BRIZOLA PREFERE PRN DE RIVAL
O candidato do PDT, Leonel Brizola, afirmou que seu adversário
"ideal" para o segundo turno é Fernando Collor
de Mello (PRN), "que não tem consistência".
Segundo Brizola, a polarização provocaria a formação
de uma frente com "conservadores" e "progressistas".
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 1989
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Brizola
diz que formará 'frentão' contra Collor |
Neri Vitor Eich
Da Sucursal do Rio
O candidato
do PDT à Presidência, Leonel Brizola, 67, disse ontem
que prefere disputar o segundo turno das eleições
com o candidato do PRN, Fernando Collor. Esta situação,
segundo Brizola, levaria à Formação de um "frentão"
reunindo "progressistas" e "conservadores",
numa aliança que, segundo ele, resulta num "excelente
governo". O ex-governador do Rio disse que, se eleito, governará
com ajuda "do máximo possível de forças",
incluindo "áreas conservadoras, integradas por gente
lúcida e até progressista."
Segundo Brizola, Collor é seu adversário ideal porque
"não tem consistência". O candidato do PDT
entende que Collor estará numa "pista de descida"
caso se recuse a participar dos debates públicos e estará
na mesma situação se participar, "por causa da
falta de consistência". As declarações
foram feitas na rádio Tupy, do Rio, onde Brizola participou
do programam "Cidinha Livre", apresentado por Cidinha
Campos. Num intervalo do programa, ele rejeitou a idéia de
que Collor poderia repetir Jânio Quadros, eleito prefeito
de São Paulo em 1985 sem participar de debates. "Jânio
tinhas consistência. Até certo ponto, mas tinha, como
um Aureliano ou um Lula", disse.
Brizola disse ainda que gostou muito do discurso de Mário
Covas (PSDB) no Congresso. "Ele expressou as nossas idéias,
embora de forma incompleta. A medida que Covas e o PSDB se impregnam
do popular, iremos nos aproximando", previu. Para ele, "faltou
a Covas detalhar certos conceitos, como o do combate à inflação,
em que ele fugiu à afirmação de que suas causas
são internacionais".
O candidato afirmou que pediu ao presidente do TSE, Francisco Rezek,
para serem introduzidas duas novidades na legislação
eleitoral este ano: liberdade para os candidatos se apresentem ao
vivo no horário gratuito e a transformação
das mesas receptoras de votos em mesas de apuração,
"para maior segurança contra fraudes". Brizola
e seu vice, deputado Fernando Lyra, acertaram ontem que o primeiro
comício será no dia 29, em Americana (SP), cidade
governada pelo PDT. A escolha de São Paulo para abrir a campanha
de rua deve-se à frágil estrutura que o partido tem
no Estado.
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Com
Athayde, tema é o populismo |
Da Sucursal do Rio
Ao
sair ontem do prédio dos "Diários Associados",
no centro do Rio, o candidato do PDT, Leonel Brizola, 67, encontrou-se
com o presidente da Academia Brasileira de Letras, Austregésilo
de Athayde, 91.
Brizola (abraçando-o) - Tudo tranquilo?
Athayde - Tudo tranquilo? Ou tudo tranquinas? Olha vocês continuando
assim eu vou me candidatar e derrotar todos vocês. Tenho 91
anos, mas é do joelho para baixo. Do joelho para cima eu
tenho 40. Se eu fosse ministro, colocava ordem na economia em seis
meses. Os economistas é que perturbam.
Brizola - Não deixam ninguém ver certas coisas
que estão no senso comum. É preciso simplificar a
vida brasileira.
Athayde - Tem que fazer como minha mãe. Ela trazia
no bolso a chave do cofre, a chave do tesouro, e só ela usava.
Brizola - O povo está cansado de carranca, é
carente, precisa até de carinho.
Athayde - Seria uma besteira se você, vendo o que aconteceu
na Argentina e no Uruguai com o populismo, seguisse pelo mesmo caminho.
Brizola - A gente tem que tomar cuidado com o que dizem do
populismo. Botam todo mundo no mesmo saco.
Athayde - Se o populismo salvasse as nações,
a Argentina e o Uruguai seriam prósperos.
Brizola - A Argentina tem 70 anos de militarismo.
Athayde - Pois é. E o seu patrão, o Getúlio
Vargas, me exilou na Argentina por três anos, em 1932.
Brizola - Mas, também, você foi fazer aquela
Revolução em São Paulo. Você tirou três
anos de exílio, mas eu tirei 15. Foi a única coisa
na vida em que venci você.
Athayde - Pois é. E nesses 15 anos você não
aprendeu nada. Eu aprendi que em política não se deve
fazer inimigos...
Brizola - Mas quando um político (Collor) chama você
de filho da..., como é que eu posso dar a mão a ele?
Athayde - Quando alguém chamar você de 'filho
da...' você deve perguntar: "Uai, mas você não
é meu irmão?"
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