Empresa pagou dívida no BB com anúncios, quando ele
era presidente
ELVIRA
LOBATO
Da Reportagem Local
A TV
Mirante, de São Luis (MA), pertencente à família
do senador e ex-presidente José Sarney, converteu empréstimos
do Banco do Brasil em contratos de publicidade para veiculação
de anúncios na emissora, em 1987 e 88, quando ele ocupava
a Presidência da República. Em discurso no Senado,
na última quarta-feira, Sarney criticou o "Jornal do
Brasil" por propor a utilização de anúncios
para quitar dívidas da empresa junto ao mesmo Banco do Brasil,
em julho de 89.
Segundo reportagem publicada pela Folha no dia 6 de agosto de 88,
a TV Mirante importou equipamentos do Japão, com financiamento
do Banco do Brasil (que repassou uma linha de crédito aberta
pelo Eximbank japonês) e foi autorizada a converter quatro
parcelas do pagamento da dívida com anúncios publicitários
do banco. A informação foi prestada, na época,
pelo então diretor-geral da TV, José Aniesse.
O então superintendente regional do Banco do Brasil no Maranhão,
Érico Furtado, confirmou, na ocasião, a autenticidade
de uma autorização de troca de dívida por anúncios,
no valor de CZ$ 21.995.000,00 (US$ 483.088,07 pelo dólar
oficial), assinada no dia 28 de julho de 87. A autorização
foi dada pelo então superintendente-adjunto regional, Antônio
Luiz Ewerton Ramos.
Uma segunda autorização, de 9 de março de 88,
no valor de Cz$ 13.627.236,00 (US$ 131.715,45 pela cotação
oficial do dia), foi assinada pelo ex-chefe-adjunto de Comunicação
Social da Presidência do Banco do Brasil, Ney Curvo, e confirmada
pela assessoria de imprensa da instituição.
O diretor geral da TV, José Aniesse, afirmava na reportagem
que o empréstimo para a compra dos equipamentos foi "de
uns US$ 250 mil", mas só as duas parcelas convertidas
em anúncios somaram US$ 614.803,09, pela cotação
oficial das datas das autorizações.
A TV Mirante é administrada por Fernando Sarney, único
dos três filhos do senador que não tem carreira política.
Ontem à tarde, ele não se encontrava na empresa, e
a Folha foi atendida pelo atual diretor-geral, Sérgio Macedo,
que afirmou desconhecer a troca do empréstimo por anúncios.
O deputado José Sarney Filho (PFL-MA) disse à Folha
que o recurso utilizado pela emissora de sua família não
pode ser comparada à proposta do "Jornal do Brasil",
denunciada por seu pai. "Eu desconheço esta operação
entre o Banco do Brasil e a TV Mirante, mas se ela ocorreu é
porque foi aprovada pelas áreas competentes do BB e teve
parecer favorável dos departamentos técnico e jurídico.
Meu pai não tomou conhecimento, porque não era assunto
para ser levado ao presidente da República", declarou.
Para Sarney Filho, a operação revelada pela Folha
não deu prejuízo aos cofres públicos e foi
"lícita".
Saulo Ramos, advogado do senador José Sarney, ficou constrangido
ao tomar conhecimento do fato. Antes de saber do caso, ele afirmou
à Folha que a proposta feita pelo "Jornal do Brasil"
em 89, de trocar US$ 17 milhões de dívidas por publicidade,
era "imoral" e manteve o seguinte diálogo com a
reportagem:
Folha: A imoralidade, a seu ver, está no valor da transação?
Se ele propusesse trocar US$ 500 mil de dívidas em anúncios
o senhor consideraria igualmente imoral?
Saulo Ramos: Não importa o valor, a proposta de trocar
dívida por publicidade é que é imoral.
Folha: Estou com cópia de uma reportagem da Folha, de
88, e pelos valores constantes da matéria, a TV Mirante,
da família Sarney, pagou mais de US$ 500 mil de dívidas
no Banco do Brasil com publicidade. Ela também foi imoral?
Saulo Ramos: Se o fato é verdadeiro, também
foi imoral.
|