PALESTINOS VÊM INSTALAR-SE AQUI
Emissário
de Arafat aguarda em Brasília autorização
para abrir escritório da OLP
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Publicado
na Folha de S.Paulo, terça-feira, 6 de abril de 1976
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O Brasil foi escolhido pelo líder palestino Yasser Arafat para
abrigar o primeiro escritório da Organização
para a Libertação da Palestina (OLP) na América
Latina, o qual se encarregará de estabelecer contatos, aqui
e em outros paises do continente, com os simpatizantes de causa árabe.
O responsável pela instalação do escritório,
sr. Salah Zawawi, chegou a Brasília no fim de semana e está
agora aguardando que o governo brasileiro conceda permissão
para funcionamento da representação palestina. Ele é
também portador de cartas de Yasser Arafat ao presidente Geisel
e ao chanceler Azeredo da Silveira.
A abertura do escritório palestino no Brasil resulta de entendimento
que uma delegação da OLP teve aqui, em fins do ano passado.
Essa visita era mantida até agora sob reserva, embora a missão
se houvesse avistado com o chanceler Azeredo da Silveira e com chefes
diplomáticos ligados aos problemas árabes. Na delegação
estavam o vice-diretor do Departamento Político da OLP, sr.
Abdel Latif Abu Hijla, e o chefe do Departamento para a América
Latina da OLP, sr. Wadi Mohamed.
Eles pediram ao governo a abertura de uma representação
da OLP no Brasil, argumentando que ela corresponde ao atual desejo
da política brasileira de aproximação com o mundo
árabe. O voto brasileiro contra o sionismo na ONU - considerando-o
uma forma de racismo - sensibilizou os árabes, que resolveram
politizar essas relações, elevando-as ao nível
de seus interesses.
Mas, desde a partida da missão da OLP, o governo brasileiro
ainda não aprovou a instalação do escritório
palestino. No Itamarati, o processo para abertura desta representação
continua sendo examinado, tendo sido estudado sob muitos ângulos,
particularmente o da situação jurídica e diplomática
sob a qual funcionará o escritório palestino. Qual será
seu "status" diplomático? Até onde poderá
agir na América Latina, tendo o Brasil por base? Que tipo de
militância política exercerá essa representação?
São essas as perguntas cujas respostas correspondem aos minuciosos
estudos do Ministério das Relações Exteriores.
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Contatos
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Para não perder tempo, no entanto, Yasser Arafat resolveu enviar
logo o futuro chefe do escritório palestino, confiando-lhe
a tarefa de ir adquirindo ou alugando instalações para
a representação e estabelecendo contatos com os líderes
e diplomatas árabes no Brasil.
Este enviado da OLP chegou no fim de semana a Brasilia. É o
sr. Salah Zawawi. Tem 39 anos, é amigo pessoal de Yasser Arafat
e já esteve antes no Brasil, como turista. Passou o dia de
ontem e passará o de hoje apresentando-se aos embaixadores
árabes em Brasília. Seu anfitrião na capital
da República - enquanto não se instala a sede da OLP
- é o encarregado de Negócios da Liga Arabe, sr. Ibrahim
Abdala Ibrahim.
Para resolver o problema de sua permanência no Brasil, enquanto
o Itamarati não lhe concede o visto diplomático como
representante da OLP, os diplomatas árabes adotaram o seguinte
procedimento: obtiveram para ele a função de conselheiro
da Liga dos Estados Árabes - uma entidade reconhecida pelo
governo brasileiro e funcionando no Brasil há 31 anos. Ele
ficará, para efeitos funcionais, nesse posto, até a
regulamentação, pelo Itamarati, do funcionamento do
escritório da OLP.
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Uma
poderosa força com exército próprio |
A Organização de Libertação da Palestina
foi criada em 1964 pela Conferência de Cúpula Árabe,
como uma espécie de organismo governamental constituído
por um núcleo da antiga elite palestina, que quase nada tinha
em comum com os campos de refugiados.
Trata-se de organização poderosa, política e
militarmente, possuindo até um exército regular (Exército
de Libertação da Palestina) e um comando-unidade, as
Forças de Libertação Popular, formadas em 1967,
depois da Guerra dos Seis Dias entre árabes e israelenses,
quando a OLP diminuiu sua dependência do Egito e assim aumentou
seu prestigio político.
Em fevereiro de 1969, a Al Fatah fundiu-se à OLP, que desde
então passou a funcionar como uma organização
de cúpula, incluindo vários grupos palestinos e comandos
guerrilheiros.
Por 105 votos a favor, 4 contra e 20 abstenções, a Organização
das Nações Unidas aprovou, em outubro de 1974, uma resolução
que autorizou a OLP a participar dos debates sobre a questão
palestina, na qualidade de representante do povo palestino.
Em junho de 1975, a Organização Internacional do Trabalho
(OIT) convidou a OLP a participar, na qualidade de observador, de
sua Conferência Geral de Genebra, o que determinou protestos
dos representantes norte-americano e israelense que se retiraram daquela
reunião.
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