GENERAL GUEDES FAZ DENUNCIA


Na Amazonia, missões só não são religiosas

Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 1968

Neste texto foi mantida a grafia original

As missões protestantes norte-americanas que atuam na Amazonia têm geologos, mineralogistas, quimicos, fisicos e outros especialistas; só não têm, mesmo, verdadeiros missionarios.
Quem faz a acusação é o general José Luis Guedes, ex-diretor do Serviço de Proteção ao Indio. E acrescenta que há alguns anos, suspeitando do interesse desses religiosos pelos nossos selvagens, fez uma serie de investigações, posteriormente completadas pela FAB.
Entre outras coisas, descobriram-se nessas missões 140 aeroportos clandestinos, onde se praticava contrabando de minerais raros (como areia monazitica), e foi apreendido um avião, utilizado em levantamentos fotograficos aereos, de prefixo norte-americano.

General acusa: falsas missões agem na Amazonia

RIO, 9 (FOLHA) - O general José Luiz Guedes, ex-diretor do Serviço de Proteção aos Indios, acusou hoje as missões protestantes norte-americanas que operam na Amazonia de serem integradas não por missionarios, e sim por geologos, mineralogistas, fisicos, quimicos e outros profissionais que nada têm a ver com a religião.
O general, que dirigiu o SPI entre 1957 e 1961, declarou-se solidario com o prof. Artur Cesar Reis, ex-governador da Amazonia, que vem apontando as diversas missões estrangeiras como "pontas-de-lança dos invasores que querem internacionalizar a Amazonia".
Acrescentou o militar que começou a suspeitar dos missionarios norte-americanos no Brasil ao verificar que uma mesma missão possuia elementos de credos diferentes, como batistas, adventistas do setimo dia, presbiterianos e outros.

Interesse suspeito

Disse ainda que outro fato suspeito é o de que tais missionariios abandonam, por exemplo, a luta racial em sua patria e vêm "pressurosamente ao Brasil cuidar de indios, como se a tarefa de converter tão poucas gentios ao Cristianismo pudesse convencer alguem de que não há outros propositos e serem cumpridos pelas missões". Classificou isso de "formação de quistos desnacionalizantes". Quanto à gravidade do nosso problema do indio, afirma que "ele não se compara com o problema racial e social que explode nos Estados Unidos".
O ex-diretor do SPI revelou que, ao perceber que o numero de missões norte-americanas interessadas em nossos indios era muito grande, resolveu impedir que novos missionarios penetrassem na Amazonia. "Não obstante, ante o meu veto, as missões passaram a solicitar vistos para cientistas virem estudar o idioma dos indios. E, como isso, escapavam do SPI inumeros linguistas, filologos e gramaticos que "penetraram nas selvas".

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