CATEGORICO DESMENTIDO DO MINISTRO DA JUSTIÇA
NÃO PRETENDE RENUNCIAR O PRESIDENTE DA REPUBLICA
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Publicado
na Folha da Manhã, terça-feira, 10 de agosto de 1954
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Neste texto foi mantida a grafia original
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A crise politica e a situação militar O sr. Osvaldo Aranha
teria dissuadido o sr. Getulio Vargas do proposito de afastar-se
do governo Reunião do Catete Os brigadeiros reafirmam sua
confiança na identificação e punição dos criminosos
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RIO,
9 (Pelo telefone) Longe de declinar, a crise politica
oriunda da emboscada contra o jornalista Carlos Lacerda, na qual
morreu o major Vaz, da Aeronautica, continua a se agravar. As sucessivas
reuniões de autoridades civis e os dirigentes militares de todas
as armas, as hesitações do governo nas substituições de algumas
personalidades já postas de lado, as noticias que transpiraram de
duas reuniões uma na residencia do almirante Amaral Peixoto,
outra no Palacio do Catete, numa das quais o presidente da republica
chegou a admitir, como solução da crise, o seu afastamento do governo
(o sr. Osvaldo Aranha o teria dissuadido disso) o calor da reação
parlamentar, a intranquilidade no seio e da população, a onda de
rumor e boatos constituem um conjunto de sintomas da gravidade a
que atingiu a situação. O ministro da Justiça, em palestra com a
reportagem politica, esta tarde, repeliu as informações sobre o
desejo do presidente da republica de renunciar. Embora falando em
termos não formais, o sr. Tancredo Neves disse-nos que só diz isso
quem não conhece o presidente.
"Somente em três hipoteses admite ele deixar o governo: pela
morte, por uma revolução ou pelo termino normal do seu mandato"
frisou o ministro.
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A
SITUAÇÃO MILITAR
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Há a considerar que, nas ultimas horas, a situação nas Forças Armadas,
sob o impacto da virtual rebeldia dos oficiais da Aeronautica, se
consolidou no sentido de que parece superada a existencia de grupos,
selando-se novamente a unidade tão decisiva nos idos de 1945. A
reunião dos brigadeiros, realizada esta manhã num clima satisfatorio,
resultou na divulgação de uma nota em que se reafirma o desejo de
manter a ordem e se volta a exigir a identificação e prisão dos
culpados pelo crime da rua Toneleiros. E no correr dela ficou assentado
que dois nomes serão aceitos pela Aeronautica se o sr. Getulio Vargas
houver por bem nomear um deles para substituir o brigadeiro Nero
Moura no Ministerio. Esses nomes são os dos brigadeiros Aboim e
Epaminondas Feio. A substituição do ministro da Aeronautica foi
na noite de domingo um episodio da maior dramaticidade, pois houve
um momento em que se chegou a acreditar numa rapida degringolada
do regime. Reunidos no palacio do Catete os srs. Getulio Vargas,
Tancredo Neves, Osvaldo Aranha, general Zenobio da Costa, brigadeiro
Neto Moura ouviram os presentes, do titular da pasta da Aeronautica,
a narrativa da situação na sua arma que a ele parecia quase incontrolavel.
"O sr. perdeu o controle da situação" disse-lhe o ministro
da Guerra.
Ponham-me lá que em poucas horas estará tudo em ordem. Não há major
que se rebele. Ponho-os todos nos quartéis".
O brigadeiro Nero Moura objetou que os majores eram apoiados pelos
brigadeiros. "Prendo-os tambem" disse Zenobio energico.
Esse relato é absolutamente fiel e começou por criar embaraços ao
proprio governo, limitando-se o sr. Getulio Vargas a dizer que a
nomeação de Zenobio era uma solução a ser encaminhada. Tal como
se previa, entretanto, as demarches para efetivá-la encontraram
decisiva resistencia da parte dos oficiais superiores da Aeronautica.
Dentro de algumas horas, as estações do governo afirmavam que o
general Zenobio da Costa não substituiria o brigadeiro Nero Moura.
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A
ATITUDE DO PRESIDENTE
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A reunião
na residencia do almirante Peixoto, na avenida Rui Barbosa, foi
mais uma reunião da familia Vargas, com a presença de alguns amigos,
como o sr. Osvaldo Aranha. "A familia estava acabrunhada e aflita,
disse em certo momento na Camara o sr. Augusto do Amaral Peixoto."
Nessa oportunidade é que os Sr. Getulio Vargas teria admitido a
hipotese da sua renuncia, no que foi dissuadido pelo sr. Osvaldo
Aranha. Foi nessa ocasião que o presidente da Republica decidiu-se
a acabar com sua guarda pessoal, que teria deixado de inspirar confiança
a ele proprio. Hoje é tarde voltaram a circular rumores sobre a
nomeação do general Zenobio para a pasta da Aeronautica mas foram
logo desmentidos, acrescentando-se que já agora não havia mais motivos
de distinção entre os grupos militares, todos unidos em torno do
mesmo objetivo. A substituição do chefe de policia pelo coronel
Paulo Torres foi tomada, pelo jornalista Carlos Lacerda, como um
ato provocador do governo pois a demissão do general Ancora se teria
dado precisamente no momento em que ele se decidia a atender a apelos
dos seus companheiros de arma para agir contra os criminosos.
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REUNIÃO
DO ALTO COMANDO DO EXÉRCITO
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Convocada
pelo general Zenobio da Costa, realizou-se às ultimas horas da tarde
uma reunião do Alto Comando do Exercito, com a presença dos generais
Canrobert Pereira da Costa, Fiuza de Castro, Mendes de Morais, Odilo
Denis e Olimpio Falconieri da Cunha, sendo os trabalhos secretariados
pelo general Segadas Viana. Pouco antes da reunião o ministro da
Guerra recebeu em conferencia reservada o brigadeiro Eduardo Gomes.
Não transpiraram informações da reunião. A reportagem credenciada
no Ministerio da Guerra foi informada de que a prontidão dos quartéis
continua, achando-se a postos a respectiva tropa. Declarou o general
Zenobio que a prontidão tem em vista manter a tropa vigilante em
face do perigo de uma agitação provocada por elementos interessados
em perturbar a tranquilidade politica. A proposito da informação
corrente de que os coronéis continuam a colher assinaturas para
o seu famoso memorial, já agora entre seus colegas da Marinha e
da Aeronautica, o titular da Guerra disse ignorar inteiramente o
assunto. Como medida de precaução foi suspenso o exercicio de cobertura
de fumaça do Bairro do Botafogo marcado para quarta-feira.
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SOLIDARIEDADE
DA MARINHA
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O Clube Naval reunido extraordinariamente hoje pela manhã, sob a
presidencia do almirante Antonio Maria de Carvalho, manifestou-se
solidario com o Clube da Aeronautica ante o atentado de que foi
vitima o major Vaz. Foram aprovadas as seguintes medidas: associar-se
às homenagens prestadas ao morto; mandar rezar missa de setimo dia
por alma do major aviador; ter-se feito representar no enterro.
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O
GOVERNO ENTREGARÁ OS GUARDAS
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O ministro da Justiça, na sua conversa com a reportagem asseverou
que o sr. Getulio Vargas porá à disposição da policia, para investigação,
cada um e todos os membros da sua extinta guarda pessoal.
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DADO
HISTÓRICO
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Os acontecimentos começaram a se precipitar na madrugada de sexta-feira
para sabado, quando o brigadeiro Eduardo Gomes foi chamado pelo
coronel aviador Adil, que acompanha o inquerito, para ouvir o depoimento
do motorista que conduziu os assaltantes. O ministro da Justiça
foi tambem convocado, chegando à Policia Militar, quando de lá já
se havia retirado o brigadeiro. Às primeiras horas da manhã de domingo,
previamente convocado, cerca de 500 oficiais se reuniram na sede
das Rotas Aereas, onde, em combinação com as autoridades policiais,
iniciaram num ambiente dramatico as buscas do criminoso.
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NOTA
DA REUNIÃO DOS BRIGADEIROS
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O gabinete
do ministro da Aeronautica distribuiu a seguinte nota a proposito
da reunião realizada na manhã de hoje sob a presidencia do titular
da pasta da Aeronautica: "Os oficiais generais da Força Aerea Brasileira,
reunidos sob a presidencia do ministro da Aeronautica, identificados
com os sentimentos da sua corporação e animados do firme proposito
de contribuir para que as diligencias de apuração dos respectivos
pelo assassinio do major Rubens F. Vaz atinjam plenamente os seus
fins, reafirmam sua confiança em que os poderes publicos usarão
de toda sua autoridade e valimento não só para a identificação dos
autores morais e materiais do barbaro atentado mas tambem para que
os culpados não se possam valer de qualquer privilegio para eximi-se
à punição da justiça" CARLOS CASTELO.
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EM
CONFERENCIA O BRIGADEIRO
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RIO,
9 (Sucursal)
Embora sem confirmação oficial sabe-se que estiveram hoje no gabinete
do ministro da Fazenda, conferenciando com o sr. Osvaldo Aranha
o brigadeiro Eduardo Gomes, o sr. Café Filho, vice-presidente da
Republica, os ministros Edgar Santos e Tancredo Neves e altas patentes
militares. As conversações mantidas com o titular da Fazenda, sobre
as quais foi guardado absoluto sigilo, estariam ligadas, ao que
consta, ao fato de ter sido o sr. Osvaldo Aranha quem convenceu
o sr. Getulio Vargas a conservar-se no poder quando ele, em face
do clima de suspensão criado em torno do governo pelo assassinato
do major Rubens Vaz, pretendia renunciar.
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EXCEPCIONAL
MOVIMENTO NO CATETE A REUNIÃO DO ALTO COMANDO
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RIO, 9 (Sucursal) Excepcional movimentação registrou-se
nas primeiras horas da noite no Catete. Logo após a reunião do alto
comando do Exercito o general Zenobio da Costa compareceu ao palacio,
onde conferenciou com o presidente da Republica. Uma estação de
radio divulgada depois que o ministro da Guerra comunicara ao chefe
do governo as deliberações tomadas na aludida reunião, durante a
qual o Exercito, através da palavra dos seus chefes, manifestadas
sua inteira solidariedade com o presidente da republica e sua disposição
de manter-se fiel à Constituição e ao regime. Alem do general Zenobio,
estiveram no Catete em conferencia com o sr. Getulio Vargas o sr.
Café Filho, vice-presidente da Republica , os ministros do Trabalho
e da Educação e o governador Amaral Peixoto. Tambem o sr. João Goulart,
que regressou hoje do Recife, seguiu diretamente para o Palacio
do Catete para hipotecar solidariedade ao presidente da Republica.
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ZENOBIO
AVISTA-SE COM O BRIGADEIRO
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RIO,
9 (Sucursal) Segundo se informa,
o general Zenobio da Costa manteve esta tarde uma conferencia com
o brigadeiro Eduardo Gomes a quem pedira que indicasse o nome de
um brigadeiro para suceder ao sr. Nero Mouro na pasta da Aeronautica.
O brigadeiro Eduardo Gomes ter-se-ia recusado a atender o pedido
alegando dois motivos:
1º porque achava que qualquer brigadeiro seria capás de assumir
aquela pasta; e
2º porque, adversario do governo, estava por isso impedido
de qualquer pronunciamento nesse sentido e mesmo não acreditava
que um nome por ele proposto fosse aceito pelo sr. Getulio Vargas.
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NÃO
FOI PRESO AINDA O INVESTIGADOR CLIMÉRIO A SENSACIONAL
CONFISSÃO DO MOTORISTA, QUE APONTOU O CRIMINISO
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RIO, 9 (Sucursal) Somente devida à argucia do capitão Ferreira
das Neves, professor da Policia Tecnica, o motorista Nelson Raimundo
de Sousa veio afinal a confessar sua participação no crime da rua
dos Toneleiros, denunciando seus cumplices. Transferido, a seu proprio
pedido, para outra dependencia policial, onde supunha encontrar
maiores garantias, o motorista foi ouvido na policia militar (Batalhão
Moto Mecanizado, por aquele oficial, para tanto autorizado pelo
delegado Pastor. O capitão Ferreira das Neves conhecera o motorista
ao tempo em que ele frequentou as aulas da policia tecnica, circunstancia
que lembrou, ao iniciar sua palestra com o preso, que decorreu numa
dependencia isolada, presente apenas outro oficial um pouco distante.
O capitão teria perguntado ao motorista se não desejava mandar algum
recado para a familia e demonstrou interesse em emprestar-lhe qualquer
obsequio nesse sentido, Impondo-se deste modo, à confiança do motorista,
passou a capitão a sondá-lo sobre a sua participação no crime. Inopidamente,
fez-lhe essa pergunta: - Mas o homem que você conduziu era investigador
junto ao Catete ou da guarda pessoal? Nelson empalideceu subitamente
e daí para a confusão não restou ao oficial senão impor sua confiança,
mediante promessas de garantia e demonstrações de solicitude. Diante
disso, o motorista resolveu contar o que sabia. Cercado de absoluto
sigilo, o depoimento ainda não é conhecido da imprensa senão em
detalhes colhidos ao acaso, através de dificuldades compreensiveis
em razão da reserva que se vem mantendo sobre o assunto. Sabe-se,
porem, que o motorista revelou o nome de um dos assaltantes: Climerio
Eurides de Almeida, apontado como pertencente à guarda pessoal do
Catete. Um seu companheiro, que o motorista declarou desconhecer,
é que foi o autor da chacina, depois do que fugiu no carro dirigido
por ele, Nelson. Outras fontes asseguram que o motorista, na sua
confissão, teria revelado o nome do mandante. Ontem à noite, o coronel
Milton Guimarães, chefe do gabinete do chefe de Policia, forneceu
pormenores das declarações do motorista. Raimundo revelou que Climerio,
o contratante do carro, durante o atentado não fez uso de arma.
Consumado o crime, ele regressou de lotação à cidade, ao passo que
o pistoleiro tomara o seu carro. A Policia localizou ainda a residencia
de Climerio, na rua da Abolição, onde descobriu que ele deixara
o Rio, com destino a Cabo Frio. Como se desconfiava desde suas primeiras
declarações, o motorista Nelson Raimundo de Souza sabia muito mais
do que dizia. Sua participação no atentado a Carlos Lacerda não
fora acidental, como fizera crer e com acabou confessando, habilmente
interrogado. Aliás ainda na sexta-feira ultima, o diretor da Divisão
de Policia Tecnica, sr. Silvio Terra, em conversa com o general
Moraes Ancora, chamava a atenção de s. exa. para a necessidade de
submeter o motorista a um interrogatorio mais minucioso, já que
nada fazia admitir que ele estivesse falando a verdade.
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A
CONFISSÃO SENSACIONAL
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As ponderações do sr. Silvio Terra impressionaram o general Armando
de Morais Ancora. Mas, realmente, o que mais influiu no sentido
de se compelir o motorista a falar a verdade foi a Aeronautica ou,
melhor, os elementos da FAB que estão acompanhando mais de perto
as dirigencias. Eles não concebiam a atitude da policia aceitando
as primeiras declarações de Nelson Raimundo. O motorista, em hipotese
alguma, estaria inocente. Desconhecendo seus passageiros, como iria
esperá-los mais de uma hora, e sobretudo, depois daquele tiroteio?
Um detalhe importante a reportagem d'O Globo apurou ontem. Nelson
Raimundo permanecera na rua Paula Freitas, aguardando que os sicarios
executassem sua missão assassina, desde às 22 h 30. Quanto a isso,
não há duvida nenhuma. Pelo contrario, existe, a respeito, o depoimento
de uma testemunha ocular, altamente elucidativa. A pressão do pessoal
da Aeronautica, no sentido de que a Policia agisse com mais energia
junto ao motorista, levou as autoridades do 2º Distrito a admitirem
que os oficiais da FAB pretendiam sequestrar Nelson Raimundo. Daí,
sua remoção para o Corpo Motomecanizado da Policia Militar. Isto
mesmo, alias, as autoridades daquele distrito afirmaram ao jornalista
Carlos Lacerda, isto é, que haviam resolvido transferir o "chauffeur"
por recearem um sequestro por parte dos elementos da FAB. Mas, a
verdade é que Nelson Raimundo pouco permaneceu na Delegacia do 2º
Distrito. Esteve sempre em diferentes dependencias da Policia, inclusive
na Divisão de Policia Politica e Social. Em face, como já dissemos,
da pressão que se fazia, a Policia resolveu agir com mais determinação.
E teve exito. O motorista cedeu à habilidade e à argucia dos interrogatorios,
confessando, afinal, a verdade.
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ASSISTIRAM
AO DEPOIMENTO
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Podemos
informar que o depoimento do motorista Nelson Raimundo ainda não
está concluido e só o será depois da prisão de um dos criminosos.
Até o presente momento, o motorista sofreu um interrogatorio de
cerca de trinta horas. Foi às primeiras horas da noite de sabado
que Nelson Raimundo resolveu confessar toda a verdade. E, já pela
madrugada, suas declarações definitivas eram tomadas a termo. O
ministro da Justiça, sr. Tancredo Neves, o chefe de Policia e o
brigadeiro Eduardo Gomes assistiram ao depoimento do motorista.
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INVESTIGAÇÕES
NO CATETE
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À sensacional
confissão do motorista, seguiram-se instantes dramaticos. Era evidente
que as investigações tinham de chegar, de qualquer maneira, ao Palacio
do Catete. O problema naquele momento era prender o policial apontado
pelo motorista. E a primeira ordem dada pelo delegado Pastor foi
no sentido de prendê-lo, custasse o que custasse. Posteriormente,
tratou-se da gravação do depoimento de Nelson, já, então, diante
do chefe de Policia e do brigadeiro Eduardo Gomes. E tudo isso foi
transmitido ao ministro Nero Moura, que, por sua vez, se comunicou
com o ministro Tancredo Neves e, este, com o general Caiado de Castro.
Àquela altura, todas as altas patentes militares tinham ciencia
dos fatos. Pensou-se em despertar o proprio sr. Getulio Vargas,
uma vez que s. exa. se dissera disposto a colaborar em tudo e querer
saber de todos os detalhes. E o chefe do Governo só não foi chamado
porque o general Caiado de Castro não saira do Palacio e disse que
esperaria os policiais para fazerem a diligencia. Foram ter então
no Catete o delegado Jorge Pastor, o coronel Adil de Oliveira e
o promotor Cordeiro Guerra. Eram 5 horas e, por ordem do chefe da
Casa Militar, toda a guarda pessoal do presidente foi colocada à
disposição das investigações. O primeiro a ser ouvido foi o tenente
Gregorio Fortunado. Deu os informes que podia acerca de Climerio
e da sua fuga. A partir desse momento, começou a caçada sem treguas
ao policial acusado. E os esforços nesse sentido continuam ainda
sem esmorecimento.
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MEDO
TERRIVEL
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Nelson
de Souza está tomado de intenso pavor. Seu medo redobrou e, agora,
não quer sair de modo nenhum do quartel.
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EXPOSIÇÃO
AOS OFICIAIS DA AERONAUTICA
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RIO, 9 (Sucursal) Na reunião de ontem à noite dos oficiais
da Aeronautica, que acompanham a apuração do assassinato do major
Vaz, foi exposto o seguinte:
1º - Foi o depoimento do motorista Raimundo, que, tomado por termo,
foi gravado na Policia Militar.
2º - Pelo depoimento, ficou-se sabendo que um dos pistoleiros que
praticou o assassinato e o atentado já do conhecimento publico,
é o investigador 763, de nome Climero, lotado na presidencia da
Republica guarda pessoal. Todos os detalhes do depoimento
já são do conhecimento do presidente da Republica, ministro da Justiça
e ministro da Aeronautica. A policia já tem pistas seguras para
identificar os outros. 3º - Por conseguinte, a partir do presente
momento, acha-se a presidencia da Republica em condições de entregar
à policia um dos pistoleiros que assassinaram o major Vaz e alvejaram
o jornalista Carlos Lacerda.
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A
AERONAUTICA NÃO SE SURPREENDEU
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Por
volta das 4 horas de ontem sob a maxima cautela o delegado Jorge
Pastor relatava a confissão de Nelson ao representante do Ministerio
Publico, ao coronel Adil de Oliveira e a varios oficiais aviadores
que haviam prestado o compromisso de honra de não revelar a ninguem
o que iriam ouvir. A impressão que se teve, porem, foi de que a
oficialidade não se surpreendeu ao ser declinado o nome de Climerio
Eurides de Almeida.
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IDENTIFICADOS,
ADIANTA-SE, MAIS DOIS ASSALTANTES
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RIO,
9 (Sucursal)
O coronel João Adil de Oliveira designado pela Aeronautica
para acompanhar o inquerito do 2º Distrito estaria de posse da identidade
de um segundo participante do crime da rua Toneleiros, cujo nome
não foi ainda revelado por conveniencia das diligencias que estão
sendo levadas a efeito. Sabe-se por outro lado que alem de Climero
de Almeida e desse outro cumplice, as autoridades estariam na pista
de um terceiro participante no barbaro atentado. Ao que se adianta
que as investigações da Aeronautica para a elucidação do caso estão
mais adiantadas do que as da propria policia.
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DILIGENCIAS
NO ITAMARATI
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RIO, 9 (Sucursal) Oficiais da Aeronautica realizaram
hoje diligencia no Itamarati a fim de apurar se algum pedido de
passaporte fora atendido nos ultimos dias pelo Ministerio do Exterior
por solicitação da presidencia da Republica. Segundo informantes,
no dia imediato ao crime elementos ligados ao Catete teriam feito
gestões nesse sentido junto ao Itamarati, tendo sido essa versão
divulgada pela imprensa e merecido contestação dos meios oficiosos.
Entretanto, os oficiais da Aeronautica, fardados e com o sinal de
luto na lapela, estiveram hoje em contacto com os funcionarios da
seção incumbida do fornecimento de passaportes do Itamarati, desconhecendo-se
o resultado dessa diligencia.
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REPRESENTANTE
DOS JORNAIS NAS INVESTIGAÇÕES
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RIO,
9 (Sucursal) O sr. Tancredo Neves, ministro da Justiça,
recebeu hoje à tarde em seu gabinete os membros do Clube de Diretores
e Principais Redatores dos Jornais do Rio de Janeiro. Na reunião,
em que foram trocados pontos de vistas a respeito do desenvolvimento
do inquerito policial sobre o atentado da madrugada do dia 5, declarou
o ministro que o governo aceitava com satisfação o oferecimento
daquela entidade, de indicar um de seus membros para acompanhar
os trabalhos da autoridade encarregada das apurações. Foi apontado
e aceito o nome do sr. Elmano Cardim, diretor do "Jornal do Comercio".
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À
PROCURA DO CRIMINOSO
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Todos
os esforços da Policia concentram-se, agora, na localização de Climerio
Eurides de Almeida, o homem-chave do atentado contra Carlos Lacerda.
Somente com sua prisão, poderá a Policia esclarecer as origens do
crime, seus verdadeiros responsaveis, em suma, desvendar o "complot"
de que resultou a morte do bravo major Rubens Florentino Vaz. Fez-se
muita fantasia em torno das diligencias para a localização de Climerio
Eurides de Almeida. Falou-se em fazenda, citaram-se nomes cometeram-se
exageros. A verdade é que, quando a grande caravana chefiada pelo
delegado Hermes Machado daqui partiu levava um roteiro certo. Não
obstante as informações colhidas na residencia de Climerio, em Cachambi,
como com pessoas de suas relações, as batidas realizadas em zonas
fluminenses proximas ao Distrito Federal e mesmo neste territorio,
não foram coroadas de exito, entretanto. E a caravana regressou
domingo à noite, sem o apontado criminoso. O delegado Hermes Machado,
seus auxiliares e os oficiais da Aeronautica repousaram poucas horas.
Hoje deixava novamente a Policia Central rumo a outros pontos do
interior fluminense indicados como possiveis refugios do criminoso.
É provavel mesmo que, a esta hora, Climerio já esteja preso. Mas
tambem poderá ter acontecido o que não foge às previsões da Policia:
Climerio poderia ter chegado a São Paulo, Espirito Santo ou Minas
Gerais, de onde atingiria o Brasil Central, colocando-se longe do
alcance da Policia, e refugiando-se mesmo num país limitrofe.
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NOVAS
DILIGENCIAS
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RIO,
9 (Sucursal)
O delegado Hermes Machado à noite regressou no interior fluminense
onde percorreu diversas cidades sem obter qualquer resultado. Todas
as pistas indicadas não conduziram a qualquer indicio do roteiro
seguido pelo criminoso, em cuja busca a policia, conjuntamente com
oficiais da Aeronautica, está desenvolvendo tenaz esforço. A referida
autoridade entretanto ainda não está desanimada e amanhã cedo retomará
as diligencias.
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QUEM
É O CURIOSO
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O investigador Climerio Eurides de Almeida, apontado pelo motorista
Nelson Rodrigues de Souza como um dos participantes do atentado
contra Carlos Lacerda, é natural do Rio Grande do Sul, da zona da
fronteira. Veio para o Rio em 1940 e sempre serviu, como componente
da guarda pessoal do presidente da Republica, no Catete. Foi um
dos raptores do jornalista Helio Sodré, em 1944, e incumbiu-se de
guardá-lo num dos porões do Palacio Rio Negro, em Petropolis. Depois
desse rapto, esteve refugiado na Argentina. Deposto o sr. GetulioVargas,
em 1945, Climerio conseguiu, por intercessão de pessoa influente,
ser admitido como investigador na policia. Foi servir na Delegacia
de Vigilancia e Capturas. Aliás, sempre disse ser protegido por
duas pessoas de muita influencia junto ao sr. Getulio Vargas. Em
companhia de uma dessas duas figuras foi mesmo visto varias vezes.
Climerio Eurides de Almeida é gordo, de estatura mediana - cerca
de 1m70; tem olhos castanhos claros, pele clara, parecendo estrangeiro,
e acentuadas marcas de variola no rosto. Costuma trajar blusão.
Assiduo freguentador das corridas do Hipodromo da Gavea, o criminoso
possui uma fazenda no interior do Estado do Rio, proximo ao Distrito
Federal. Cerca de vinte dias atrás, encontrou-se com um antigo chefe
sob cujas ordens servira na seção de Vigilancia e Capturas. Mostrava-se
então apreensivo a situação politica. Apesar disso, deixou surpreso
o seu antigo superior quando tirou do bolso algumas laudas de papel
e pôs-se a ler versos satiricos...
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