O presidente Figueiredo colheu ontem os resultados da atitude errática
que vem adotando ao longo do processo que conduzirá à sua sucessão
em março do ano que vem. Abandonado ao jogo de suas forças internas
e afastado da opinião pública com a qual rompeu desde a campanha
popular pelas diretas-já, o PDS acaba de assistir à vitória da facção
que reúne hoje os atributos que faltavam ao partido como um todo:
coesão, determinação e energia. Onde se lia PDS ou "partido do João",
leia-se partido do sr. Paulo Maluf. Nas próximas semanas a opinião
pública saberá em que medida o agora candidato oficial conseguirá
reter parte das forças que desertam o barco da agremiação. As evidências
indicam que essa tarefa será onerosa e de sucesso restrito. Partidários
do postulante derrotado Mário Andreazza se mostram reticentes quanto
a eventuais acordos com o vitorioso de ontem e os chamados liberais
do partido já têm compromissos selados e em andamento com o candidato
oposicionista Tancredo Neves, cujo nome deverá ser homologado hoje
na convenção do PMBD. As consequências são desastrosas. O PDS apresentará
no desmoralizado Colégio Eleitoral uma candidatura sem respaldo
na opinião pública e com sustentação estreita na própria base de
apoio do governo. Uma candidatura estigmatizada pela utilização
de métodos que oscilam entre a intimidação truculenta e o comércio
desabrido de favores, prerrogativas, cargos. Um candidato sobre
o qual paira uma nuvem de suspeita e receio. Desaparece na prática
a estrutura partidária artificialmente criada pelo processo de abertura
"lenta, gradual e segura", para surgir em seu lugar um campo de
batalha em que as mais diferentes nuançes do especto político passam
a se agrupar em torno de dois blocos inconciliáveis, numa disputa
indereta a ser regida pelo vale-tudo de lado a lado. O presidente
Figueiredo sustenta que sua posição permitiu que o partido escolhesse
livremente. Uma coisa é assegurar a autonomia partidária; outra
é ser conivente com a desorientação e a apatia que axiliam a ascenção
dos mais ousados. Foi o que ocorreu. Um péssimo desenlace que inspira
perspectivas péssimas.
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