O DR. ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA NOMEADO INTERVENTOR
EM SÃO PAULO
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Publicado
na Folha da Manhã, quinta-feira, 17 de agosto de 1933
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Neste texto foi mantida a grafia original
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RIO, 16 (Da nossa succursal pelo telephone) - A nomeação
do dr. Armando de Salles Oliveira, referendada no despacho da pasta
da Justiça, deverá assignalar o inicio de uma outra
orientação na politica federal, com a participação
crescente de São Paulo nas deliberações nacionaes.
Não é apenas um vaticionio que estamos fazendo, mas
tambem a interpretação rigorosa dos factos ultimamente
desenrolados, no desdobramento das demarches para a solução
do que deve ser o "ultimo caso paulista", e que não
puderam, a seu tempo, por razões que nos dispensamos de dizer,
ser relatas ao grande publico.
A formula "civil e paulista" vae ser tentada pela terceira
vez. Mas a rigor, pela primeira vez é ella praticada com a
garantia de uma indicação do povo paulista, através
de seus mais autorizados representantes, desde que os dois interventores
paulistas e civis que antecederam ao sr. Armando de Salles Oliveira
resultaram, um de um impasse de momento, e o outro foi escolhido direta
e exclusivamente pelo governo provisorio. Assim, a escolha de agora
tem outras origens e outras caracteristicas.
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Um
resumo das "Demarches" |
Ainda é inédita a verdadeira historia das demarches
do caso paulista, embora uma pequena ponta de véo tenha sido
levantada. Será tempo, pois, de esclarecer como se conjugaram
os esforços de diversas fontes para a pacificação
de São Paulo e a sua reintegração na vida politica
nacional.
Dois nucleos foram os "cabeços de ponte" que permitiram
os trabalhos iniciaes. Um delles constuiu-se dos emigrados politicos
enquanto que o outro se formava da mais radical ala revolucionaria,
aquella naturalmente orientada por Eduardo Gomes, Juarez Tavaro e
Ary Parreiras. Confinados em sectores politicos antagonicos, em ambos
havia uma tendencia comum, na compreensão de que não
seria possivel pacificar o Brasil sem contentar São Paulo e
que São Paulo não comportava senão uma solução
paulista, este foi o ponto de partida para a famosa "missão
Justo de Moares". Ligado por laços de sangue a São
Paulo e a diversos emigrados paulistas, tendo sido o advogado daquelles
revolucionarios em 22 e 24, o jurista patricio acceitou a tarefa de
estudar as possibilidades de execução de um plano de
congraçamento. Veio a S. Paulo, a primeira vez sem outras credenciaes
que a sua bôa vontade. Aqui voltou, mais tarde, no prosseguimento
de sua missão conjugando esforços com o embaixador José
Carlos de Macedo Soares. A arregimentação das forças
politicas de São Paulo já se beneficiou de uma nova
atmosfera de confiança na realização das eleições.
E, quando as correntes colligações na "Chapa Única"
tiveram seus direitos periclitantes, se fez sentir decisiva e definitiva
a influencia do poder central, através a actuação
de duas figuras que se ligaram para sempre ao espectaculo grandioso
de 3 de maio - o sr. Justo de Moraes e o general Daltro Filho.
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A
indicação do interventor |
A entrega de São Paulo às correntes victoriosas tinha
sido até então uma promessa encarada com scepticismo,
senão com descrença pela maioria do povo paulista, e,
realizadas as eleições, os dias que decorreram até
o conhecimento da apuração final foram novos motivos
para que se duvidasse da realização daquella promessa.
Conhecido o resultado definitivo, porém, novamente voltava
aqui o dr. Justo de Moares, para declarar os candidatos da "Chapa
Unica", os mais autorizados representantes de São Paulo,
que o governo provisorio queira entregar São Paulo aos paulistas,
sem restricções, sendo a de que fosse mantida a ordem
interna, e indagava se as correntes politicas, representadas sob a
legenda "São Paulo Unido", estavam em condições
para receberem o governo do Estado. E respondendo a esta consulta,
os 22 candidatos subscreveram um documento que honra São Paulo,
documento em que faziam a indicação de diversos nomes,
dentre os quaes poderia ser escolhido o novo interventor, que teria
o apoio politico das forças organizadoras da "Chapa Unica".
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O
novo interventor |
O dr. Armando de Salles Oliveira nasceu nesta capital no dia 24 de
dezembro de 1887. É filho do engenheiro Francisco de Salles
Oliveira, que foi senador ao Congresso Estadual, saneador de Campinas,
onde fez o serviço de aguas e esgotos e reorganizador da Cia.
de Estradas de Ferro Mogyana.
O dr. Armando de Salles Oliveira, é engenheiro formado pela
Escola Polytechnica de S. Paulo, e, quando ainda estudante, construiu
trechos da Estrada de Ferro Mogyana. Depois de formado, seu primeiro
trabalho foi a construcção da usina hydro-electrica
da corredeira de Itaipava, no rio Pardo, e pertencente à Cia,
de Electricidade S. Simão-Cajuru de que foi incorporador e
director.
Como director das companhias Força e Luz de Jaboticabal. Empresa
Orlon de Barretos e Empresa de Electrticidade do Rio Preto, planejou
e construiu a actual usina da cachoeira do Maribondo, empreendimento
difficil por estar a cachoeira distande da estrada de ferro.
Todas essas iniciativas foram levadas a affeito por elementos particulares
e sem ajudas de qualquer especie por parte do governo. Em 1923 e em
1928 fez viagens de estudos à Europa. Percorreu quasi todo
o continente. Especializou-se, sobretudo, nas questões metallurgicas,
electricas, de estradas de ferro e fabricação de adubos
syntheticos.
O dr. Armando de Salles Oliveira é actualmente vice-presidente
da Companhia Mogyana de estradas de Ferro, diretor presidente da S.
A. "O Estados de S. Paulo" e presidente do Instituto de
Organização Racional do Trabalho. Nunca occupou qualquer
cargo politico ou administrativo.
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Está
no Rio a Sra. Armando de Salles Oliveira |
RIO, 16 (Da nossa sucursal - Spelo telephone) - Passageira
do "Cruzeiro do Sul", chegou hoje ao Rio, acompanhada de
seu filho Julio, mme. Armando de Salles Oliveira, que foi recebida
na "gare" Pedro II pelo seu esposo, o novo Interventor paulista.
Mme. de Salles Oliveira, que tambem se hospedou no Annexo do Palace,
deverá regressar a S. Paulo, em companhia de seu esposo, de
automovel, sexta feira.
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Assignatura
do decreto de nomeação |
RIO, 16 (Da nossa succursal - Pelo telephone) - Foi assignado
hoje à tarde, pelo chefe do governo provisorio, o decreto nomeando
o sr. Armando de Salles Oliveira, para o cargo de interventor federal
em São Paulo.
Logo após a nomeação o sr. Armando de Salles
Oliveira esteve no palacio do Cattete, onde conferenciou com o sr.
Getulio Vargas. Nessa conferencia, o sr. Armando de Salles teria apresentado
ao sr. Getulio Vargas uma lista contendo os nomes dos secretarios
que s. s. pretende escolher para a administração paulista.
Dessa relação fazem parte pessoas filiadas aos partidos
que formam a frente unica e tambem estranhas à politica.
O sr. Armando de Salles Oliveira seguirá possivelmente sexta-feira,
de automovel, para S. Paulo.
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A
impressão causada na imprensa carioca |
RIO, 16 (Da nossa succursal - Pelo telephone) - Os jornaes
cariocas receberam com sympathia a nomeação do sr. Armando
de Salles Oliveira para substituir o general Waldomiro Lima na interventoria
paulista.
Todos os vespertinos, hoje, registram o acontecimento, louvando a
acção do governo, que assim procurou solucionar o chamado
caso paulista, entregando a S. Paulo um governo à altura das
aspirações do seu povo. Quasi todos os vespertinos dão
destacadamente traços biographicos do novo interventor.
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O
novo interventor permanece no Rio |
RIO, 16 - Embora noticias antecipadas pretendessem que o sr.
Armando de Salles seguiria hoje para S. Paulo, assim não aconteceu.
O novo interventor permanece ainda no Rio.
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O
novo interventor não residirá nos Campos Elyseos |
Segundo informação colhida em bôa fonte o novo
interventor de São Paulo, dr. Armando de Salles Oliveira, não
habitará o palacio dos Campos Elyseos, permanecendo em sua
residencia particular
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O
sr. Armando de Salles despachará no palacio da cidade |
O novo interventor federal, ao contrario de seus antecessores, não
despachará nos Campos Elyseos, mas sim no Palacio da Cidade,
onde será installada a secretaria da interventoria.
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