QUEREM ROUBAR NOSSO PETROLEO NA AMAZONIA
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Publicado
na Folha da Tarde, quarta-feira, 10 de fevereiro de 1971
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Na região do rio Tapajós, no Pará, existem poços
clandestinos de petroleo e estrangeiros exploram indevidamente minerios
raros. Esta é a denuncia de três universitarios que participaram
de uma operação do Projeto Rondon, em Santarem e Alter
do Chão. Levarão agora o fato ao conhecimento do ministro
do Interior, Costa Cavalcanti. Como prova da denuncia, os estudantes
trouxeram um cilindro com amostras de petroleo, encontrado na região,
onde - segundo afirmam - foram descobertas até plataformas
de sustentação para as torres de perfuração.
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Petróleo
e minerios raros. Exploração clandestina |
Rio (FT) - Três universitarios, que participaram com
mais 77 colegas de uma operação do Projeto Rondon, em
Santarem (Pará), trouxeram, ao regressarem ao Rio, um relatorio
com serias denuncias, que levarão logo ao conhecimento do ministro
Costa Cavalcanti, do Interior: a existencia de poços clandestinos
de petroleo e a exploração indevida, por parte de estrangeiros,
de minerios raros da região do ripo Tajapós.
Os três estudantes, de Engenharia - Paulo Gurgel, Ari Ferreira
de Almeida e Teofilo Arruda Barros - não poderão encontrar-se
já com o ministro Costa Cavalcanti, pois este está viajando
pela Amazonia, devendo depois seguir para Brasilia e, somente na proxima
semana, chegar ao Rio.
Segundo o plano previsto pelo Projeto Rondon VII, os três estudantes
deveriam fazer estudos para a construção de uma estrada
entre Alter do Chão e Santarem. Impedidos de executarem a missão,
iniciaram então pesquisas dos minerais raros da região.
E foi aí que descobriram as marcas de cimento, com inscrições
codificadas em cobre, que assinalavam os locais onde deveriam ser
perfurados poços de petróleo. Descobriram até
plataformas de sustentação para as torres de perfuração.
E mais: um dia, por acaso, encontraram um cilindro, com amostras de
petroleo. Este cilindro é uma prova das denuncias que os estudantes
trazem.
Os habitantes de Alter do Chão, que fica a três horas
de barco de Santarem, disseram aos estudantes que a prospecção
foi feita por "homens altos, loiros e fortes, cheios de sardas".
Estes homens abandonaram o local por volta de 1953.
Por outro lado, os velhos moradores do vilarejo contaram que na região
vivia um "monstro pré-histórico" - uma serpente
que habitava o lago Moreta. O "monstro", segundo a historia,
foi expulso com bombas pelos estrangeiros. Os estudantes, no local
onde "vivia" o "monstro" encontraram o cilindro
de petroleo.
A população falou dos "homens loiros" e do
"monstro", mas quando os estudantes levaram o assunto para
o campo dos valores, do dinheiro, ninguem queria falar. Mas, alguma
coisa foi conseguida: os habitantes do vilarejo recebiam muito bem
os estrangeiros, que ofereciam 50 cruzeiros para quem achasse uma
pedra, a muiraquita - um mineral raro, de grande valor, que ninguem
soube dizer exatamente como é.
Um dos mais antigos moradores explicou, falando sobre a pedra: "Os
gringos é que entendem disso muito bem. Eles dizem que compram
essa pedra porque ela é muito boa para os museus da terra deles.
Quem achar uma pedra dessas fica rico da noite para o dia. Onde tem
uma, tem uma porção".
O estudante Paulo Gurgel, apesar de a população de Alter
do Chão não querer falar muito, conseguiu "arrancar"
mais algumas coisas. Uma delas: os estrangeiros e alguns brasileiros
continuam explorando minerais da região, que são transportados
dali por aviões que se utilizam de campos de pouso escondidos
na mata. O ouro é o mais procurado.
Quanto aos outros estrangeiros, que "cavocaram a terra dia e
noite", os moradores da região não souberam explicar
como desapareceram. Afirmaram apenas que "eles se foram de repente"
e que "nós continuamos esperando sua volta, para ganhar
mais dinheiro".
E um dos habitantes declarou: "Os estrangeiros pedem para a gente
ajudar e isso é muito bom. Eles têm muito dinheiro e
pagam bem para a gente catar umas pedrinhas para eles. A gente fica
torcendo para que eles voltem logo, que dinheiro por aqui é
coisa dificil".
O ministro das Minas e Energia, sr. Antonio Dias Leite, perguntado
sobre as denuncias dos estudantes, afirmou: "Não se pode
explorar petroleo no País sem o conhecimento da autoridades.
E, se ocorreu, foi quando a pesquisa era atribuição
do Conselho Nacional de Petroleo, até 1954. Quanto ao minerio,
desconhecia o fato".
A população de Alter do Chão é extremamente
pobre. Vive da plantação de mandioca e milho ou da extração
de latex das seringueiras. A ligação do vilarejo com
Santarem é feita somente através do rio Tapajós,
por apenas dois barcos a motor, usados exclusivamente para a assistencia
medica. Para freiá-los, é preciso pagar 50 cruzeiros.
Há ainda uma viatura à disposição da população,
mas seu proprietario cobra 70 cruzeiros para fazer um transporte.
E a vida ali é cara. Um quilo de feijão custa Cr$ 2,20;
um litro de leite de vaca, Cr$ 1,00; o quilo do peixe chega a Cr$
3,00, num local excelente para a pesca mas sem recursos (a população
ainda utiliza o sistema do "garrafão").
Segundo os estudantes participantes do Projeto Rondon VII, as condições
de higiene em Alter do Chão são pessimas. A mesma agua
em que a população faz suas necessidades e lança
detritos é utilizada para o banho, lavagem de roupas ou para
beber. Praticamente, não há energia eletrica. Os ratos
e os morcegos são abundantes.
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