O BRASIL NA "GUERRA DO ARSÊNICO"
Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 22 de março de 1975
O governo brasileiro apresentou ontem ao encarregado dos Negócios da Finlândia em Brasília seu protesto formal contra o projetado lançamento da carga de arsênico do navio finlandês "Enskeri" nas águas do Atlântico Sul, acentuando que o fato poderá ter "repercussões imprevisiveis" nas relações entre os dois países.
Segundo fontes diplomáticas, a expressão utilizada na nota brasileira demonstra claramente a disposição do Brasil de chegar até ao rompimento de relações diplomáticas com a Finlândia, caso se concretize a operação - que será entendida como ato de hostilidade do governo finlandês.
Além da medida adotada em Brasília, a delegação brasileira à Conferência do Mar, que se realiza em Genebra, apresentará amanhã, em conjunto com as delegações do Uruguai e da Argentina, vigoroso protesto contra a pretensão do governo da Finlândia. Paralelamente, em Nairobi, o embaixador do Brasil entregará uma carta ao diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (UNEP), pedindo a adoção de medidas severas para evitar a nova ameaça
Em Helsinque, a companhia estatal Neste Oil, da Finlândia, proprietária do petroleiro "Enskeri", informou ontem que o navio já se encontrava a 620 milhas ao Sul da Costa do Marfim e que seu comandante enviara um pedido de autorização ao governo finlandês para desfazer-se da carga de arsênico. Caso a resposta seja positiva, a operação seria realizada no próximo dia 29.
No Uruguai, o cônsul da Finlândia, Ronald Cooper, informou que a decisão de seu país se ajustará estritamente ás convenções internacionais sobre a matéria e que, se o desejo do arsênico for autorizado, é porque a medida está protegida por tais acordos. Disse ainda que o navio transporta 7 e não 100 toneladas de arsênico e que os 690 barris que serão lançados ao mar são feitos de concreto, para facilitar sua imersão.
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