MALUF PODERÁ SER CHAMADO À CPI - TERROR


Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 16 de abril de 1981

O presidente da CPI do Terror, senador Mendes Canale (PP-MS) anunciou ontem que proporá a convocação do governador Paulo Maluf para prestar depoimento à Comissão. A decisão foi tomada depois que o deputado estadual Fernando Morais (PMDB-SP) informou ao senador que os mesmos servidores publicos de São Paulo identificados nos incidentes da Freguesia do Ó, em junho do ano passado, estiveram envolvidos no sequestro do professor Dalmo Dalarai, ocorrido no mês seguinte.
No Rio, o deputado federal modesto da Silveira (PMDB-RJ) denunciou a existência de manobras "para bloquear os trabalhos das CPIs do Terror e da Corrupção", em virtude dos depoimentos do ex-presidente da OAB, Seabra Fagundes e do advogado Válter Amaral.

Canale pretende chamar Maluf à CPI do Terror

BRASÍLIA (Sucursal) - Informado pelo deputado estadual Fernando Morais (PMDB-SP), de que os mesmos servidores do governo de São Paulo identificados nos incidentes de Freguesia do Ó estão envolvidos no sequestro do professor Dalmo Dalari ocorrido no ano passado o presidente da CPI do Terror, o senador Mendes Canale (PP-MS), vai propor a convocação do governador Paulo Maluf.
A sugestão partiu do deputado peemedebista, que entregou ontem ao presidente da CPI e ao senador Franco Montoro (PMDB-SP) cópias do inquérito realizado pela Assembléia Legislativa de São Paulo, sobre as ocorrências na Freguesia do Ó, onde populares foram agredidos por funcionários estaduais depois de valerem o governador.
Fernando Morais também sugeriu que a CPI do Terror ouça o chefe da Casa Militar do Palácio do Morumbi, general Torquato Tasso Neto; o comandante do Serviço Secreto da PM paulista, tenente-coronel Carlos Carvalho, e o secretário das Administrações Regionais de São Paulo, Francisco Nieto Martins que, segundo o deputado, "foi quem organizou o esquema para-militar na Freguesia do Ó".
Mendes Canale agradeceu a colaboração do deputado paulista observando que o ex-presidente da OAB, Seabra Fagundes, havia indicado os trabalhos da Comissão de Inquérito promovidos pela Assembléia Legislativa como exemplo do que se pode fazer na área parlamentar "pois a investigação foi muito além do que a realizada pela própria polícia".
O presidente da CPI do Terror observou que "os membros do PDS podem querer impedir o depoimento dos nomes sugeridos por Fernando Morais mas, ainda que isso ocorra, será inevitável o exame do problema quando chegar a hora de ouvir Dalmo Dalari, cuja convocação já está aprovada".

Peemedebista diz que governo teme as 2 comissões

RIO (Sucursal) - O deputado federal Modesto da Silveira (PMDB-RJ) denunciou ontem a existencia de "manobras para bloquear os trabalhos das CPIs do Terror e da Corrupção", a partir dos depoimentos, na semana passada, do ex-presidente da OAB, Seabra Fagundes, sobre o atentado a bomba contra a entidade e do advogado Válter Amaral, que falou sobre o caso Lutfalla.
Para Modesto da Silveira, a concordância do PDS com a constituição dessas duas comissões significou "o maior erro político do governo nos últimos anos". Na terça-feira passada, por ocasião do depoimento do advogado Seabra Fagundes, surgiram, segundo o parlamentar, demonstrações de que o governo pretende "cercar a apuração dos casos de terror e corrupção por parte do Congresso".
"O governo parece ter percebido a ameaça que o funcionamento das duas CPIs representa para os sistemas de corrupção e subversão que vivem embutidos ou institucionalizados no regime"- afirmou o deputado, que é membro da CPI do Terror.
As manobras teriam começado depois que Seabra Fagundes denunciou na CPI do Terror o descumprimento do compromisso oficial de membros do governo, entre os quais o ministro Abi Ackel da Justiça, de manter a OAB informada das investigações sobre os atentados a bomba ocorridos no Rio em agosto. Na ocasião, ele acrescentou que manteve encontros sigiloso com dirigentes de órgãos de segurança que lhe asseguraram que se houvesse provas ou evidências de participação de agentes de segurança em atos terroristas, nada poderia ser apurado.
Nesse mesmo dia, o presidente da CPI da Corrupção, Hugo Mardini, vice-líder do PDS, desmarcou o depoimento que o ex-advogado do BNDE, Válter Amaral, faria no dia seguinte, o que acabou ocorrendo, mas sem a participação dos parlamentares do PDS, que poderão agora anular as denúncias contra o governador Paulo Maluf e o ex-ministro Reis Veloso por irregularidades na concessão de empréstimos ao grupo Lutfalla.
O deputado Modesto da Silveira disse que um inquérito sobre o caso Lutfalla, iniciado pela Polícia Federal, permanece até hoje obstruído no Ministério da Justiça.

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