REBELIÃO EM BRASILIA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 1963
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Sublevação
de sargentos dominada pelo exercito - Reunida a Camara - Prontidão
nos quatro Exercitos
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RIO, 12 (FOLHA) - O general Jair Dantas Ribeiro, ministro da Guerra,
determinou esta manhã aos comandos dos quatro Exercitos que
mantenham rigorosa prontidão em toda as unidades.
Às 10 h 35 a Camara iniciou uma sessão plenaria. Imediatamente
subiu à tribuna o lider do governo, sr. Tancredo Neves, que
leu o texto da nota oficial do Ministerio da Guerra sobre o levante.
Aduziu o parlamento que, segundo informações oficiais,
"reina calma em todo o país, com as populações
voltadas para suas atividades cotidianas".
Acrescentou, ainda, que o presidente João Goulart, que se encontrava
no interior do Rio Grande do Sul, tão logo teve conhecimento
dos fatos, dirigiu-se para Porto Alegre, onde se encontra no momento,
"tomando as providencias indispensaveis à manutenção
da ordem". Ao concluir a leitura da nota do Ministerio da Guerra,
o sr. Tancredo Neves leu a data de 12 de agosto de 1963, ao invés
de 12 de setembro. Despertado pelos risos do plenario, pediu desculpas,
retificou e concluiu seu discurso, bastante vermelho.
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1
morto e 2 feridos no primeiro choque com os amotinados |
BRASILIA, 12 (FOLHA) - Às 9 horas de hoje, os sargentos dominavam
ainda os pontos estrategicos da cidade e controlavam a situação.
Carros de combate ocuparam a Esplanada dos Ministerios e o transito
civil foi interrompido. Nesse local, ocorreu o primeiro choque entre
as forças lideradas pelos sargentos e a oficialidade, morrendo
o soldado Divino Alves dos Anjos e ficando feridos José Boldão
Lessa e Marcelo Martins Morais, todos do Corpo de Fuzileiros Navais.
Todos os vôos foram suspensos e os telefones cortados pela Infantaria
da Aeronautica, que tomou a unica central telefonica da cidade.
A maior parte da oficialidade estaria presa nas guarnições,
mas a informação não pôde ser confirmada
porque o ingresso nas bases militares é impossivel.
A Radio Nacional foi ocupada às 9h 05, e, nesse exato momento,
o capitão Paulo Isaías de Macedo Filho, do gabinete
do ministro da Guerra, divulgava uma nota oficial dizendo que ocorrera
"um pequeno levante de militares graduados" mas que a situação
já estava sob controle e tendia a normalizar-se.
Os meios parlamentares foram colhidos de surpresa pelo movimento:
os primeiros deputados a tomar conhecimento dele foram os que deviam
embarcar no avião que deixaria Brasilia às 6 horas da
manhã, rumo a Uberlandia e São Paulo. Dada a ausencia
de informes sobre a situação no restante do país,
a unica repercussão que se observa ainda nos circulos politicos
é a de incerteza quanto aos proximos acontecimentos.
Rebelando-se contra a decisão do Supremo Tribunal Federal,
que confirmou a inelegibilidade dos sargentos, os graduados aquartelados
em Brasilia, principalmente da Marinha e da Aeronautica, começaram
na madrugada de hoje a atacar e ocupar pontos importantes da cidade,
tais como os Ministerios da Marinha, da Guerra, da Justiça
e outros locais. Pouco a pouco, entretanto, tropas do Exercito, utilizando
tanques pesados e em meio a intensa fuzilaria, foram retomando os
pontos ocupados pelos rebeldes, os quais, às 11 horas, dominavam
apenas a Area Alfa da Marinha, onde, entretanto, estão localizados
seus maiores efetivos. Até agora, houve pelo menos um morto
e dois feridos.
Em todo o resto do país, a situação é
da mais completa normalidade, tendo o ministro da Guerra ordenado
a todos os Exercitos que se mantenham de prontidão.
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Descoberto
o cabeça do movimento |
BRASILIA, 12 (FOLHA) - Fontes do Ministerio da Guerra revelaram que
o cabeça do movimento é o primeiro sargento Antonio
Prestes de Paula, da Aeronautica. Aduziram que foi apreendida uma
pasta de sua propriedade, com farta documentação sobre
os prepatativos do movimento. Não foi informado, até
o momento, se o chefe dos rebeldes já foi detido ou não.
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O
Exercito domina situação em Brasilia |
BRASILIA, 12 (FOLHA) - Um morto e dois feridos, até agora,
é o balanço do movimento dos sargentos da Marinha e
da Aeronautica, que, rebelados contra a decisão do Supremo
Tribunal Federal, - o qual ontem à noite confirmou a inegabilidade
dos graduados - passaram desde a madrugada a ocupar pontos vitais
da cidade, impedindo, inclusive, o acesso dos deputados a Camara Federal.
Os rebeldes conseguiram deter grande numero de oficiais e até
mesmo o cel. Carlos Cairoli, comandante do Departamento Federal de
Segurança Publica.
Entretanto, já de manhã, oficiais das três armas
e tropas do Exercito iam aos poucos retomando o comando dos acontecimentos.
Sucessivamente, os rebeldes iam sendo desalojados do Ministerio da
Marinha e outros que haviam ocupado. Às 11 horas, os revoltosos
mantinham ainda sob sua direção apenas a Area Alfa da
Marinha, onde estão cercados por tropas do Exercito. Entretanto,
é ali que estão concentrados os maiores efetivos dos
rebelados.
Varios choques ocorreram entre as forças comandadas pelos oficiais
e os sargentos. As fuzilarias e as manobras de carros de combate e
tanques pesados marcaram a vida da cidade na manhã de hoje.
As comunicações por telefone e telex estiveram varias
horas interrompidas. Os vôos continuam suspensos. |
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