DO POVO, PELO POVO E PARA O POVO


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 14 de novembro de 1982


No último debate a importância do voto direto na legitimação do poder político

Como o governador a ser eleito poderá usar o seu poder político para influir no processo de democratização do País e qual será seu relacionamento com o governo federal?
Em resposta à pergunta básica da sociedade civil paulista, os cinco candidatos ao governo de São Paulo, presentes ao último debate promovido pela "Folha" e Rede Bandeirantes, reafirmaram sua convicção de que as eleições que se realizam amanhã em todo o Brasil darão legitimidade, através do voto popular, ao poder político estadual em suas negociações com Brasília.
Enquanto Reinaldo de Barros, do PDS, defende "apoio integral, auxiliando o presidente Figueiredo a fazer e concluir esta abertura", Franco Montoro, do PMDB, considera "as eleições de 15 de novembro apenas o ponto de partida de um processo democrático a que o povo tem direito". Se, para Jânio Quadros, do PTB, "São Paulo não pede pedindo, pede exigindo", Rogê Ferreira, do PDT, lembra que "o governador eleito vai, depois de 20 anos, representar realmente o povo e não ser um biônico escolhido por uma minoria", o que lhe dará posição privilegiada em suas negociações com Brasília. Tese semelhante defende Luís Inácio Lula da Silva, do PT, ao enfatizar que o governo federal precisa "saber que uma grande parcela da riqueza deste País é extraída daqui, das mãos das classes trabalhadoras, e tem que devolver para cá".
Durante quatro horas, os candidatos a governador responderam no auditório da "Folha", às perguntas apresentadas pelo presidente da seção paulista da OAB, José de Castro Bigi, em nome da sociedade civil.

EDITORIAL

Missão cumprida

As palavras do nosso mediador Joelmir Beting —"mais luz do que calor"— descrevem bem o tipo de resultado pretendido e em larga medida alcançado por esta "Folha" (...).
Mais luz, ou seja, mais o esclarecimento desapaixonado das propostas submetidas ao julgamento do eleitorado, do que calor, ou seja, do que a veemência de escaramuças verbais que inflamam mais do que informam. Nesse espírito, de comum acordo com os representantes dos cindo candidatos ao governo de São Paulo, foram estabelecidas e aplicadas as normas para o último debate antes das eleições. O nível geralmente elevado em que se travou a discussão diz tanto do acerto dessa orientação quanto da maturidade dos participantes. Maturidade que corresponde, em última análise, ao amadurecimento do eleitorado paulista.
Ponto de fundamental importância a destacar como sintoma desse amadurecimento: a participação decisiva de setores da sociedade organizada na preparação do evento, propondo as questões que foram formuladas aos candidatos pelo presidente da Ordem dos Advogados de São Paulo, José de Castro Bigi.
A mesma maturidade, estamos certos, permitirá a cada leitor deste jornal aproveitar a contribuição que oferecemos para uma opção consciente, bem informada, à altura da importância histórica destas eleições.
Simples palavras frequentemente dizem pouco sobre as intenções dos políticos e ainda mais sobre a possibilidade efetiva de ver seus propósitos anunciados postos em prática. Um estrangeiro que se limitasse a tomar conhecimento dos programas dos partidos em funcionamento no Brasil acreditaria estar diante de um país avançadíssimo, dotado de uma democracia pujante e de um generoso Estado de bem-estar social. Sabemos que não é bem o caso. Por isso as declarações de intenção, assim como a defesa ou a crítica que se faz do passado, não podem deixar de ser postas na balança junto com a atuação pregressa de cada partido e de cada candidato individualmente.
Não obstante, confiamos em que o esforço empreendido por este jornal para o esclarecimento das propostas de partidos e candidatos, começando pelo debate de há dois meses, passando pela seção diária "Palanque", mais tarde substituída por "Comício", e culminando com o debate da última sexta-feira, ofereceu elementos valiosos para o julgamento do eleitor.
Mais do que meras declarações de princípios gerais, buscamos registrar em detalhe e o mais concretamente possível as soluções propostas para os principais problemas deste Estado e do País. As palavras comprometem, apesar de tudo: o que foi dito e registrado servirá de base, no futuro próximo, não só para cobrar realizações do governador eleito, como também par medir a coerência com que se comportam todos os demais.
Esta nos parece uma contribuição efetiva da imprensa para o afastamento das instituições democráticas no Brasil, com a palavra, agora, o eleitor, que amanhã vira uma página decisiva do difícil mas fascinante processo de transição para a democracia no qual estamos todos engajados.


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