Cai o monopólio do petróleo
|
Publicado
na Folha de S. Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
|
|
|
* Câmara aprova em 1a votação a
mudança
* Emenda encerra 42 anos de privilégio estatal
|
A Câmara
dos Deputados aprovou ontem em primeiro turno a quebra do monopólio
do petróleo. A emenda constitucional teve 364 votos a favor
e 141 contra. Houve 3 abstenções. O quórum, de
508 deputados, foi o maior nas votações da reforma.
O texto tira do Estado a exclusividade sobre pesquisa, prospecção
e refino do produto. O monopólio está em vigor desde
outubro de 1953, como resultado do movimento "O Petróleo
é Nosso".
A emenda permite a entrada de empresas privadas, nacionais e estrangeiras.
Ela ainda será submetida a nova votação na Câmara.
Depois, irá para o Senado.
O presidente Fernando Henrique Cardoso assinou documento comprometendo-se
a não privatizar a Petrobrás.
Manifestantes contrários à emenda, impedidos de entrar
no Congresso por seguranças, quebraram três vidraças
do prédio e invadiram um dos salões da Câmara.
|
Monopólio
da Petrobrás cai em 1a votação em clima tenso |
Relator da emenda é acusado de atender a lobby de empresa privada
Da Sucursal de Brasília
A Câmara começou a quebrar ontem o monopólio da
Petrobrás na exploração, refino e distribuição
de petróleo, que existe desde 1953. Por 364 votos a 141, os
deputados aprovaram em primeira votação emenda que acaba
com a exclusividade da empresa para atuar no setor. O governo precisava
apenas de 308 votos (três quintos dos 513 deputados).
Petroleiros e sem-terra presentes, contrários à quebra
do monopólio, quebraram vidros de um salão do Congresso
ao tentar entrar para pressionar os deputados. A Força Sindical,
favorável ao fim do monopólio, fez panfletagem sem ser
incomodada pela segurança. A emenda será agora submetida
a um segundo turno na Câmara e segue para o Senado, onde também
precisa ser aprovada por três quintos dos 81 senadores em duas
votações independentes.
O relator da emenda, Lima Netto (PFL-RJ) foi acusado, por um petista,
de ter recebido dinheiro de uma distribuidora de derivados de petróleo
em sua campanha.
|
Governo
põe fim a 42 anos de monopólio |
Governistas conseguem 364 votos contra domínio da Petrobrás;
para FHC, interesse nacional está preservado
GABRIELA
WOLTHERS
DANIEL BRAMATTI
Da Sucursal de Brasília
A
Câmara aprovou ontem em primeiro turno a emenda que quebra
o monopólio estatal do petróleo, instituído
há 42 anos. A sessão durou cinco horas e meia e foi
a mais tensa desde o início da votação das
reformas constitucionais.
A Câmara obteve um quórum recorde nestes anos - 508
dos 513 deputados compareceram. Destes, 364 votaram a favor da quebra
do monopólio e 141 contra. Houve três abstenções.
O PC do B afirmou que vai recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal)
para tentar anular o resultado.
O PMDB voltou a ser o partido governista com maior dissidência
- 23 deputados votaram contra. O PSDB teve sete. PTB e PPR, dois
cada e o PL, um voto.
Cinco deputados faltaram à sessão: Alzira Ewerton
(PPR-AM), Mauro Fecury (PFL-MA), Augusto Farias (PP-AL). Sandra
Starling (PT-MG) e Hugo Lagranha (PTB-RS). Starling não compareceu
por estar hospitalizada.
A emenda será votada mais uma vez pela Câmara. A votação
em segundo turno está marcada para o próximo dia 21.
Se aprovada, ela será encaminhada ao Senado, onde precisará
passar por mais duas votações para ser promulgada.
A sessão foi aberta às 16h. Logo em seguida, o deputado
Haroldo Lima (PC do B-BA) apresentou um requerimento para adiar
a votação. O pedido foi rejeitado. Era a demonstração
de que a oposição (PT, PDT, PC do B e PSB), não
conseguiria impedir a aprovação da quebra do monopólio.
Durante
a sessão, o relator da emenda, deputado Procópio Lima
Netto (PFL-RJ), foi acusado pelo PT de ter recebido doações
de uma empresa petrolífera para sua campanha eleitoral. Lima
Netto admitiu a contribuição.
A deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) disse que o partido recorrerá
à Justiça por entender que o texto do relator está
"contaminado" pelas doações que recebeu.
"Isso é uma guerra e perdemos apenas a primeira batalha",
disse.
O deputado Milton Temer (PT-RJ) acusou, por sua vez, o deputado
Roberto Campos (PPR-RJ) de chamar a Petrobrás de "petrossauro",
mas, ao mesmo tempo, pedir para empregar na estatal seus "afilhados
políticos".
Em seguida, mostrou um telex de 1992 com o nome de Campos em que
ele aparece pedindo para que Benedito Alves da Rocha seja empregado
no cargo de assessoramento superior na Petrobrás.
Campos rebateu, afirmando que o telex é falso e não
possui a sua assinatura. "Qualquer um pode ter enviado o telex
em meu nome", respondeu o deputado.
O Deputado Almino Affonso (PSDB-SP), que integrou a campanha "O
Petróleo é Nosso", era um dos dissidentes tucanos.
"A Petrobrás é a maior empresa da América
Latina e em todo o mundo ou o monopólio é estatal
ou é privado. Eu prefiro que ele continue estatal",
disse Almino ao discursar contra a emenda.
O ex-comunista Alberto Goldman (PMDB-SP) rebateu: "Ao defender
a emenda, não faço olhando para o passado, faço
olhando para o futuro. Temos que implantar um novo modelo de desenvolvimento
para o país."
|
FHC |
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, por meio de
seu porta-voz, Sérgio Amaral, que "tem autoridade e
se sente à vontade" para propor o fim do monopólio
porque foi seu defensor na época da criação
da Petrobrás, em 1953.
O argumento de FHC é que os tempos são outros e que
o monopólio hoje impede a expansão da Petrobrás.
"O interesse nacional estará mais bem-preservado com
a emenda propostas à Constituição", disse
Sérgio Amaral.
|
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|