BRASILEIROS ABREM FOGO EM SÃO DOMINGOS
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Publicado
na Folha de S.Paulo, terça-feira, 15 de junho de 1965
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Neste texto foi mantida a grafia original
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São Domingos, 14 (Folha) - Os brasileiros tiveram ontem
à noite sua primeira troca de tiros com as forças constitucionalistas
de Francisco Caamano, segundo fontes oficiais da Organização
dos Estados Americanos. O incidente não teve repercussões
e foi qualificado como uma "violação da cessação
do fogo" na linha que as tropas mantêm na avenida Pasteur,
que divide o setor constitucionalista da zona internacional de segurança.
Segundo a OEA, houve disparos do lado onde se encontram os caamanistas,
aos quais responderam as forças brasileiras. De acordo com
as primeiras informações, não houve vitimas.
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Modelo
para OEA |
Peritos da Secretaria Geral da Organização dos Estados
Americanos consideram que a estrutura juridica da força armada
da ONU em Chipre poderia servir de modelo à Força Interamericana
de Paz na Republica Dominicana. Entendem esses peritos que a força
da ONU em Chipre é a que, entre os precedentes, apresenta maior
semelhança com a que agora existe em São Domingos.
No caso da Republica Dominicana, um acordo "ad hoc" deverá
ser concluido entre as duas facções, enquanto se aguarda
a formação de um governo nacional dominicano.
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São
Domingos: tiroteio entre brasileiros e forças de Caamano |
São Domingos, 14 (Folha) - Os brasileiros tiveram ontem
à noite sua primeira troca de tiros com as forças constitucionalistas
do coronel Caamano, segundo fontes oficiais da OEA.
O incidente não teve repercussões, e foi qualificado
como uma "violação da cessação de
fogo" na linha que as tropas mantêm na avenida Pasteur,
que divide o setor constitucionalista da zona internacional de segurança.
Esta foi uma das sete violações ocorridas ontem.
Segundo as fontes da OEA, houve disparos do lado constitucionalista,
aos quais responderam os brasileiros, às 23 horas.
Parece que não houve vitimas e o fogo não foi intenso.
Os informantes dizem que o incidente não pode ser qualificado
como choque dos brasileiros com os constitucionalistas.
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Negociações |
Os membros da Comissão "ad hoc" da OEA voltaram a
reunir-se hoje durante três horas, com o general Imbert, presidente
do governo de "reconstrução nacional", em
busca de uma solução para a crise dominicana, mas nada
transpirou.
O general Imbert estava acompanhado por varios de seus colaboradores.
A Comissão "ad hoc" estava representada pelo secretario-geral
da OEA José Mora e pelos embaixadores do Salvador e dos EUA,
Ramon de Clairmont Duenas e Ellsworth Bunker, respectivamente.
O presidente da Comissão Interamericana dos Direitos do Homem,
Manuel Bianchi, prosseguiu seu trabalho de investigação
nos carceres e hoje foi à cidade de Santiago de Los Caballeros.
O coronel Francisco Caamano reafirmou hoje os cinco pontos principais
de seu programa politico, durante uma manifestação realizada
por ocasião do sexto aniversario da criação do
"Movimento 14 de Junho".
Tomando da palavra, perante milhares de pessoas, Caamano repetiu a
intenção de seu governo de seguir a Constituição
de 1963, de garantir a vigencia do Congresso deste mesmo ano e de
ver organizado um governo democratico com uma plataforma revolucionaria,
onde as posições dos militares constitucionalistas sejam
respeitadas no Exercito; e finalmente, que as tropas estrangeiras
saiam da Republicana Dominicana.
A manifestação, durante a qual varios oradores lançaram
ataques violentos contra os EUA, transcorreu sem incidentes e serviu
para dar à zona caamanista um ambiente de festa.
Antes, os caamanistas assistiram a uma missa, mandada rezar para celebrar
o aniversario da rebelião de 14 de junho contra a ditadura
de Trujillo. A missa foi oficiada pelo franciscano espanhol Mateo
Rodriguez Carreteroy Salamanco. Da igreja das Mercês, a procissão
marchou silenciosamente até o Panteão Nacional, onde
foram depositadas flores nos tumulos dos que morreram na luta.
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Preso
no aeroporto |
O dirigente social-cristão Caanao Javier foi detido ontem no
aeroporto de Punta Caucedo, na Republica Dominicana, ao regressar
de uma viagem pela America do Sul. Fora designado pelo coronel Caamano
para negociar o reconhecimento do seu governo por outros paises latino-americanos.
Javier desembarcara de um avião comercial, mas foi detido no
aeroporto, que está nas mãos de Imbert.
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Mora
informa a ONU |
O sr. José Mora informou no ultimo dia 10, ao secretario-geral
da ONU, U Thant, que, "em razão dos graves fatos que acabam
de ser descobertos em São Domingos e que indicam violações
dos direitos do homem", solicitou a uma comissão de peritos
em criminologia, dirigida pelo dr. Daniel Schweitzer, do Chile, que
proceda com urgencia a uma investigação.
Daniel Schweitzer, por sua vez, já comunicou ao Ministerio
das Relações Exteriores de seu país ter aceito
a indicação. Viajará quarta-feira para São
Domingos, Schweitzer que goza de reputação como jurista,
realizou importante trabalho durante a investigação
sobre o assassinio do dirigente boliviano Car Unzaga.
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Reabilitação |
Jaime Posadas, subscretario-geral da OEA revelou hoje que os países
que rejeitaram a constituição de uma "força
de paz" interamericana, serão, mesmo assim, convidados
a participar de um programa civil para a reabilitação
economica e social da Republica Dominicana.
Posadas chegou ao Mexico para assistir a uma reunião tecnica
sobre o ensino medio, que se inaugura amanhã, para projetar
a modernização deste setor educacional em toda a America
Latina, e promovida pela OEA.
No Mexico, um dos paises que se manifestaram contra o envio de tropas
armadas a qualquer país do hemisferio, altos funcionarios do
governo estudam atualmente a posição a ser adotada na
reunião da OEA, que se realizará no Rio de Janeiro,
a partir de 4 de agosto.
Posadas declarou que o programa proposto para a Republica Dominicana
está sob a direção de "emitentes latino-americanos",
e que todos os países do hemisferio serão solicitados
a contribuir com sua experiencia e ajuda tecnica.
No Panamá, segundo se informa, o ex-presidente mexicano Adolfo
Lopes Mateos declarou que "a intervenção armada
na Republica Dominicana deveria ser repudiada".
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Uruguai
contra |
O Uruguai se opõe à criação da força
permanente da OEA, anunciou o chanceler Luis Vidal Zaglio. "O
Uruguai é contrario à formação dessa força,
proposta pelos EUA, por considerar que se trata de uma forma de intervenção".
Como se sabe, o Chile já tomou identica posição,
recusando-se terminantemente a concordar com a formação
dessa força, no que foi seguido pelo Peru, Mexico e Venezuela.
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Eleições |
Jack Mood Vaughn, secretario de Estado adjunto para assuntos interamericanos,
dos EUA, disse que não será possivel realizar eleições
na Republica Dominicana senão dentro de um ano ou ano e meio,
Vaughn, que esteve em São Domingos a pedido do presidente Johnson,
disse: "Infelizmente, confesso que não há a vista
um governo que possa impor-se ao cargo naquele país".
Falando em um programa nacional de televisão, patrocinado pela
"American Broadcasting Corporation", Vaughn afirmou que
já foram tentados varios acordos para o estabelecimento de
um governo dominicano, "porem - disse - aparentemente não
estamos em condições de consegui-lo".
Preconizou que demorará ainda muito tempo para que as partes
em conflito na Republica Dominicana cheguem a um entendimento.
Respondendo sobre a possibilidade de um recrudescimento da luta nesse
país, Vaughn disse: "Esse perigo certamente existe."
Segundo Vaughn os EUA já gastaram quase 20 milhões de
dolares na Republicana Dominicana para pagamento do funcionalismo,
ou para solver outras obrigações das autoridades dominicanas,
e acrescentou: "Não vejo o fim disto."
Lembrou que Johnson prometeu ajuda financeira à Republica Dominicana,
e que essa assistencia deveria continuar "por algum tempo";
espera seja possivel estabelecer uma força de paz com soldados
das nações latino-americanas.
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Senado
investigará |
Senadores norte-americanos pretendem realizar uma investigação
parlamentar sobre a guerra civil dominicana. Ela começará
com audiencias na Comissão de Relações Exteriores
do Senado, cujo presidente, é o senador J. William Fulbright,
dentro de 15 dias.
Um novo integrante da Comissão, o senador Eugene J. McCarthy,
disse que a investigação pode levar à preparação
de recomendações para reformar a Carta da OEA, e das
relações dos EUA com ela. McCarthy disse que a esperança
"era estabelecer normas de procedimento" que possam ser
utilizadas em futuras crises na America Latina, do tipo da dominicana".
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Johnson
debate |
O presidente Lyndon Johnson debateu hoje a situação
do Vietnã, da Republica Dominicana, e das Nações
Unidas, assim como o projeto de ajuda exterior, com J. William Fullbright.
Porta-vozes da Casa Branca disseram que esta foi uma das reuniões
periodicas entre Johnson e Fullbright.
Circulos oficiais revelaram que Johnson tambem discutiu a situação
dominicana com Thomas Mann, subsecretario de Estado para Assuntos
Economicos, e com McGeorge Bundy, conselheiro de politica exterior
da Casa Branca.
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