NA TERRA DE TRADIÇÕES AMARGAS


Publicado na Folha da Manhã, segunda-feira, 18 de janeiro de 1926

Neste texto foi mantida a grafia original

Palmital, a florescente localidade da Sorocabana, que, em Dezembro de 1922, inscreveu na historia politica do Estado um dos seus episodios mais degradantes, com a terrivel chacina de chefes politicos e eleitores adversos à situação, está, segundo se deduz de noticias seguras que de lá nos são enviadas, na imminencia de assistir à reprodução dos vergonhosos factos que a tornaram celebre, ha tres annos.
Nas ultimas eleições, o partido municipal conseguiu eleger todos os juizes de paz e quatro vereadores, mau grado os meios desleaes empregados pelo partido que obedece à orientação do sr. Candido de Mello, a cujo lado se acha o directorio politico, amparado por personalidade de destaque na alta politica do Estado.
A população de Palmital, que tivera no dr. Armando Ferreira da Rosa, quando alli esteve em Novembro, a garantia contra os sobresaltos que lhe preparava o batalhão "Ataliba Leonel", insuflado por certos politicos situacionistas, sente-se sob uma atmosphera de insegurança, que a todos preocupa e acabrunha, desde o dia 9 do corrente, data em que devia realizar-se a sessão de verificação de poderes dos novos vereadores.
Nesse dia, servindo-se da intriga como arma poderosa, os situacionistas procuraram obstar que fosse lavrada a acta de verificação de poderes. Para esse fim, appareceu naquella localidade e ficou como advogado do partido o official do registro de hypothecas de Salto Grande. Desempenhando-se de sua missão, esse senhor, acompanhado de capangas, penetrou no edificio da Camara e tentou, à viva força, lavrar uma acta de verificação de poderes, incluindo vereadores contra cuja eleição havia sido interposto o recurso legal, e procurando promover desordens, dentro da sala das sessões, no que foi abstado pelo delegado regional de Assis, que se encontrava presente.
Não desanimou, porém, ante esse fracasso. No dia 15, voltou acompanhado do 1º juiz de Salto Grande, que actualmente substitue o juiz de direito, tentando por todos os meios a seu alcance entrar na sala da Camara. Não conseguindo realizar seu intento, engendrou uma sessão fóra da Camara, em casa de um dos membros do directorio e, nessa sessão, presidida não se sabe si pelo juiz ou por algum dos vereadores, deu posse a uma nova edilidade, destinada a provocar, de futuro, conflictos prejudiciaes a Palmital e a seus habitantes.
O partido municipal agindo dentro da lei, deu posse aos novos vereadores eleitos para o triennio de 1926 a 1929. Todos os actos da Camara legal foram presenciados pelo delegado regional de policia de Assis.
Pelo partido foram dirigidos telegrammas ao presidente do Estado, presidente do Tribunal de Justiça, secretarios e juiz federal, pedindo providencias e a abertura de um inquerito a respeito.
O intuito dos situacionistas, segundo parece, formando uma Camara phantastica, cujo presidente e membros elegeram, foi abrir ensejo de uma pessoa, por elles instruida, recorrer desse acto, do qual o Tribunal não tomaria conhecimento. Serviria isso para, quando chegasse ao Tribunal o recurso da Camara verdadeiramente eleita e empossada, fosse o mesmo julgado prejudicado, em vista do julgamento anterior. Foi o que se deu ha pouco tempo com um recurso de Santa Cruz do Rio Pardo.
Eis a situação de Palmital, segundo nol-a conta pessoa seguramente informada. Admittida a veracidade dos factos enumerados, confrange e desola sabermos, mais uma vez, que taes factos se passam no Estado que se blasona de "leader" da Federação e o mais adeantado nas praticas democraticas. A frequencia de attentados à democracia ultimamente verificados deveria habituar os mais sensiveis. Custa, entretanto, a gente conformar-se com tal maneira de fazer politica - trahindo, escamoteando, falsificando e, si preciso, trucidando.

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