Quatro policiais da Rota, um deles apontando o revólver, perseguiram
o funcionário da "Folha" E.A.P., de 16 anos, dentro do próprio prédio
da empresa, por volta das 16 horas de ontem. E.A.P., que é mensageiro
da "Folha", voltava de uma agência do Correio, na alameda Barão
de Limeira, e a menos de uma quadra do jornal passou por uma viatura
da Rota, sendo perseguido. O rapaz foi alcançado à porta do elevador,
onde os policiais, com a arma apontada, o revistaram. Depois, um
policial cheirou as mãos do mensageiro, dizendo: "Tudo bem, pode
ir embora". Em seguida, os policiais se retiraram do prédio do jornal.
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Um
grupo de policiais militares invadiu, ontem à tarde, o prédio
deste jornal. Eram quatro soldados a perseguir um adolescente de
16 anos que serve a esta empresa como contínuo. Após
encurralar o jovem dentro do prédio, os PMs o revistaram
sob a mira de um revólver. A perplexidade dos servidores
da portaria da empresa foi tal, a ponto de paralisá-los até
para anotar as placas do carro policial de que se serviam os soldados
na sua caçada humana. Como entraram, os policiais saíram
sem qualquer satisfação e sem que se saiba,
até agora, por que razão perseguiam o rapaz.
Trata-se de uma clara, brutal, violenta e ilegal invasão
de propriedade atrabiliária por todos os títulos.
Para evitar situações opressivas como a descrita acima,
num passado ainda recente, a Nação, pela sua sociedade
civil, empenhou-se rigorosamente na derrogação da
legislação excepcional da qual o Ato 5 era instrumento
mais odiento.
No domingo, anteontem, outra cena de extrema densidade em violência
e brutalidade se deu no estádio do Canindé, aí
atingindo a torcida do Santos Futebol Clube, que disputava uma partida
contra a Portuguesa de Desportos. A pretexto de serenar os ânimos
dos torcedores, os soldados fizeram uma demonstração
de selvageria, espancando como não se faz com animais danados,
e indiscriminadamente, todos quantos lhes aparecessem pela frente.
A imprensa, documentando os fatos, que puderam ser vistos, inclusive
fotograficamente, na nossa edição de ontem, acabou
sendo também vítima das arbitrariedades, com a apreensão
de um filme desta "Folha".
Assim, em apenas dois incidentes e estes, envolvendo policiais
e a sociedade, vão se tornando incontáveis diariamente
soldados da Polícia Militar desrespeitavam toda e qualquer
regra de convívio, ao se voltarem contra um grupo de torcedores
indefesos e inocentes de qualquer crime ou contravenção
e agrediram a propriedade privada, ao invadir da forma mais ilegal
e brutal o prédio deste jornal.
Os policiais agem como se fossem donos e senhores do território
e das pessoas que nele vivem, colocam-nos a todos como prisioneiros
dentro de nossas cidades e, agora dentro de nossas casas também,
que podem ser invadidas a qualquer momento e sob pretextos que não
chegamos a conhecer, pois não se sentem como quem tem satisfação
a prestar.
Os cidadãos comuns, que se divertem e que trabalham, sentimo-nos
como reféns da Polícia, como sequestrados pelo Estado.
A quem podemos recorrer num momento em que somos vítimas
de tal brutalidade? Vai se tornando difícil saber a quem
apelar quando os órgãos policiais demonstram tamanha
desenvoltura, comportam-se como pessoas e como instituição
acima de qualquer lei ou controle.
Resta, no entanto, a esperança de que o sr. governador do
Estado cumpra o seu dever, tomando, tanto para um caso como para
o outro, as providências que o caso requer. Que são
urgentes e não podem se esgotar na tradicional promessa da
rigorosa sindicância, respostas que vão se tornando
como que um atestado de que tudo continuará como está.
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