Há algumas semanas, uma pequena nota no Painel da "Folha" vem pedindo
desculpas aos leitores pelos eventuais erros gráficos que têm aparecido
no jornal. Mas eles se justificam. São resultado da fase inicial
de implantação, entre nós pioneira, com similar apenas nos grandes
jornais dos Estados Unidos, Europa e Japão: um sistema de terminais
de vídeo nas redações e oficinas, responsável pela produção e edição
de jornais, e que determinará, a curto prazo, a própria sobrevivência
das empresas jornalísticas, na busca de um produto cada vez mais
ágil, moderno e inteligente.
Com
apenas dois meses de funcionamento experimental, 52 por cento das
matérias publicadas pela "Folha" e 50 por cento das matérias publicadas
pela "Folha da Tarde" são produzidas e editadas diretamente pelo
novo sistema. A totalidade das reportagens escritas pelos jornalistas
da Agência Folhas, assim como artigos de colaboradores e críticos,
é transmitida diretamente nos terminais de computadores.
Dos
suplementos da "Folha" a "Folhinha" e o "Folhetim" já são produzidos
pelo sistema, assim como 20 por cento do suplemento "Informática".
A curto prazo, os suplementos "Mulher" e "Turismo" estarão integrados
ao novo método de produção e edição. Em dois meses, as sucursais
da "Folha" já estarão operando com terminais e remetendo, pelo telefone,
os impulsos que serão captados diretamente pela central de computadores
e distribuídos a todos os jornais da empresa. Esta semana, em fase
experimental, a sucursal de Brasília já estará integrada aos computadores.
Além da "Folha" e da "Folha da Tarde", os jornais "Notícias Populares"
e "Cidade de Santos" estão sendo gradativamente confeccionados através
dos terminais de vídeo.
Responsável
pela implantação dos terminais de vídeo na redação da "Folha", o
jornalista Caio Túlio Costa, um de seus dois secretários de redação,
afirma que o novo sistema "é inevitável no processo de desenvolvimento
industrial jornalístico e vai mudar os hábitos que os jornalistas
têm até hoje em relação ao papel e à máquina de escrever, na medida
em que o computador introduz facilidades na escrita, além de permitir
ao editor um trabalho muito mais seguro. Ao mesmo tempo, o sistema
eliminará uma importante fase no processo industrial de produção
do jornal, como por exemplo a perfuração das fitas (que eram enviadas
às fotocomponedoras) e a revisão ortográfica, já que os impulsos
são dados diretamente dos terminais de redação ao computador de
fotocomposição, que produz - sem intermediários - as matérias a
serem colocadas nas páginas".
"Essa
evolução tecnológica - diz Caio Túlio - é inevitável em função da
sobrevivência das empresas jornalísticas, pois qualquer uma delas,
para poder continuar, terá de dar esse passo. E a "Folha" o faz
agora e o fez também na época da transformação da impressão tipográfica
para "off-set" e, alguns anos depois, da composição a quente (por
meio de linotipos) para a fotocomposição. Neste momento, ela dá
mais um passo, agora em direção a um processo que começa, mas não
tem fim. Se o jornal quer fazer, cada dia mais, um bom produto,
essa evolução não pode ter fim. Outro fator que pode explicar esse
avanço, além do inevitável progresso tecnológico, é a busca de um
jornal melhor. Nesse sentido, o computador dá uma segurança maior
de trabalho e permite que o produto seja bem feito. A "Folha" está
cada vez mais empenhada em obter um jornal dinâmico e que vá muito
além da simples notícia, interpretando, analisando e opinando."
O secretário
de redação da "Folha" destaca que ainda que, ao lado do avanço tecnológico
trazido pelos terminais de vídeo, "há um investimento sério no material
humano, na reportagem, na busca de melhores profissionais. Acho
que já deu para sentir uma mudança radical de rumos na redação,
já que sem bons profissionais é impossível produzir um bom jornal".
Nessa medida, Caio Túlio observa que o sistema "elimina totalmente,
por tornar-se desnecessária, a revisão ortográfica, da maneira como
a entendemos atualmente. Não estou dizendo que não haverá revisão
no jornal, mas que ela será feita pelos próprios repórteres e redatores,
na busca, também inexorável, do texto final. E num futuro não muito
distante, a tendência, no jornalismo, é o repórter captar, redigir
e até mesmo editar sua matéria".
O engenheiro
Pedro Pinciroli Júnior, diretor responsável por toda a área de produção
da Empresa Folha da Manhã S/A, ao explicar as causas que levaram
à implantação do sistema de terminais de vídeo, coloca que "com
a consolidação da TV como o grande veículo de comunicação de massa
no Brasil, já não basta que os jornais informem com a lentidão da
imprensa tradicional. É preciso agilizar a produção jornalística
e ganhar velocidade na distribuição. Levar à casa do leitor o que
a mídia eletrônica, por suas limitações estruturais, não pode: as
interpretações inteligentes e as explicações que fazem com que as
notícias tenham sentido inteligível."
"O
sistema "Folha" de terminais - afirma Pinciroli - veio trazer velocidade
e autenticidade maior às informações, uma vez que nos permitiu eliminar
etapas no processo industrial gráfico e, também, que o jornalista
falasse diretamente com seu público leitor."
Segundo
o diretor, "outro motivo (da implantação do sistema) foi a política
econômica e monetária deflacionária e recessiva, que elevou nossos
custos administrativos, industriais e redacionais. Com os terminais,
eliminando-se etapas de composição gráfica e agilizando o processo,
estaremos aumentando a nossa produtividade".
De
acordo com Pedro Pinciroli Junior, é meta, ainda, "buscar uma diferenciação
do nosso jornal em relação aos demais, quanto aos anúncios: um visual
melhor, classificados colocados por zoneamento e ordem alfabética
e permitir ao anunciante de balcão visualizar o seu anúncio pelo
terminal, no momento de autorizá-lo. Numa segunda etapa, o sistema
nos permitirá a aptidão necessária para os anúncios nacionais via
satélite". Segundo o diretor, "com o novo pensar tecnológico do
final do século 20, tivemos o deslocamento de soluções baseadas
em novos dispositivos para soluções baseadas em novas abordagens,
entre elas a miniaturização e a teleinformática".
Todos
esse fatores não só explicam, mas justificam a implantação do sistema
de terminais de vídeo, composto por várias fabricantes, sob a responsabilidade
da Compugraphic. São estes os fabricantes: Computer Automation,
Control Data, Texas Instruments, Elebra e Sisco, estas duas últimas
nacionais, "numa combinação que permitiu uma boa relação de velocidade,
custo, flexibilidade e qualidade".
O engenheiro
ressaltou que "com o sistema de terminais estaremos também na linha
da evolução tecnológica que nos permite ter um banco de dados com
o conceito de "library" (biblioteca), mas eficiente no trabalho
de pesquisa e documentação, que sustentam a edição do noticiário".
Segundo ele, "o sistema de terminais irá gerar transferência de
funções, mas é fundamental para aumentar a competitividade de nossa
empresa. O Japão, com mais de 70 mil robôs, tem um índice de produtividade
quatro vezes maior que os Estados Unidos e não tem praticamente
desemprego".
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