TANCREDO TEVE UM TUMOR BENIGNO; OPERADO DE NOVO, ESTADO É GRAVE


Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1985

O presidente eleito Tancredo Neves, 75, sofreu na tarde de ontem uma nova intervenção cirúrgica. Segundo a Folha apurou, na primeira operação a que foi submetido, na noite do dia 14 para 15, Tancredo teve extirpado um leiomioma, tumor benigno no intestino. As autoridades optaram por divulgar a versão da diverticulite por receio de que a palavra tumor pudesse chocar a opinião pública. Ontem, segundo o apurado, constatou-se uma trombose mesentérica, obstrução aguda das artérias que irrigam uma região do intestino médio chamada mesentério. Esta obstrução provoca uma necrose da área atingida. Retirada a parte necrosada, foi realizada também uma jejunostomia, ou seja, a implantação de uma abertura artificial na região do jejuno, na parede lateral do abdome, por onde passam a ser eliminados os dejetos sólidos e líquidos processados no duodeno. Esta medida permite que o intestino descanse, mas obrigará a uma nova intervenção para normalizar o funcionamento do intestino.
O boletim médico oficial divulgado às 21h15 pelo porta-voz da Presidência, Antonio Britto, é lacônico e se refere apenas a "aderências" que se formaram no intestino e foram removidas cirurgicamente. De acordo com o boletim, "o paciente teve excelente tolerância à operação". A cirurgia começou às 15h45 de ontem, foi confirmada oficialmente por Britto às 16h20 e terminou por volta das 20h10, quando o porta-voz reuniu os jornalistas para comunicar-lhes que ela tinha sido bem sucedida. Algumas versões, de políticos ligados ao novo governo, davam conta de que a intervenção havia terminado às 17h35.
Durante todo o dia, o clima no Hospital de Base de Brasília foi de grande confusão, devido às informações desencontradas que circulavam sobre as condições do presidente eleito. Apesar do tom otimista dos comunicados oficiais, o comportamento do porta-voz e o silêncio dos principais homens do governo davam a entender que o estado de saúde de Tancredo Neves é grave.

Tancredo operado novamente; seu estado é grave

Às 15h45 de ontem, sob efeito de anestesia geral, o presidente Tancredo Neves, 75, sofreu uma segunda cirurgia no abdome. Conforme apurou a Folha, na primeira operação a que foi submetido, na noite de quinta-feira para sexta-feira passada, o presidente eleito teve extirpado um leiomioma, tumor benigno no intestino. Optou-se até agora pela versão da diverticulite para não chocar a opinião pública com a palavra tumor. Na intervenção de ontem, ainda segundo o apurado, constatou-se uma trombose mesentérica, obstrução aguda das artérias que irrigam uma região do intestino médio chamada mesentério. Esta obstrução provoca uma necrose da área atingida. Retirada a parte necrosada, foi realizada também uma jejunostomia, ou seja, a implantação de uma abertura artificial na região do jejuno, na parede lateral do abdome, por onde passam a ser eliminados os dejetos sólidos e líquidos processados no duodeno. Esta medida permite que o intestino descanse, mas obrigará a uma nova intervenção para normalizar o seu funcionamento. O estado de saúde do presidente eleito é grave.

Informações oficiais

De acordo com as informações oficiais, a nova cirurgia foi feita para regular o funcionamento do intestino de Tancredo, paralisado desde a primeira intervenção médica. A operação foi divulgada pelo porta-voz Antonio Britto às 16h20, quando já havia sido iniciada. Às 17h35, o ministro Aluizio Alves deixava o Hospital de Base de Brasília informando que o ato cirúrgico estava encerrado, faltando apenas completar os pontos.
Apesar desta informação, o porta-voz da Presidência não divulgou o boletim médico na sua terceira entrevista aos jornalistas, às 20 horas. Em vez disso, leu a seguinte nota oficial, na qual revelou que a operação ainda não estava encerrada:
"O Excelentíssimo senhor Presidente da República está sendo submetido a uma intervenção cirúrgica com o objetivo de resolver os problemas de obstrução intestinal identificados pela equipe médica durante os exames realizados no final da manhã de hoje. A cirurgia está em sua fase final e foi muito bem sucedida. Operaram o sr. presidente os médicos Pinheiro da Rocha, Walter Pinotti e João Batista Rezende. Assim que for encerrada a cirurgia, será divulgado o boletim médico".
A informação de que ainda não se encerrara a operação deixou os repórteres confusos, pois contrastava com todos os dados transmitidos até então.
Segundo os médicos do Hospital, que também davam por encerrado o ato cirúrgico por volta das 18 horas, o estado de Tancredo era o melhor possível. Consideravam que não havia sido uma operação de emergência e que seu estado geral era bom - caso contrário não poderia ter sido realizada a nova intervenção com anestesia geral.
"Os médicos consideram que a operação foi um êxito", garantia o ministro Aluizio Alves ao deixar o HDB. O ministro Pedro Simon, por sua vez, demonstrava menos otimismo: "Embora os médicos digam que é melhor operar para corrigir os intestinos, é evidente que o estado do presidente estaria melhor se não precisasse da operação".
Até às 12h30 horas, não havia a decisão da cirurgia. O presidente José Sarney não sabia da operação.
O boletim médico que oficialmente revelou a nova intervenção no presidente da República é o seguinte, divulgado às 16h20:
"Nas últimas horas, a equipe médica que assiste o senhor presidente da República desenvolveu todos os esforços para conseguir, através de procedimentos terapêuticos, resolver o problema intestinal do Excelentíssimo senhor presidente da República.
Apesar destes esforços, o quadro clínico não se alterou, tendo sido decidido, pela equipe médica, após a realização de novos exames complementares, submeter o senhor presidente da República à intervenção cirúrgica, que está ocorrendo, neste momento, no Centro Cirúrgico do Hospital de Base de Brasília.
Além dos médicos que vêm assistindo o senhor presidente, participam do ato cirúrgico os professores João Batista de Rezende Alves e Henrique Walter Pinotti. O senhor presidente da República foi levado ao Centro Cirúrgico em boas condições clínicas".
De manhã, no horário habitual das 9 horas, foi divulgado o primeiro boletim médico do dia, sem qualquer referência à operação de Tancredo Neves:
"O Excelentíssimo senhor presidente da República, doutor Tancredo Neves, passou bem a noite. São satisfatórios os resultados obtidos com as medidas até agora adotadas. É bom seu estado geral. Os sinais vitais estão dentro da normalidade".

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