BISPOS FAZEM UM APELO POR TRABALHADORES


Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1983

"A razão do desespero do povo é principalmente o desemprego", declara a moção aprovada ontem na 21ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Itaici, município de Indaiatuba (SP). O documento lança "um apelo veemente" para que, "sem demora, se ponha em prática uma política em favor dos trabalhadores".
"Por não se levar em consideração os princípios de justiça lembrados pelo Papa, a economia brasileira está doente", prossegue a moção, acrescentando: "Não se pode aceitar o desemprego como uma fatalidade, mas como uma calamidade social, fruto de uma organização econômica injusta, que onera a consciência dos responsáveis e, de certo modo, de toda a coletividade."

Igreja reivindica política voltada ao trabalhador

ITAICI, Município de Indaiatuba - Os 257 bispos reunidos na 21a.Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, fizeram ontem "um apelo veemente" para que, "sem demora, se ponha em prática uma política em favor dos trabalhadores". Em moção aprovada em sessão plenária, a CNBB afirma que não pode "deixar de ouvir o grito de desespero do povo", especialmente porque "a razão desse desespero é principalmente o desemprego".
Esse primeiro documento de teor político produzido pelos bispos, em Itaici, declara que, "por não se levar em consideração os princípios da Justiça lembrados pelo Papa, a economia brasileira está doente". A CNBB diz reconhecer a complexidade do problema social gerado pelo desemprego, "mas não pode aceitá-lo como uma fatalidade, um terremoto, ou um furacão, mas uma calamidade social, fruto de uma organização econômica injusta".
A CNBB criticou também a falta de atendimento específico aos desempregados brasileiros, ao contrário do que ocorre em outros países. Os bispos citaram ainda um trecho do discurso que o papa João Paulo 2° fez aos trabalhadores, no dia 3 de julho de 1980, no estádio do Morumbi: "A primeira e fundamental aspiração de vocês é trabalhar. Quantos sofrimentos, quantas angústias e misérias são a causa do desemprego. Por isso, a primeira e fundamental preocupação de todos e de cada um, homens de governo, políticos, dirigentes de sindicatos e donos de empresa deve ser esta: dar trabalho a todos. Esperar a solução do problema crucial do desemprego como um resultado mais ou menos automático de uma ordem e de um desenvolvimento econômico, quaisquer que sejam, nos quais o emprego aparece apenas como uma consequência secundária, não é realista e, portanto, não é admissível."
Nessa moção contra o desemprego, os bispos afirmam que "ninguém pode cruzar os braços. Muitas soluções foram sugeridas para resolver ou minorar os males do desemprego, seja por autoridades, seja por entidades de classe, seja pela Igreja. Que, sem demora, se ponha em prática uma política em favor dos trabalhadores para remediar essa situação".

Clima volta à normalidade

Passadas as eleições, a calma voltou à 21a. Assembléia Geral da CNBB. A reeleição de dom Ivo Lorscheiter (presidente) e de dom Luciano Mendes de Almeida (secretário-geral), além da indicação de dom Benedito Ulhoa Vieira para a vice-presidência foi bastante comentada ontem, por bispos e padres que participam do encontro. Indistintamente, o clima em Itaici era de indisfarçável alegria, já que as atuais linhas pastorais - entre as quais se destacam a opção preferencial pelos pobres e o incentivo às comunidades eclesiais de base - serão mantidas, conforme afirmou o arcebispo de Belo Horizonte, dom João Resende Costa.
Além disso, ontem, a eleição dos oito novos integrantes da Comissão Episcopal de Pastoral (CEP) comprovou o domínio dos progressistas na CNBB. Todos os eleitos estão comprometidos com uma igreja voltada também para as questões sociais. São eles: dom Celso Queirós, bispo auxiliar de São Paulo, com 205 votos; dom Albano Cavalin, auxiliar de Curitiba, com 184 votos; dom Sinésio Bohn, de Novo Hamburgo, com 188 votos; dom Geraldo Angelo, arcebispo de Londrina, com 151 votos; dom Afonso Gregori, auxiliar do Rio de Janeiro, com 161 votos; dom José Martins da Silva, arcebispo de Porto Velho com 183 votos; dom Davi Picão, bispo de Santos, com 178 votos e dom Celso José Pinto, de Vitória da Conquista, também com 178 votos.
 

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