BRASILEIRA ESCRAVIZADA NO EGITO É RESGATADA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 17 de abril de 1992
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Depois de 74 dias em cárcere privado na cidade de Alexandria
(Egito), aprisionada pelo homem com quem pretendia se casar, a brasileira
Regina Cavalcanti, 40, volta ao Brasil na semana que vem. Resgatada
pelo consulado brasileiro no último dia 3 e hospedada num hotel
do Cairo, ela recebeu ontem uma passagem para voltar. Regina, ao ser
libertada, tinha escoriações e um braço imobilizado
por pancadas. Seu noivo, Ahmed Rashwan, que conheceu há três
anos numa praia de Niterói (RJ), está foragido.
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'Noivo"
encarcera brasileira no Egito |
Regina, viúva, namorava o egípcio desde 89; ela foi
surrada e passou 74 dias em cárcere privado
Da Sucursal do Rio
Depois
de passar 74 dias em cárcere privado em Alexandria, no Egito,
aprisionada pelo homem com quem pretendia se casar, a brasileira
Regina Coeli Monteiro Cavalcanti, 40, deve voltar ao Brasil na semana
que vem. Ela foi resgatada pelo consulado brasileiro no dia 3 e
está hospedada num hotel no Cairo.
A brasileira chegou ao Cairo com escoriações pelo
corpo, uma ferida no joelho e um braço imobilizado devido
a pancadas. Seu "noivo", o egípcio Ahmed Amim Rashwan,
34, está foragido.
Regina teve a ajuda de Azz, irmão que não se dava
com Rashwan, para fugir por alguns instantes e telefonar pedindo
socorro à irmã Moema, no Brasil. "Me tire daqui,
senão vou morrer", disse. O telefonema aconteceu no
dia 29 de fevereiro. Enquanto a família fazia contato com
o Itamaraty, Rashwan descobriu a escapada e passou a espancá-la.
A brasileira, viúva, conheceu Rashwan há três
anos, em Niterói (14 km do Rio). O namoro decolou e Rashwan
passou a vir frequentemente ao Brasil. Em janeiro de 1991, enviou
passagem de ida e volta ao Egito para que Regina fosse conhecer
sua família e oficializar o casamento. Ela só embarcou
no dia 22 de novembro.
Em Alexandria, onde vive a família Rashwan, descobriu que
seu futuro marido tinha menos dinheiro do que aparentava. "A
família dele é muito pobre", contou à
irmã por carta. Apesar disso, Regina se dizia "muito
feliz e ansiosa pelo casamento", marcado para 25 de dezembro.
Em uma das cartas reclamou à irmã da falta de notícias
da família. Só mais tarde descobriu que Rashwan não
lhe entregava a correspondência do Brasil. A uma semana do
casamento, ele cancelou a cerimônia sem explicação
convincente.
Nova data foi marcada e cancelada, até que chegou o dia em
que a passagem (da Alitália) determinava a volta de Regina
ao Brasil. Ela não viajou. "Agora sua passagem venceu
e você vai ter que me aturar", teria dito Rashwan. Daí
em diante, foi mantida em cárcere privado na casa do noivo,
onde era guardada por ele ou Madirra, sua irmã.
"Acho que a intenção dele era prostituí-la",
diz Moema. Para ela, só a volta da irmã esclarecerá
totalmente o caso.
O embaixador do Egito no Brasil, Mahmoud Mourtada, disse ontem à
Folha que desconhecia e estranhava o caso de Regina Cavalcanti.
"Não é comum que mulheres sejam submetidas a
violências no Egito", afirmou.
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Namoro
teve início no RJ |
Da Sucursal do Rio
Regina
conheceu Rashwan numa tarde do verão de 89, quando ele enviou
um bilhete através do garçom convidando-a para conversar
em sua mesa. Ela mandou o garçom de volta com um sonoro "não"
e continuou tomando suco de laranja à beira da praia de Icaraí,
em Niterói (RJ).
Mas o egípcio insistiu e acabou conquistando Regina, representante
de vendas de uma confecção carioca que vivia com a
filha adolescente do primeiro casamento. As roupas de linho de Rashwan
e seus gastos em restaurantes caros impressionaram a brasileira.
O namorado viajava pelo mundo e mandava cartões apaixonados
dos mais diferentes países. Rashwan falava pouco de sua religião,
a muçulmana, e dizia-se "já ocidentalizado".
Sua abstinência alcoólica combinava com a de Regina,
católica praticante.
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