GOVERNADOR DO AC É ASSASSINADO EM HOTEL DE SÃO PAULO


Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 1992

O governador do Acre, Edmundo Pinto (PDS), 38, foi assassinado com dois tiros na madrugada de ontem em um apartamento do hotel Della Volpe, em São Paulo. A polícia considera a hipótese de crime político, motivado por disputas partidárias no Acre ou pelo fato de Pinto estar envolvido no episódio de malversação de verbas do FGTS, que também envolveu o ex-ministro Antonio Rogério Magri. Pinto deveria depor amanhã na CPI do Congresso sobre o caso. Três quartos no mesmo andar do hotel eram ocupados por funcionários da construtora Odebrecht, que realiza obra investigada pela CPI. A presidente do Tribunal de Justiça do Acre, Miracele Borges, disse que Pinto vinha recebendo ameaças de morte. Outra hipótese da polícia é latrocínio. Foram roubados de Cr$ 500 mil a Cr$ 600 mil do governador e US$ 1.500 de um hóspede norte-americano.

Polícia suspeita de assassinato político

Edmundo Pinto deporia amanhã CPI do Congresso que investiga caso Magri e super faturamento em obras


Da Reportagem Local e da Sucursal de Brasília

A polícia Civil de São Paulo está trabalhando com a hipótese de motivação política no assassinato que vitimou na madrugada de ontem, em São Paulo, o governador do Acre, Edmundo Pinto de Almeida Neto, 38. Único governador do PDS, ele foi encontrado morto com dois com dois tiros no apartamento 704 do Hotel Della Volpe, na rua Frei Caneca, centro.
A suposição de que o assassinato ocorreu por motivos políticos foi primeiramente levantada, em Brasília, pelo diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma. A hipótese se fundamenta ou nas disputas partidárias acreanas ou o fato de o governo local estar supostamente envolvido na malversação de verbas para a construção do Canal da Maternidade, com recursos do FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço). No mesmo episódio está envolvido o ex-ministro Antonio Rogério Magri. Pinto deveria depor amanhã na CPI do Congresso que investiga o caso.
Segundo Nelson Guimarães, diretor da divisão de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo, "há fortes tendências de ser crime político", porém, acrescentou: "Mas temos um leque de opções a serem investigadas."
A outra hipótese, a de latrocínios, se justificaria pelo fato de terem desaparecido cerca de Cr$ 500 mil do apartamento que o governador ocupava no hotel cinco estrelas desde quinta à noite. Os mesmos criminosos roubaram US$ 1.500 de John Franklin Jones, hóspede do apartamento 714 e funcionário do banco norte-americano Northeast.
O presidente Fernando Collor de Mello foi informado do assassinato às 8h30, quando participava de seminário com membros de seu governo. Determinou que o ministro da Justiça, Célio Borja, acompanhasse as investigações e o mantivesse informado. Collor telefonou à mulher do governador morto, Fátima, de quem Edmundo Pinto estava se separando.
No início das investigações, a polícia paulista chegou a trabalhar com a possibilidade de crime passional, por suspeitas de que o governador era bissexual. Essa versão foi negada em São Paulo pela cunhada do político morto, Aldênia Barbosa de Oliveira.
Segundo depoimento do chefe da Casa Civil do governo do Acre, Luís Carlos Pietschmann, que integrava a comitiva acreana a São Paulo, ele próprio, o governador e o ajudante de ordens, capitão da PM, Marcos Winmann, foram sábado à noite a um cinema na avenida Paulista. Assistiram "Cabo do Medo", e à meia-noite já estavam todos de volta a seus aposentos.
O homicídio ocorreu entre 2h e 2h30, segundo o secretário de Segurança Pública, Pedro de Campos. O corpo do governador, com um tiro de raspão no crânio e outro no peito com balas calibre 38, foi encontrado só de cuecas, de costas, entre a cama e o console de uma das paredes do apartamento. Os peritos constataram indícios de luta corporal.
Outro delegado de polícia, Marco Antônio Desaguado, disse por sua vez que "há indícios de que os assassinos entraram procurando alguma coisa no quarto". A porta da saída de emergência do sétimo andar havia sido aberta por dentro, o que permitira a fuga dos assassinos pela escada, desde que pulassem o muro que dá acesso ao terreno da Maternidade de São Paulo.
A direção do hotel, segundo seu assessor de imprensa Celso Russomano, afirma "desconfiar que os assassinos se hospedaram com documentos falsos" no Della Volpe. Nenhuma porta foi arrombada, segundo a versão do hotel, que coincide com a da polícia.
O norte-americano John Franklin Jones disse que o grupo de homicídios era integrado por três mulatos, que aparentavam menos de 30 anos de idade.
No mesmo andar em que se estava hospedado Edmundo Pinto, três apartamentos eram ocupados por funcionários da construtora Norberto Odebrecht.
O corpo foi autopsiado no IML (Instituto Médico Legal), embalsamado e embarcado às 19h45, em Congonhas, num avião Learjet alugado pelo governo de São Paulo. Em Rio Branco, Edmundo Pinto está sendo velado no Tribunal de Justiça do Acre. Seu enterro deve ocorrer amanhã, em horário ainda não fixado, no cemitério São João Batista, em Rio Branco.


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