DEMOCRACIA - REAFIRMA FIGUEIREDO


Ao assumir o poder, o presidente renova suas promessas de abertura política e o aceno à conciliação

Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 16 de março de 1979

"Reafirmo: não descansarei até estar plenamente assegurado - sem sobressaltos - o gozo de todos os direitos do homem e do cidadão inscritos na Constituição."
Esse foi um dos compromissos solenemente assumidos ontem pelo general João Batista Figueiredo, 61 anos, no discurso que pronunciou na cerimônia de transmissão da faixa presidencial, no Palácio do Planalto, depois de empossado no cargo de presidente.
"Reafirmo o meu gesto: a mão estendida em conciliação", disse também o novo presidente. E ainda:
"Reafirmo: é meu propósito inabalável (...) fazer deste País uma democracia."
Ao transmitir o poder, o general Ernesto Geisel, 71 anos, discursou proclamando-se em liberdade para viver a vida pacata de simples cidadão e também para dizer, "quando me apetecer, em alto e bom som, o que quiser, inclusive criticar as ações e omissões dos outros".
Logo depois que Geisel deixou o Palácio do Planalto, com os olhos lacrimejantes e ao som da "Valsa do Adeus", Figueiredo deu posse aos seus ministros e atribuiu-lhes as primeiras missões: Murilo Macedo, do Trabalho, vai tentar hoje em São Paulo negociar o fim da greve dos metalúrgicos do ABC; Mário Andreazza segue para o interior da Bahia, para inspecionar as cidades inundadas pelo rio São Francisco; Petrônio Portela começa a redigir o decreto que suspenderá a censura às obras literárias, além de acelerar os estudos finais para a decretação da anistia; e Eduardo Portela vai ao Rio, na esperança de acabar com a greve dos professores cariocas.
A festa da posse, em Brasília, teve pouca participação popular. Mas, em contrapartida, impôs ao novo presidente um cansativo programa de cumprimentos, cerimônias solenes e até uma festa popular, onde mais uma vez Figueiredo se revelou um homem pouco comprometido com as exigências do protocolo. Este só foi mesmo rigorosamente observado quando ele se encontrou com os presidentes do Paraguai e da Bolívia e com os chefes das missões estrangeiras à sua posse, inclusive a esposa do vice-presidente dos Estados Unidos, sra. Joan Mondale, a quem ofereceu a garantia de que os direitos humanos e o programa nuclear brasileiro não são mais pomo de discórdia a separar os dois países.
Figueiredo já convocou para segunda-feira de manhã a primeira reunião do seu Ministério, oportunidade em que serão definidas prioridades da nova administração federal. Hoje ele completa o processo de nomeação de sua equipe de assessores diretos, inclusive propondo ao Congresso a indicação do coronel Aimé Lamaison para governar o Distrito Federal. O mesmo farão seus ministros, que ontem, ao assumirem, revelaram os pontos principais de suas gestões. Pontos quase exclusivamente administrativos, exceto por duas manifestações de caráter eminentemente político: do ministro do Exército, general Valter Pires, que emprestou solidariedade "aos que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se oporem aos agitadores e terroristas", e do ministro da Justiça, Petrônio Portela, afirmando que não existe democracia plena, mas que só através da democracia se pode alcançar a justiça e a paz.

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Cumprindo rigorosamente o horário estabelecido para as cerimônias de posse, o general Figueiredo chegou ao Congresso Nacional às 9h50 de ontem. Às 10h03, prestou o compromisso de praxe ("Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil"), tornando-se o 5º presidente da Revolução.
Terminada a rápida e simples cerimônia no Congresso, Figueiredo dirigiu-se num Rolls Royce conversível ao Palácio do Planalto, onde receberia a faixa. Pontualmente, às 11 horas, os generais Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo desceram a rampa interna do palácio e chegaram ao salão de honra, no 2º andar. Atrás deles, ficaram os dois vice-presidentes e os antigos e novos ministros; do lado direito, os familiares; à esquerda, os convidados especiais; e à frente, as 99 missões estrangeiras que compareceram à posse.
O discurso do general Geisel durou 8 minutos. Recebida a faixa presidencial, Figueiredo fez o seu pronunciamento e depois acompanhou seu antecessor até o pé da rampa principal do palácio, onde se abraçaram e se despediram.
Às 11h45, junto com o vice Aureliano Chaves e respectivas esposas, Figueiredo dirigiu-se ao parlatório, de onde saudou os escolares e populares que se mantinham em frente ao palácio. Manteve depois reuniões separadas com os presidentes da Bolívia e do Paraguai, tirou a primeira foto oficial com seus ministros e foi almoçar às 12h50 na Granja do Torto.
Às 15 horas, o novo presidente participou de uma festa popular no Ginásio de Esportes Presidente Médici, onde discursou de improviso, saudando os 12 mil jovens que ali se encontravam.
Às 21h15, Figueiredo chegou ao Itamaraty, onde participou de uma recepção à qual compareceram cerca de 6 mil convidados especiais.


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