Da Reportagem Local e da Sucursal de Brasília
A polícia
Civil de São Paulo está trabalhando com a hipótese
de motivação política no assassinato que vitimou
na madrugada de ontem, em São Paulo, o governador do Acre,
Edmundo Pinto de Almeida Neto, 38. Único governador do PDS,
ele foi encontrado morto com dois com dois tiros no apartamento
704 do Hotel Della Volpe, na rua Frei Caneca, centro.
A suposição de que o assassinato ocorreu por motivos
políticos foi primeiramente levantada, em Brasília,
pelo diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma. A hipótese
se fundamenta ou nas disputas partidárias acreanas ou o fato
de o governo local estar supostamente envolvido na malversação
de verbas para a construção do Canal da Maternidade,
com recursos do FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço).
No mesmo episódio está envolvido o ex-ministro Antonio
Rogério Magri. Pinto deveria depor amanhã na CPI do
Congresso que investiga o caso.
Segundo Nelson Guimarães, diretor da divisão de Homicídios
da Polícia Civil de São Paulo, "há fortes
tendências de ser crime político", porém,
acrescentou: "Mas temos um leque de opções a
serem investigadas."
A outra hipótese, a de latrocínios, se justificaria
pelo fato de terem desaparecido cerca de Cr$ 500 mil do apartamento
que o governador ocupava no hotel cinco estrelas desde quinta à
noite. Os mesmos criminosos roubaram US$ 1.500 de John Franklin
Jones, hóspede do apartamento 714 e funcionário do
banco norte-americano Northeast.
O presidente Fernando Collor de Mello foi informado do assassinato
às 8h30, quando participava de seminário com membros
de seu governo. Determinou que o ministro da Justiça, Célio
Borja, acompanhasse as investigações e o mantivesse
informado. Collor telefonou à mulher do governador morto,
Fátima, de quem Edmundo Pinto estava se separando.
No início das investigações, a polícia
paulista chegou a trabalhar com a possibilidade de crime passional,
por suspeitas de que o governador era bissexual. Essa versão
foi negada em São Paulo pela cunhada do político morto,
Aldênia Barbosa de Oliveira.
Segundo depoimento do chefe da Casa Civil do governo do Acre, Luís
Carlos Pietschmann, que integrava a comitiva acreana a São
Paulo, ele próprio, o governador e o ajudante de ordens,
capitão da PM, Marcos Winmann, foram sábado à
noite a um cinema na avenida Paulista. Assistiram "Cabo do
Medo", e à meia-noite já estavam todos de volta
a seus aposentos.
O homicídio ocorreu entre 2h e 2h30, segundo o secretário
de Segurança Pública, Pedro de Campos. O corpo do
governador, com um tiro de raspão no crânio e outro
no peito com balas calibre 38, foi encontrado só de cuecas,
de costas, entre a cama e o console de uma das paredes do apartamento.
Os peritos constataram indícios de luta corporal.
Outro delegado de polícia, Marco Antônio Desaguado,
disse por sua vez que "há indícios de que os
assassinos entraram procurando alguma coisa no quarto". A porta
da saída de emergência do sétimo andar havia
sido aberta por dentro, o que permitira a fuga dos assassinos pela
escada, desde que pulassem o muro que dá acesso ao terreno
da Maternidade de São Paulo.
A direção do hotel, segundo seu assessor de imprensa
Celso Russomano, afirma "desconfiar que os assassinos se hospedaram
com documentos falsos" no Della Volpe. Nenhuma porta foi arrombada,
segundo a versão do hotel, que coincide com a da polícia.
O norte-americano John Franklin Jones disse que o grupo de homicídios
era integrado por três mulatos, que aparentavam menos de 30
anos de idade.
No mesmo andar em que se estava hospedado Edmundo Pinto, três
apartamentos eram ocupados por funcionários da construtora
Norberto Odebrecht.
O corpo foi autopsiado no IML (Instituto Médico Legal), embalsamado
e embarcado às 19h45, em Congonhas, num avião Learjet
alugado pelo governo de São Paulo. Em Rio Branco, Edmundo
Pinto está sendo velado no Tribunal de Justiça do
Acre. Seu enterro deve ocorrer amanhã, em horário
ainda não fixado, no cemitério São João
Batista, em Rio Branco.
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