"ARRANCADA PARA CONQUISTAR O GIGANTESCO MUNDO VERDE"


Publicado na Foha de S.Paulo, sabado, 10 de outubro de 1970

Neste texto foi mantida a grafia original


O general Medici presidiu ontem no municipio de Altamira, no Estado do Pará, a solenidade de implantação, em plena selva, do marco inicial da construção da grande rodovia Transamazonica, que cortará toda a Amazonia, nos sentido Leste-Oeste, numa extensão de mais de 3.000 quilometros e interligará esta região com o Nordeste.
O presidente emocionado assistiu à derrubada de uma arvore de 50 metros de altura, no traçado da futura rodovia, e descerrou a placa comemorativa do inicio da construção.
Procedente de Manaus, e depois de sobrevoar durante quase três horas a selva amazonica, o chefe do Governo chegou a Altamira às 11 horas, acompanhado de ministros e demais assessores. Após as honras de estilo, seguiu em direção ao centro da cidade, onde foi entusiasticamente recebido pelos 3 mil habitantes de Altamira. Sofrendo os efeitos da alta temperatura reinante —quase 40 graus— o presidente dirigiu-se para o local da solenidade, distante oito quilometros. Em meio ao caminho, a comitiva entrou por um pequeno atalho, andando cerca de 200 metros debaixo das arvores que escondiam quase completamente a luz do dia, e chegou a uma grande clareira aberta na selva.
Descendo do carro que o conduzia, o presidente hasteou o pavilhão brasileiro em um mastro improvisado no tronco de uma arvore, enquanto uma banda militar tocava o Hino Nacional. Depois, descerrou uma placa de bronze incrustrada no tronco de uma grande castanheira com cerca de dois metros de diametro, na qual estava inscrito:
"Nestas margens do Xingu, em plena selva amazonica, o Sr. Presidente da Republica dá inicio à construção da Transamazonica, numa arrancada historica para a conquista deste gigantesco mundo verde".
Medici implanta na selva marco inicial da Transamazonica

ALTAMIRA — O presidente Garrastazu Medici aplaudiu entusiasticamente a derrubada, em plena selva amazonica, ontem, de uma arvore de mais de 50 metros de altura, simbolizando assim a transposição de mais um obstaculo à construção da Rodovia Transamazonica. A solenidade, realizada nesta pequena cidade do interior do Pará, marcou o início das atividades de construção de mais um trecho daquela importante via de integração nacional, ligando Altamira a Rio Repartimento, numa extensão de 300 quilometros.

A chegada

O presidente da Republica, depois de pernoitar em Manaus, seguiu pela manhã, para Altamira, em companhia dos chefes dos Gabinetes Civil e Militar, do chefe do SNI, ministros de Estado e assessores.
Foi recebido no aeroporto local pelo governador Alacid Nunes e por autoridades municipais.
Após honras militares, o presidente Medici dirigiu-se para o centro da cidade, carinhosamente recepcionado pela população.
Rumou, diretamente para o canteiro das obras, distante oito quilometros, em plena selva amazonica.
Numa clareira aberta momentos antes, foi hasteado o Pavilhão Brasileiro, ao som do Hino Nacional, seguida do descerramento de placa incrustrada no tronco de uma grande arvore, com os seguintes dizeres:
"Nestas margens do Xingu, em plena selva amazonica, o senhor presidente da Republica dá inicio à construção da Transamazonica, numa arrancada historica para a conquista e a colonização deste gigantesco mundo verde. Altamira, 9 de outubro de 1970".

A estrada

Ingressando em rustico pavilhão montado nas proximidades, o gen. Medici ouviu o coronel Danilo Castro Rebelo, do Ministerio dos Transportes, fazer ampla exposição sobre o andamento dos trabalhos da Transamazonica.
De acordo com aquelas informações, o ritmo da obra vem obedecendo aos cronogramas, o que faz prever sua conclusão dentro do prazo previsto, isto é, em janeiro de 1972.
Segundo o coronel Castro Rebello, o custo total da Transamazonica está estimado em 320 milhões de cruzeiros. Será uma rodovia do tipo classico de integração, com uma pista de 8,6 metros de largura, além de outros setenta metros laterais de desmatamento em toda sua extensão, de mais de 5 mil quilometros.
Esclareceu ainda que, até o momento, a situação das diversas frentes de trabalho é a seguinte: implantados 265 quilometros de linhas base, 120 quilometros de destocamento e limpeza, 180 quilometros de desmatamento, 74 quilometros de levantamentos topograficos e 23 quilometros de terraplenagem. Enquanto isso, nas frentes de trabalho da rodovia Cuiabá-Santarém, entregues aos batalhões de Engenharia do Exercito, já foram realizados 60 quilometros de linhas base, além de outros 30 quilometros de desmatamento e de destocamento.
O coronel Castro Rebelo considerou a visita do presidente Medico àquele canteiro de obras uma motivação extraordinaria para os milhares de operarios, a cuja responsabilidade foi entregue a importante responsabilidade de integrar a Amazonia.

A arvore

Após assistir a "slides" focalizando detalhes das atividades nas diversas frentes de trabalho da Transamazonica, o presidente Medici dirigiu-se até o centro da clareira, onde viu e aplaudiu a operação de derrubada de uma arvore de 50 metros de altura por um grande trator.
Após colocar sua assinatura no livro de visitantes às obras da Transamazonica, o presidente regressou ao aeroporto, onde embarcou com destino a Belém.

Repouso em Belem

O "Avro" da FAB que trouxe o presidente da Republica de Altamira, pousou no aeroporto de Belem do Pará às 14h15. O presidente seguiu, após as cerimonias militares em companhia do governador Alacid Nunes do general Figueiredo e do professor Leitão, diretamente para a residencia oficial do governo do Estado, na avenida Independencia, onde almoçou em companhia das autoridades e deverá permanecer em repouso até às 8 horas de hoje, quando reiniciará seu programa oficial no Palacio do Governo, onde concederá audiencias. Depois assistirá à festa do Cirio de Belem.
Uma hora depois da chegada do presidente, pousou no aeroporto militar de Belem o "One Eleven" presidencial que, em viagem direta de Manaus, trouxe a primeira dama do País, d. Scyla Medici.

A comitiva

Fazem parte da comitiva presidencial os chefes dos gabinetes Militar e Civil da Presidencia da Republica, os ministros Mario Andreazza, Reis Veloso, Higino Corsetti, Jarbas Passarinho, Cirne Lima, Costa Cavalcanti, e o governador Alacid Nunes. O ministro Rocha Lagoa, da Saude, veio em outro avião, que antecedeu a chegada do "Avro" da FAB, com os comandantes militares.

 

· A BR-236, entregue ao trafego pelo presidente Medici, é a primeira ligação rodoviária do Estado do Acre com o resto do País, e segundo o governador Jorge Kalume, "com ela o Estado se redime da angustia de um seculo de isolamento". Futuramente, a estrada vai se interligar com o Sistema Rodoviario Pan-americano, abrindo assim as portas do Oceano Pacifico ao Brasil.
· Presidente Medici ficou apenas duas horas em Rio Branco, mas teve tempo suficiente para conhecer os rigores da temperatura do Acre: pouco antes de regressar a Porto Velho, os termometros registravam 36 graus à sombra.
· Um "Avro" da comitiva presidencial sofreu pane de instrumentos, quando sobrevoava a selva amazonica, momentos após decolar de Rio Branco com destino a Manaus. Em consequencia, o aparelho teve que voar visualmente, em direção a Porto Velho, onde chegou uma hora depois. O avião transportava o atual e o futuro governador do Acre, srs. Jorge Kalume e Vanderlei Dantas, o general de Exercito, Dale Coutinho, jornalistas e assessores.
· Logo após a reunião da SUDAM, no Teatro Amazonas, o presidente Medici inaugurou a nova agencia do Banco do Brasil na cidade de Manaus, com instalações modernas, dotada de todos os meios para o melhor atendimento na faixa do crédito oficial. O presidente do Banco, sr. Nestor Jost, falando durante a solenidade, destacou o papel importante do estabelecimento oficial na região amazonica, informando que outras cidades no eixo da Rodovia Transamazonica, como Altamira e Marabá, já possuem agencias do Banco. "Cuidamos agora de instalar nossos escritorios nos primeiros nucleos de colonização, que estão sendo abertos em outras areas percorridas pela Rodovia de Integração" - acrescentou.
· Durante a recepção oferecida à comitiva presidencial, em Rio Branco, o governador Jorge Kalume mostrou ao presidente Medici um abacaxi produzido na região, pesando 16 quilos. Depois de examinar a fruta, o chefe da Nação virou-se para o ministro Leitão de Abreu e comentou, bem humorado: "Ver isto é um consolo para quem descasca abacaxis todos os dias".
· Os belenenses têm sua festa religiosa, o Ciro de N. S. de Nazaré, um renovado carinho, que agora se acentua com a presença do chefe do Governo, general Medici. Pela manhã, ouviu-se em toda a cidade o pipocar de fogos. No largo de Nazaré, onde está instalado o arraial, existem centenas de barraquinhas apresentando um aspecto multicolorido.
· Durante o percurso, desde o aeroporto de Belém até o palacio do governador, o presidente Medici foi seguidamente ovacionado pelos colegiais. Ao passar defronte ao Instituto Lauro Sodré, a banda de musica da Escola de Formação Profissional do Estado do Pará executou "Avante Brasil", cantado pelas interminaveis filas que se estendiam ao longo da avenida Almirante Barroso, numa extensão de seis quilometros.


© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.