NOVO E REDOBRADO ATAQUE DE LACERDA AO PRESIDENTE


Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 9 de outubro de 1965

Neste texto foi mantida a grafia original

A crise politico-militar surgida no país ante os resultados das eleições estaduais ganhou novo impeto ontem, com o violento pronunciamento do governador Carlos Lacerda, para quem, o "Exercito está sendo enganado e o pais está sendo traído pelo presidente Castelo Branco".
Para o governador da Guanabara, o presidente da Republica vem procurando destruir sistematicamente a liderança civil da Revolução, e para tanto usou as ultimas eleições como "habil manobra para compor-se politicamente com o PSD". Segundo o sr. Carlos Lacerda, o presidente Castelo Branco "tramou a vitoria do candidato Negrão de Lima", até mesmo com apoio politico e financeiro para a campanha do representante pessedista.
A anunciada disposição do governo, de introduzir novas reformas constitucionais com o fim de obter maior controle e sobre a administração dos Estados, foi qualificada pelo sr. Lacerda como "tentativa de destruir a Federação e abrir, assim, caminho para a eleição indireta no proximo ano. "A pretexto de cumpri a vontade do eleitorado este ano, o presidente Castelo Branco trama as eleições indiretas em 1966", disse.
Os ataques do sr. Carlos Lacerda não se limitaram à figura do presidente da Republica. Companheiros udenistas e patentes militares entre eles o proprio ministro da Guerra, foram acusados de participarem dos "atos de traição praticados pelo presidente".

Nenhuma reação oficial

Embora conhecido já às primeiras horas de ontem, o pronunciamento do sr. Carlos Lacerda não provocou nenhuma manifestação oficial. No Ministério da Guerra, o ministro Costa e Silva, após reunir-se com todos os generais que detêm comandos, afirmou tratar-se de sessão rotineira, semanalmente realizada.
O general Justino Alves Bastos comandante do III Exercito, e o almirante Paulo Bosisio, ministro da Marinha, que dela participaram, seguiram, após a reunião, para o aeroporto Santos Dumont, a fim de embarcarem para o Rio Grande do Sul. Recusaram-se, contudo, a prestar qualquer declaração.
A atitude tomada pelo sr. Carlos Lacerda, contrapõe-se a posição tomada pelo PSD, através do sr. Vieira de Melo. Em discurso pronunciado na Camara Federal, o representante pessedista, após elogiar a firmeza com que o governo vem insistindo na posse aos eleitos, reafirmou que seu partido retorna à "oposição construtiva". "Estamos aqui - afirmou - para combater quaisquer modificações constitucionais ou ilegais que visem restringir ainda mais a area tão restrita em que atualmente podem viver, politicamente, os brasileiros."
O general Justino Alves Bastos confirmou que um novo "Ato Institucional chegou a ser discutido pelo Ato Comando, quando mais intensa era a pressão de areas do Exercito contra a posse dos eleitos". Reiterou ainda que as reformas pretendidas pelo governo visam obter maior controle das administrações estaduais, a fim de evitar a infiltração de "corruptos e subversivos". Nesse campo, o governo realmente viria a interferir diretamente na aprovação dos secretariados escolhidos pelos governadores. Segundo o general Justino Alves Bastos modificações seriam introduzidas tambem na Lei de Imprensa e na legislação que regulamenta as atividades do Supremo Tribunal Federal, com possivel alteração do numero de seus membros.
Tambem a presidencia da Republica manteve silencio sobre os acontecimentos politicos do dia, e afirmou serem "rotineiras" as visitas que o presidente Castelo Branco recebeu ontem. Entre os visitantes figuraram os srs. Nei Braga, governador do Paraná, e Ademar de Barros. O governador de São Paulo, findo o encontro, afirmou que procurara avistar-se com o presidente da Republica a fim de "transmitir-lhe solidariedade por seu espirito civico ao decidir dar posse aos eleitos".
Em São Paulo, o Diretorio Regional da UDN reuniu-se para examinar e debater a decisão adotada pelo governador Carlos Lacerda, de reabrir a questão de sua candidatura à presidencia da República, por aquele partido. A decisão foi francamente favoravel ao governador da Guanabara. A UDN de São Paulo se dispôs a pedir a imediata convocação de nova convenção nacional do partido. Essa deliberação foi comunicada ao sr. Carlos Lacerda, por telegrama do sr. Abreu Sodré, presidente do Diretorio.

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