BARCO AFUNDA NO PARÁ COM 530 PESSOAS


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 20 de setembro de 1981

O barco "Sobral Santos 2", que transportava 530 passageiros e 200 toneladas de carga na linha Santarém-Manaus, naufragou na madrugada de ontem no rio Amazonas, junto ao porto de Óbidos, no Pará. Calcula-se que mais de 300 pessoas morreram no acidente, embora apenas quatro corpos tenham sido resgatados até o final da tarde.
A Capitania dos Portos relacionou 178 sobreviventes, dos quais 53 estão internados na Santa Casa de Óbidos. Segundo depoimentos de passageiros, a embarcação navegava com excesso de peso e vinha tendo infiltração de água desde a partida de Santarém. O comandante do barco, Davi Ferreira, teria sido advertido do perigo.
Caso o número de mortos seja confirmado, este é o maior naufrágio já registrado na Amazônia.

Barco afunda com 530 passageiros - Número de mortos pode passar de 300

BELEM (Do correspondente) - Embora somente quatro corpos tenham sido resgatados até agora, pode passar de 300 o número de mortos no naufrágio do barco a motor "Sobral Santos 2", ocorrido na madrugada de sábado no porto de Óbidos, Pará, às margens do rio Amazonas.
O velho "gaiola" pertencia à empresa Onze de Maio Navegação Onzenave, de Manaus, de Calil Miguel Mourão, e fazia a linha regular semanal entre Manaus e Santarém, no Pará, tendo registro na Capitania dos Portos do Amazonas, com licença para 500 passageiros e 200 toneladas de carga.
Na sexta-feira, às 19 horas, o "Sobral Santos 2" partiu de Santarém com 530 passageiros e excesso de carga. Além dos 430 passageiros em sua listagem, transportava mais 100 de dois pequenos barcos que estavam em pane no porto de Santarém, o "Miranda Dias" e o "Emérson", e recebera mais 100 toneladas de carga, além da sua, a maior parte saco de farinha e de cereais e 6 mil grades de cerveja e refrigerantes vazios.
Depois de nove horas de viagem aproximadamente, o "Sobral Santos 2" atracou no porto de Óbidos. Eram 3h30 e a maioria dos passageiros dormiam nos camarotes ou em redes atadas por sobre a carga que se espalhava por todo o barco, desde o porão até o convés.

Pânico

Na atracação, a corda de náilon arrebentou e alguém gritou que o barco estava adernando. Muita gente acordou em pânico e correu para a amurada do barco que apressou o adernamento, indo o "Sobral Santos 2" a pique em menos de 10 minutos.
Com o adernamento muita carga caiu por cima dos passageiros e muitos passageiros jogaram-se na água, enquanto outros procuravam refúgio dentro dos camarotes, sem saber que lá ficariam presas sem possibilidade de salvamento.
O pânico foi geral e na cidade de Óbidos praticamente toda a população veio ao cais para testemunhar a tragédia. Dos 530 passageiros, apenas 178 foram relacionados por um oficial da Marinha como sobreviventes, dos quais 53 estão hospitalizados na Santa Casa de Misericórdia de Óbidos. Quatro corpos foram resgatados, sendo dois de crianças, nenhum identificado. Há 348 pessoas desaparecidas, provavelmente mortas, presas no interior de embarcação que naufragou em uma das mais profundas áreas do rio Amazonas, embora uma das menos largas. Segundo informações, a profundidade do rio em Óbidos varia de 50 a 80 metros.
Logo após o naufrágio, foram acionados salva-vidas da Polícia Militar e de empresas particulares, que trabalham com a ajuda da Marinha, que também deslocou de Santarém para Óbidos o navio patrulha "Roraima".
Também a Força Aérea deslocou para Óbidos dois aviões para ajudar no transporte dos sobreviventes para hospitais de Santarém.

Otimista

Entre os sobreviventes está Taufic Mourão, irmão de Calil Mourão, ambos proprietários da firma Onzenave. Ele disse que não acredita em mais de dez mortos e culpou os passageiros pelo afundamento do barco: "a corda quebrou e o pessoal correu todo, sem necessidade, para um lado do navio. Excesso de passageiros ou de carga não havia. Já carreguei mais do que isso e nunca aconteceu nada".
Mas, testemunhas do naufrágio e sobreviventes da tragédia afirmava que desde quando partiu de Santarém, com carga além de capacidade permitida, o "Sobral Santos 2" vinha fazendo água. Alguns se dirigiam ao comandante do barco, Davi Ferreira, avisando que temiam pelo pior, ao que ele teria respondido que não tinha nada a ver com passageiros. "Meu negócio é carga. Quanto mais carga melhor. Dá mais dinheiro".
A Capitania dos Portos do Pará deslocou seu agente em Santarém, tenente Lauro de Jesus Gonzaga, para a cidade de Óbidos para a instauração de um inquérito para apurar as causas de mais este naufrágio na região.
Caso se confirmem as 348 mortes no acidente, este seria o maior naufrágio já registrado na Amazônia. O maior até agora foi a 6 de janeiro deste ano, no rio Cajari, com o barco "Novo Amapá" no qual morreram 263 pessoas.

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