CATEGORICO DESMENTIDO DO MINISTRO DA JUSTIÇA

NÃO PRETENDE RENUNCIAR O PRESIDENTE DA REPUBLICA


Publicado na Folha da Manhã, terça-feira, 10 de agosto de 1954

Neste texto foi mantida a grafia original

A crise politica e a situação militar — O sr. Osvaldo Aranha teria dissuadido o sr. Getulio Vargas do proposito de afastar-se do governo — Reunião do Catete Os brigadeiros reafirmam sua confiança na identificação e punição dos criminosos


RIO, 9 (Pelo telefone) — Longe de declinar, a crise politica oriunda da emboscada contra o jornalista Carlos Lacerda, na qual morreu o major Vaz, da Aeronautica, continua a se agravar. As sucessivas reuniões de autoridades civis e os dirigentes militares de todas as armas, as hesitações do governo nas substituições de algumas personalidades já postas de lado, as noticias que transpiraram de duas reuniões —uma na residencia do almirante Amaral Peixoto, outra no Palacio do Catete, numa das quais o presidente da republica chegou a admitir, como solução da crise, o seu afastamento do governo (o sr. Osvaldo Aranha o teria dissuadido disso) o calor da reação parlamentar, a intranquilidade no seio e da população, a onda de rumor e boatos constituem um conjunto de sintomas da gravidade a que atingiu a situação. O ministro da Justiça, em palestra com a reportagem politica, esta tarde, repeliu as informações sobre o desejo do presidente da republica de renunciar. Embora falando em termos não formais, o sr. Tancredo Neves disse-nos que só diz isso quem não conhece o presidente.
— "Somente em três hipoteses admite ele deixar o governo: pela morte, por uma revolução ou pelo termino normal do seu mandato" —frisou o ministro.

A SITUAÇÃO MILITAR


Há a considerar que, nas ultimas horas, a situação nas Forças Armadas, sob o impacto da virtual rebeldia dos oficiais da Aeronautica, se consolidou no sentido de que parece superada a existencia de grupos, selando-se novamente a unidade tão decisiva nos idos de 1945. A reunião dos brigadeiros, realizada esta manhã num clima satisfatorio, resultou na divulgação de uma nota em que se reafirma o desejo de manter a ordem e se volta a exigir a identificação e prisão dos culpados pelo crime da rua Toneleiros. E no correr dela ficou assentado que dois nomes serão aceitos pela Aeronautica se o sr. Getulio Vargas houver por bem nomear um deles para substituir o brigadeiro Nero Moura no Ministerio. Esses nomes são os dos brigadeiros Aboim e Epaminondas Feio. A substituição do ministro da Aeronautica foi na noite de domingo um episodio da maior dramaticidade, pois houve um momento em que se chegou a acreditar numa rapida degringolada do regime. Reunidos no palacio do Catete os srs. Getulio Vargas, Tancredo Neves, Osvaldo Aranha, general Zenobio da Costa, brigadeiro Neto Moura ouviram os presentes, do titular da pasta da Aeronautica, a narrativa da situação na sua arma que a ele parecia quase incontrolavel.
— "O sr. perdeu o controle da situação" —disse-lhe o ministro da Guerra.
— Ponham-me lá que em poucas horas estará tudo em ordem. Não há major que se rebele. Ponho-os todos nos quartéis".
O brigadeiro Nero Moura objetou que os majores eram apoiados pelos brigadeiros. — "Prendo-os tambem" —disse Zenobio energico.
Esse relato é absolutamente fiel e começou por criar embaraços ao proprio governo, limitando-se o sr. Getulio Vargas a dizer que a nomeação de Zenobio era uma solução a ser encaminhada. Tal como se previa, entretanto, as demarches para efetivá-la encontraram decisiva resistencia da parte dos oficiais superiores da Aeronautica. Dentro de algumas horas, as estações do governo afirmavam que o general Zenobio da Costa não substituiria o brigadeiro Nero Moura.

A ATITUDE DO PRESIDENTE

A reunião na residencia do almirante Peixoto, na avenida Rui Barbosa, foi mais uma reunião da familia Vargas, com a presença de alguns amigos, como o sr. Osvaldo Aranha. "A familia estava acabrunhada e aflita, disse em certo momento na Camara o sr. Augusto do Amaral Peixoto." Nessa oportunidade é que os Sr. Getulio Vargas teria admitido a hipotese da sua renuncia, no que foi dissuadido pelo sr. Osvaldo Aranha. Foi nessa ocasião que o presidente da Republica decidiu-se a acabar com sua guarda pessoal, que teria deixado de inspirar confiança a ele proprio. Hoje é tarde voltaram a circular rumores sobre a nomeação do general Zenobio para a pasta da Aeronautica mas foram logo desmentidos, acrescentando-se que já agora não havia mais motivos de distinção entre os grupos militares, todos unidos em torno do mesmo objetivo. A substituição do chefe de policia pelo coronel Paulo Torres foi tomada, pelo jornalista Carlos Lacerda, como um ato provocador do governo pois a demissão do general Ancora se teria dado precisamente no momento em que ele se decidia a atender a apelos dos seus companheiros de arma para agir contra os criminosos.

REUNIÃO DO ALTO COMANDO DO EXÉRCITO

Convocada pelo general Zenobio da Costa, realizou-se às ultimas horas da tarde uma reunião do Alto Comando do Exercito, com a presença dos generais Canrobert Pereira da Costa, Fiuza de Castro, Mendes de Morais, Odilo Denis e Olimpio Falconieri da Cunha, sendo os trabalhos secretariados pelo general Segadas Viana. Pouco antes da reunião o ministro da Guerra recebeu em conferencia reservada o brigadeiro Eduardo Gomes. Não transpiraram informações da reunião. A reportagem credenciada no Ministerio da Guerra foi informada de que a prontidão dos quartéis continua, achando-se a postos a respectiva tropa. Declarou o general Zenobio que a prontidão tem em vista manter a tropa vigilante em face do perigo de uma agitação provocada por elementos interessados em perturbar a tranquilidade politica. A proposito da informação corrente de que os coronéis continuam a colher assinaturas para o seu famoso memorial, já agora entre seus colegas da Marinha e da Aeronautica, o titular da Guerra disse ignorar inteiramente o assunto. Como medida de precaução foi suspenso o exercicio de cobertura de fumaça do Bairro do Botafogo marcado para quarta-feira.

SOLIDARIEDADE DA MARINHA


O Clube Naval reunido extraordinariamente hoje pela manhã, sob a presidencia do almirante Antonio Maria de Carvalho, manifestou-se solidario com o Clube da Aeronautica ante o atentado de que foi vitima o major Vaz. Foram aprovadas as seguintes medidas: associar-se às homenagens prestadas ao morto; mandar rezar missa de setimo dia por alma do major aviador; ter-se feito representar no enterro.


O GOVERNO ENTREGARÁ OS GUARDAS

O ministro da Justiça, na sua conversa com a reportagem asseverou que o sr. Getulio Vargas porá à disposição da policia, para investigação, cada um e todos os membros da sua extinta guarda pessoal.


DADO HISTÓRICO

Os acontecimentos começaram a se precipitar na madrugada de sexta-feira para sabado, quando o brigadeiro Eduardo Gomes foi chamado pelo coronel aviador Adil, que acompanha o inquerito, para ouvir o depoimento do motorista que conduziu os assaltantes. O ministro da Justiça foi tambem convocado, chegando à Policia Militar, quando de lá já se havia retirado o brigadeiro. Às primeiras horas da manhã de domingo, previamente convocado, cerca de 500 oficiais se reuniram na sede das Rotas Aereas, onde, em combinação com as autoridades policiais, iniciaram num ambiente dramatico as buscas do criminoso.


NOTA DA REUNIÃO DOS BRIGADEIROS

O gabinete do ministro da Aeronautica distribuiu a seguinte nota a proposito da reunião realizada na manhã de hoje sob a presidencia do titular da pasta da Aeronautica: "Os oficiais generais da Força Aerea Brasileira, reunidos sob a presidencia do ministro da Aeronautica, identificados com os sentimentos da sua corporação e animados do firme proposito de contribuir para que as diligencias de apuração dos respectivos pelo assassinio do major Rubens F. Vaz atinjam plenamente os seus fins, reafirmam sua confiança em que os poderes publicos usarão de toda sua autoridade e valimento não só para a identificação dos autores morais e materiais do barbaro atentado mas tambem para que os culpados não se possam valer de qualquer privilegio para eximi-se à punição da justiça" — CARLOS CASTELO.

EM CONFERENCIA O BRIGADEIRO

RIO, 9 (Sucursal) — Embora sem confirmação oficial sabe-se que estiveram hoje no gabinete do ministro da Fazenda, conferenciando com o sr. Osvaldo Aranha o brigadeiro Eduardo Gomes, o sr. Café Filho, vice-presidente da Republica, os ministros Edgar Santos e Tancredo Neves e altas patentes militares. As conversações mantidas com o titular da Fazenda, sobre as quais foi guardado absoluto sigilo, estariam ligadas, ao que consta, ao fato de ter sido o sr. Osvaldo Aranha quem convenceu o sr. Getulio Vargas a conservar-se no poder quando ele, em face do clima de suspensão criado em torno do governo pelo assassinato do major Rubens Vaz, pretendia renunciar.

EXCEPCIONAL MOVIMENTO NO CATETE — A REUNIÃO DO ALTO COMANDO

RIO, 9 (Sucursal)
— Excepcional movimentação registrou-se nas primeiras horas da noite no Catete. Logo após a reunião do alto comando do Exercito o general Zenobio da Costa compareceu ao palacio, onde conferenciou com o presidente da Republica. Uma estação de radio divulgada depois que o ministro da Guerra comunicara ao chefe do governo as deliberações tomadas na aludida reunião, durante a qual o Exercito, através da palavra dos seus chefes, manifestadas sua inteira solidariedade com o presidente da republica e sua disposição de manter-se fiel à Constituição e ao regime. Alem do general Zenobio, estiveram no Catete em conferencia com o sr. Getulio Vargas o sr. Café Filho, vice-presidente da Republica , os ministros do Trabalho e da Educação e o governador Amaral Peixoto. Tambem o sr. João Goulart, que regressou hoje do Recife, seguiu diretamente para o Palacio do Catete para hipotecar solidariedade ao presidente da Republica.

ZENOBIO AVISTA-SE COM O BRIGADEIRO

RIO, 9 (Sucursal) — Segundo se informa, o general Zenobio da Costa manteve esta tarde uma conferencia com o brigadeiro Eduardo Gomes a quem pedira que indicasse o nome de um brigadeiro para suceder ao sr. Nero Mouro na pasta da Aeronautica. O brigadeiro Eduardo Gomes ter-se-ia recusado a atender o pedido alegando dois motivos:
1º porque achava que qualquer brigadeiro seria capás de assumir aquela pasta; e
2º porque, adversario do governo, estava por isso impedido de qualquer pronunciamento nesse sentido e mesmo não acreditava que um nome por ele proposto fosse aceito pelo sr. Getulio Vargas
.

NÃO FOI PRESO AINDA O INVESTIGADOR CLIMÉRIO — A SENSACIONAL CONFISSÃO DO MOTORISTA, QUE APONTOU O CRIMINISO

RIO, 9 (Sucursal) — Somente devida à argucia do capitão Ferreira das Neves, professor da Policia Tecnica, o motorista Nelson Raimundo de Sousa veio afinal a confessar sua participação no crime da rua dos Toneleiros, denunciando seus cumplices. Transferido, a seu proprio pedido, para outra dependencia policial, onde supunha encontrar maiores garantias, o motorista foi ouvido na policia militar (Batalhão Moto Mecanizado, por aquele oficial, para tanto autorizado pelo delegado Pastor. O capitão Ferreira das Neves conhecera o motorista ao tempo em que ele frequentou as aulas da policia tecnica, circunstancia que lembrou, ao iniciar sua palestra com o preso, que decorreu numa dependencia isolada, presente apenas outro oficial um pouco distante. O capitão teria perguntado ao motorista se não desejava mandar algum recado para a familia e demonstrou interesse em emprestar-lhe qualquer obsequio nesse sentido, Impondo-se deste modo, à confiança do motorista, passou a capitão a sondá-lo sobre a sua participação no crime. Inopidamente, fez-lhe essa pergunta: - Mas o homem que você conduziu era investigador junto ao Catete ou da guarda pessoal? Nelson empalideceu subitamente e daí para a confusão não restou ao oficial senão impor sua confiança, mediante promessas de garantia e demonstrações de solicitude. Diante disso, o motorista resolveu contar o que sabia. Cercado de absoluto sigilo, o depoimento ainda não é conhecido da imprensa senão em detalhes colhidos ao acaso, através de dificuldades compreensiveis em razão da reserva que se vem mantendo sobre o assunto. Sabe-se, porem, que o motorista revelou o nome de um dos assaltantes: Climerio Eurides de Almeida, apontado como pertencente à guarda pessoal do Catete. Um seu companheiro, que o motorista declarou desconhecer, é que foi o autor da chacina, depois do que fugiu no carro dirigido por ele, Nelson. Outras fontes asseguram que o motorista, na sua confissão, teria revelado o nome do mandante. Ontem à noite, o coronel Milton Guimarães, chefe do gabinete do chefe de Policia, forneceu pormenores das declarações do motorista. Raimundo revelou que Climerio, o contratante do carro, durante o atentado não fez uso de arma. Consumado o crime, ele regressou de lotação à cidade, ao passo que o pistoleiro tomara o seu carro. A Policia localizou ainda a residencia de Climerio, na rua da Abolição, onde descobriu que ele deixara o Rio, com destino a Cabo Frio. Como se desconfiava desde suas primeiras declarações, o motorista Nelson Raimundo de Souza sabia muito mais do que dizia. Sua participação no atentado a Carlos Lacerda não fora acidental, como fizera crer e com acabou confessando, habilmente interrogado. Aliás ainda na sexta-feira ultima, o diretor da Divisão de Policia Tecnica, sr. Silvio Terra, em conversa com o general Moraes Ancora, chamava a atenção de s. exa. para a necessidade de submeter o motorista a um interrogatorio mais minucioso, já que nada fazia admitir que ele estivesse falando a verdade.


A CONFISSÃO SENSACIONAL

As ponderações do sr. Silvio Terra impressionaram o general Armando de Morais Ancora. Mas, realmente, o que mais influiu no sentido de se compelir o motorista a falar a verdade foi a Aeronautica ou, melhor, os elementos da FAB que estão acompanhando mais de perto as dirigencias. Eles não concebiam a atitude da policia aceitando as primeiras declarações de Nelson Raimundo. O motorista, em hipotese alguma, estaria inocente. Desconhecendo seus passageiros, como iria esperá-los mais de uma hora, e sobretudo, depois daquele tiroteio? Um detalhe importante a reportagem d'O Globo apurou ontem. Nelson Raimundo permanecera na rua Paula Freitas, aguardando que os sicarios executassem sua missão assassina, desde às 22 h 30. Quanto a isso, não há duvida nenhuma. Pelo contrario, existe, a respeito, o depoimento de uma testemunha ocular, altamente elucidativa. A pressão do pessoal da Aeronautica, no sentido de que a Policia agisse com mais energia junto ao motorista, levou as autoridades do 2º Distrito a admitirem que os oficiais da FAB pretendiam sequestrar Nelson Raimundo. Daí, sua remoção para o Corpo Motomecanizado da Policia Militar. Isto mesmo, alias, as autoridades daquele distrito afirmaram ao jornalista Carlos Lacerda, isto é, que haviam resolvido transferir o "chauffeur" por recearem um sequestro por parte dos elementos da FAB. Mas, a verdade é que Nelson Raimundo pouco permaneceu na Delegacia do 2º Distrito. Esteve sempre em diferentes dependencias da Policia, inclusive na Divisão de Policia Politica e Social. Em face, como já dissemos, da pressão que se fazia, a Policia resolveu agir com mais determinação. E teve exito. O motorista cedeu à habilidade e à argucia dos interrogatorios, confessando, afinal, a verdade.

ASSISTIRAM AO DEPOIMENTO

Podemos informar que o depoimento do motorista Nelson Raimundo ainda não está concluido e só o será depois da prisão de um dos criminosos. Até o presente momento, o motorista sofreu um interrogatorio de cerca de trinta horas. Foi às primeiras horas da noite de sabado que Nelson Raimundo resolveu confessar toda a verdade. E, já pela madrugada, suas declarações definitivas eram tomadas a termo. O ministro da Justiça, sr. Tancredo Neves, o chefe de Policia e o brigadeiro Eduardo Gomes assistiram ao depoimento do motorista.

INVESTIGAÇÕES NO CATETE

À sensacional confissão do motorista, seguiram-se instantes dramaticos. Era evidente que as investigações tinham de chegar, de qualquer maneira, ao Palacio do Catete. O problema naquele momento era prender o policial apontado pelo motorista. E a primeira ordem dada pelo delegado Pastor foi no sentido de prendê-lo, custasse o que custasse. Posteriormente, tratou-se da gravação do depoimento de Nelson, já, então, diante do chefe de Policia e do brigadeiro Eduardo Gomes. E tudo isso foi transmitido ao ministro Nero Moura, que, por sua vez, se comunicou com o ministro Tancredo Neves e, este, com o general Caiado de Castro. Àquela altura, todas as altas patentes militares tinham ciencia dos fatos. Pensou-se em despertar o proprio sr. Getulio Vargas, uma vez que s. exa. se dissera disposto a colaborar em tudo e querer saber de todos os detalhes. E o chefe do Governo só não foi chamado porque o general Caiado de Castro não saira do Palacio e disse que esperaria os policiais para fazerem a diligencia. Foram ter então no Catete o delegado Jorge Pastor, o coronel Adil de Oliveira e o promotor Cordeiro Guerra. Eram 5 horas e, por ordem do chefe da Casa Militar, toda a guarda pessoal do presidente foi colocada à disposição das investigações. O primeiro a ser ouvido foi o tenente Gregorio Fortunado. Deu os informes que podia acerca de Climerio e da sua fuga. A partir desse momento, começou a caçada sem treguas ao policial acusado. E os esforços nesse sentido continuam ainda sem esmorecimento.

MEDO TERRIVEL


Nelson de Souza está tomado de intenso pavor. Seu medo redobrou e, agora, não quer sair de modo nenhum do quartel.

EXPOSIÇÃO AOS OFICIAIS DA AERONAUTICA

RIO, 9 (Sucursal)
— Na reunião de ontem à noite dos oficiais da Aeronautica, que acompanham a apuração do assassinato do major Vaz, foi exposto o seguinte:
1º - Foi o depoimento do motorista Raimundo, que, tomado por termo, foi gravado na Policia Militar.
2º - Pelo depoimento, ficou-se sabendo que um dos pistoleiros que praticou o assassinato e o atentado já do conhecimento publico, é o investigador 763, de nome Climero, lotado na presidencia da Republica — guarda pessoal. Todos os detalhes do depoimento já são do conhecimento do presidente da Republica, ministro da Justiça e ministro da Aeronautica. A policia já tem pistas seguras para identificar os outros. 3º - Por conseguinte, a partir do presente momento, acha-se a presidencia da Republica em condições de entregar à policia um dos pistoleiros que assassinaram o major Vaz e alvejaram o jornalista Carlos Lacerda.

A AERONAUTICA NÃO SE SURPREENDEU

Por volta das 4 horas de ontem sob a maxima cautela o delegado Jorge Pastor relatava a confissão de Nelson ao representante do Ministerio Publico, ao coronel Adil de Oliveira e a varios oficiais aviadores que haviam prestado o compromisso de honra de não revelar a ninguem o que iriam ouvir. A impressão que se teve, porem, foi de que a oficialidade não se surpreendeu ao ser declinado o nome de Climerio Eurides de Almeida.

IDENTIFICADOS, ADIANTA-SE, MAIS DOIS ASSALTANTES

RIO, 9 (Sucursal) — O coronel João Adil de Oliveira designado pela Aeronautica para acompanhar o inquerito do 2º Distrito estaria de posse da identidade de um segundo participante do crime da rua Toneleiros, cujo nome não foi ainda revelado por conveniencia das diligencias que estão sendo levadas a efeito. Sabe-se por outro lado que alem de Climero de Almeida e desse outro cumplice, as autoridades estariam na pista de um terceiro participante no barbaro atentado. Ao que se adianta que as investigações da Aeronautica para a elucidação do caso estão mais adiantadas do que as da propria policia.

DILIGENCIAS NO ITAMARATI

RIO, 9 (Sucursal)
— Oficiais da Aeronautica realizaram hoje diligencia no Itamarati a fim de apurar se algum pedido de passaporte fora atendido nos ultimos dias pelo Ministerio do Exterior por solicitação da presidencia da Republica. Segundo informantes, no dia imediato ao crime elementos ligados ao Catete teriam feito gestões nesse sentido junto ao Itamarati, tendo sido essa versão divulgada pela imprensa e merecido contestação dos meios oficiosos. Entretanto, os oficiais da Aeronautica, fardados e com o sinal de luto na lapela, estiveram hoje em contacto com os funcionarios da seção incumbida do fornecimento de passaportes do Itamarati, desconhecendo-se o resultado dessa diligencia.

REPRESENTANTE DOS JORNAIS NAS INVESTIGAÇÕES

RIO, 9 (Sucursal) — O sr. Tancredo Neves, ministro da Justiça, recebeu hoje à tarde em seu gabinete os membros do Clube de Diretores e Principais Redatores dos Jornais do Rio de Janeiro. Na reunião, em que foram trocados pontos de vistas a respeito do desenvolvimento do inquerito policial sobre o atentado da madrugada do dia 5, declarou o ministro que o governo aceitava com satisfação o oferecimento daquela entidade, de indicar um de seus membros para acompanhar os trabalhos da autoridade encarregada das apurações. Foi apontado e aceito o nome do sr. Elmano Cardim, diretor do "Jornal do Comercio".

À PROCURA DO CRIMINOSO

Todos os esforços da Policia concentram-se, agora, na localização de Climerio Eurides de Almeida, o homem-chave do atentado contra Carlos Lacerda. Somente com sua prisão, poderá a Policia esclarecer as origens do crime, seus verdadeiros responsaveis, em suma, desvendar o "complot" de que resultou a morte do bravo major Rubens Florentino Vaz. Fez-se muita fantasia em torno das diligencias para a localização de Climerio Eurides de Almeida. Falou-se em fazenda, citaram-se nomes cometeram-se exageros. A verdade é que, quando a grande caravana chefiada pelo delegado Hermes Machado daqui partiu levava um roteiro certo. Não obstante as informações colhidas na residencia de Climerio, em Cachambi, como com pessoas de suas relações, as batidas realizadas em zonas fluminenses proximas ao Distrito Federal e mesmo neste territorio, não foram coroadas de exito, entretanto. E a caravana regressou domingo à noite, sem o apontado criminoso. O delegado Hermes Machado, seus auxiliares e os oficiais da Aeronautica repousaram poucas horas. Hoje deixava novamente a Policia Central rumo a outros pontos do interior fluminense indicados como possiveis refugios do criminoso. É provavel mesmo que, a esta hora, Climerio já esteja preso. Mas tambem poderá ter acontecido o que não foge às previsões da Policia: Climerio poderia ter chegado a São Paulo, Espirito Santo ou Minas Gerais, de onde atingiria o Brasil Central, colocando-se longe do alcance da Policia, e refugiando-se mesmo num país limitrofe.

NOVAS DILIGENCIAS

RIO, 9 (Sucursal) — O delegado Hermes Machado à noite regressou no interior fluminense onde percorreu diversas cidades sem obter qualquer resultado. Todas as pistas indicadas não conduziram a qualquer indicio do roteiro seguido pelo criminoso, em cuja busca a policia, conjuntamente com oficiais da Aeronautica, está desenvolvendo tenaz esforço. A referida autoridade entretanto ainda não está desanimada e amanhã cedo retomará as diligencias.

QUEM É O CURIOSO

O investigador Climerio Eurides de Almeida, apontado pelo motorista Nelson Rodrigues de Souza como um dos participantes do atentado contra Carlos Lacerda, é natural do Rio Grande do Sul, da zona da fronteira. Veio para o Rio em 1940 e sempre serviu, como componente da guarda pessoal do presidente da Republica, no Catete. Foi um dos raptores do jornalista Helio Sodré, em 1944, e incumbiu-se de guardá-lo num dos porões do Palacio Rio Negro, em Petropolis. Depois desse rapto, esteve refugiado na Argentina. Deposto o sr. GetulioVargas, em 1945, Climerio conseguiu, por intercessão de pessoa influente, ser admitido como investigador na policia. Foi servir na Delegacia de Vigilancia e Capturas. Aliás, sempre disse ser protegido por duas pessoas de muita influencia junto ao sr. Getulio Vargas. Em companhia de uma dessas duas figuras foi mesmo visto varias vezes. Climerio Eurides de Almeida é gordo, de estatura mediana - cerca de 1m70; tem olhos castanhos claros, pele clara, parecendo estrangeiro, e acentuadas marcas de variola no rosto. Costuma trajar blusão. Assiduo freguentador das corridas do Hipodromo da Gavea, o criminoso possui uma fazenda no interior do Estado do Rio, proximo ao Distrito Federal. Cerca de vinte dias atrás, encontrou-se com um antigo chefe sob cujas ordens servira na seção de Vigilancia e Capturas. Mostrava-se então apreensivo a situação politica. Apesar disso, deixou surpreso o seu antigo superior quando tirou do bolso algumas laudas de papel e pôs-se a ler versos satiricos...



© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.