MONTORO VÊ "MOLECAGEM" NO DESAFIO
|
Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 8 de outubro de 1982
|
|
|
"É o comportamento típico do moleque que desafia
alguém maior para a briga tendo o papai atrás de si.
Quem o protege, no caso, é a Lei Falcão.
Assim a assessoria do senador Franco Montoro, candidato do PMDB
ao governo estadual, através de nota à imprensa, classificou
ontem o desafio lançado na véspera pelo ex-governador
Paulo Maluf, para um debate com Montoro pela televisão. Ao
descartar essa possibilidade, os montoristas disseram ainda sobre
Maluf: "Seu caradurismo é inexcedível."
Acrescentaram que o fato revela "desespero diante do desastre
eleitoral do PDS" e que Montoro "não aceita provocações,
especialmente as de baixo nível".
Maluf, no entanto, reiterou à noite seu desafio, dizendo
estar "à espera" de Montoro. E quem desafiou o
ex-governador para um debate foi o deputado Eduardo Suplicy, do
PT.
|
Montoristas
chamam Maluf de "moleque" e recusam desafio |
A assessoria do senador Franco Montoro, candidato do PMDB ao governo
estadual, classificou ontem o desafio lançado pelo ex-governador
Paulo Maluf, para um debate pela televisão, de "comportamento
típico do moleque que desafia alguém maior para a
briga tendo o papai atrás de si; quem o protege, no caso,
é a Lei Falcão.
Em nota assinada pelo jornalista Quartim de Moraes, a assessoria
de Imprensa de Montoro, a exemplo do que vem fazendo nos últimos
dias, respondeu mais uma vez a Maluf. Montoro, pessoalmente, prefere
ficar em silêncio, evitando possível desgaste na troca
de acusações com Maluf. A nota de sua assessoria é
a seguinte:
"Justiça seja feita ao sr. Maluf: seu caradurismo é
inexcedível. Só não é maior do que sua
paranóica obstinação de subestimar a capacidade
de discernimento político da opinião pública
e do que seu desespero diante do desastre eleitoral para o qual
o PDS caminha inevitavelmente em São Paulo.
"Propõe agora o sr. Maluf um debate com o senador Franco
Montoro, pela televisão. É o comportamento típico
do moleque que desafia alguém maior para a briga, tendo o
papai atrás de si. Quem o protege, no caso, é a Lei
Falcão.
"Ninguém está mais interessado do que o PMDB
em encontrar brechas que possibilitem romper a cortina de silêncio
imposta por essa famigerada Lei Falcão. Uma imposição
autoritária que é de responsabilidade exclusiva do
partido do sr. Maluf.
"Mas, quando encontrarmos novas brechas, não a usaremos
para dar espaço e fazer o jogo do ex-governador, melancólica
figura que o povo paulista faz questão de esquecer bem depressa.
Vamos usá-las para continuar levando a mensagem do PMDB ao
povo; para ampliar a discussão sobre as propostas que o senador
Franco Montoro oferece para tirar o Estado de São Paulo do
abismo social, político, econômico e moral em que foi
lançado por três anos e dois meses de malufismo. E,
se possível, para que o candidato a governador do PMDB possa
debater essas mesmas propostas com outros candidatos a governador.
"Não adianta o sr. Maluf perseverar na tática
do desespero. Não adianta insistir em acusações
pessoais falsas e mentirosas, senão ridículas. O senador
Franco Montoro não aceita provocações, especialmente
as de baixo nível.
"Para o desespero do sr. Maluf, fica a nossa piedosa compreensão".
|
TSE |
Em Brasília, informou-se que não há nenhuma
possibilidade de o TRE de São Paulo ou o TSE autorizar a
divulgação pela televisão de um pretenso debate
entre Maluf e Montoro, qualquer que seja o tema objeto do encontro.
Isso porque, segundo especialistas, a propaganda eleitoral se faz
dentro de limitações extremamente rigorosas e com
base nas leis "Etelvino Lins" e "Falcão".
A primeira só admite a propaganda gratuita regulada pela
Justiça Eleitoral e a segunda estabelece seu critério
de produção.
Nesse sentido foi a recente decisão do TSE, confirmando julgamento
do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul, cuja Ordem
dos Advogados pretendia realizar quatro sessões de debate
com os quatro candidatos ao governo do Estado, uma por vez.
A Ordem dos Advogados argumentou que não faria propaganda
eleitoral, tal como definida na lei, mas apenas debates técnicos,
notadamente em torno do funcionamento do Poder Judiciário.
Em vão. Os dois tribunais entenderam que propaganda eleitoral
é também a simples apresentação de qualquer
candidato no vídeo.
|
Suplicy
também quer a discussão pública |
O deputado Eduardo Suplicy, do PT, afirmou ontem, da tribuna da
Assembléia Legislativa, que o ex-governador Paulo Maluf "não
tem autoridade moral para acusar quem quer que seja de covarde,
pois fugiu de um debate". Lembrou que recentemente foi o próprio
Maluf que evitou discutir na TV Gazeta quando soube que ele, Suplicy,
lá estaria.
Suplicy reiterou sua disposição de debater publicamente
com o ex-governador, "de forma ampla e aberta, em qualquer
auditório público". O parlamentar disse que Maluf
"não é sincero", pois quando deixou a TV
Gazeta, argumentando que iria a um casamento em Belo Horizonte,
da filha do vice-presidente da República, cruzou com o deputado
na escadaria da emissora, tendo declarado que ambos poderiam realizar
o debate na semana seguinte, "o que nunca se concretizou".
Segundo Suplicy, o jornalista Tavares de Miranda, apresentador do
programa, comunicou-lhe na semana seguinte que Maluf não
havia aceito o novo convite.
Suplicy transformou em carta seu pronunciamento e enviou cópia
a Paulo Maluf, formalizando o desafio para o debate público
e apresentando, a exemplo do que fez o ex-governador com o senador
Franco Montoro, candidato do PMDB, uma série de perguntas
que gostaria de ver respondidas por Maluf.
As seis perguntas de Suplicy a Maluf são as seguintes:
"1 Como Vossa Excelência responde ao ato de estar
infringindo a legislação eleitoral, gastando muito
mais recursos do que o limite de Cr$ 15 milhões definidos
pelo PDS para cada candidato a deputado federal em São Paulo,
na sua campanha política? O seu companheiro de partido, deputado
Erasmo Dias, informou à opinião pública, hoje,
na imprensa, que a estimativa de gastos de sua campanha deve superar
os Cr$ 800 milhões. De onde vêm esses recursos e como
justificar o volume tão extraordinário de gastos?
"2 Como Vossa Excelência responde ao ato de juntamente
com o prefeito Antônio Salim Curiati e o candidato a senador
José Papa Júnior estarem todos infringindo a lei eleitoral
ao utilizarem-se todos de gráficas, de combustíveis
e de próprios municipais e do Senac, portanto com dinheiro
alheio, para a concepção de propaganda eleitoral e
pessoal para sua campanha, denúncia confirmada até
pelo presidente do PDS, deputado Armando Pinheiro?
"3 Como Vossa Excelência justifica a farta distribuição
de favores, empréstimos em órgãos oficiais
em termos subsidiados, empregos, a remoção de juízes
para facilitar o arquivamento de processos e muitos outros, com
recursos públicos tendo provas de todos esses fatos,
a representantes do PDS e a membros de partidos da oposição,
durante o seu governo, para que votassem de acordo com a sua vontade
em oportunidades como a votação do nome de Reinaldo
de Barros para prefeito de São Paulo e na sua tentativa de
aprovar o projeto de mudança e construção de
uma nova Capital?
"4 Como Vossa Excelência se sentiria se um candidato
de qualquer partido entrasse numa maternidade e adentrasse uma sala
de parto encontrando aí pessoa de sua família, seminua,
para pedir o seu voto?
"5 Como Vossa Excelência justifica o abuso que
vem sendo cometido pela Polícia Militar de São Paulo,
especialmente através dos policiais nas viaturas da Rota
e da Tático Móvel, que de 1o de janeiro de 1982 até
outubro, já foi responsável por mais de 350 mortes,
em muitas ocasiões de pessoas inocentes ou apenas suspeitas,
sem que lhes fosse dada qualquer oportunidade de julgamento, num
país onde a pena de morte não é permitida,
em circunstâncias em geral duvidosas?
"6 Já que Vossa Excelência se dispõe
a debater perante as câmaras de TV, porque não usa
de toda a sua influência no Congresso, junto ao PDS, e junto
ao governo federal, para que a Lei Falcão seja imediatamente
revogada? Não vi, até hoje, qualquer atitude sua contra
essa lei, que hoje impede o livre debate dos candidatos perante
os meios de comunicação mais modernos, de responsabilidade
de um regime que teme o veredito do povo."
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|