asiatica.
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Igrejas
e militares
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Alem do presidente da Republica e do primeiro-ministro, também
a Igreja e os ministros militares estão a par de todas as
revelações que o San Tiago Dantas fará, amanhã,
da tribuna da Camara. Chegando-se à fase conclusiva das negociações,
o chanceler debateu o assunto com o cardeal d. Jaime Camara, no
Rio de Janeiro, o qual deu por satisfatorias as medidas adotadas
como prevenção para que a representação
sovietica não sirva de foco de propaganda e incentive a agitação
comunista. O mesmo ocorreu quanto aos ministros militares.
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Especulações
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No Itamarati, por outro lado, já começaram as especulações
sobre quem será o embaixador brasileiro na URSS. Os nomes
cogitados nas conversas de bastidores são os diplomatas de
carreira Vasco Leitão da Cunha e Alves de Sousa. O primeiro,
ex-embaixador em Cuba e ex-secretário geral do Ministerio
das Relações Exteriores, encontra-se em disponibilidade;
o segundo, chefia atualmente a nossa representação
em Paris. Em circulos politicos, aventa-se igualmente a possibilidade
de ser o cargo entregue a um militar.
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