A nova Constituição brasileira entra em vigor hoje,
no instante em que o presidente do Congresso constituinte, Ulysses
da Silveira Guimarães (PMDB-SP), afirmar: "Declaro promulgada
a Constituição da República Federativa do Brasil."
Este ato, que marca o fim do processo de transição
para a democracia, deve ocorrer às 15h38. Depois, uma salva
de 21 tiros de canhão e o repique dos sinos da catedral e
das igrejas de Brasília vão saudar o acontecimento.
A cerimônia de promulgação prevê o juramento
da Carta pelos constituintes, pelo presidente Sarney e pelo presidente
do Supremo Tribunal Federal, ministro Rafael Mayer. Haverá
três discursos. O senador Afonso Arinos (PSDB) falará
em nome dos parlamentares e o presidente da Assembléia da
república de Portugal, Victor Crespo, pelas delegações
estrangeiras. Caberá a Ulysses, postulante à candidatura
presidencial, fazer o discurso final, fechando 20 meses de trabalhos
constituintes.
Na manhã de ontem, Ulysses plantou uma muda de "Pau-ferro"
na inauguração do Bosque dos Constituintes. O deputado
disse que se sentia como "uma noiva muito emocionada".
O consultor-geral da República, Saulo Ramos, invocou a liberdade
de expressão ao responder aos ataques de Ulysses no sentido
de que estava "falando demais" ao criticar a Constituição.
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João
Batista Natali
Enviado especial a Brasília
"Declaro promulgada a Constituição da República
Federativa do Brasil". No exato instante em que o presidente
do Congresso constituinte Ulysses da Silveira Guimarães (PMDB-SP),
71, pronunciar esta frase a nova Constituição do país
entre em vigor e está encerrada a transição
democrática. A declaração oficial de que o
país entra numa ordem constitucional democrática está
prevista para as 15h38 de hoje. A seguir, uma salva de 21 tiros
de canhão e o repicar dos sinos da Catedral e igrejas de
Brasília vai saudar a nova Carta.
O início da solenidade de promulgação da nova
Constituição está previsto para as 15h30, quando
os constituintes farão seu juramento à nova Carta.
A seguir, o presidente da República, José Sarney,
que estará sentado à direita de Ulysses à Mesa
do Congresso constituinte, faz seu compromisso de "manter,
defender e cumprir a Constituição". Depois de
Sarney, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Rafael
Mayer, presta o mesmo juramento configurando a submissão
dos três Poderes da República ao novo texto constitucional.
Seguem-se três discursos. No primeiro deles, em nome dos constituintes,
o senador Afonso Arinos (PSDB-RJ) dirá que pela primeira
vez o Brasil estará dotado de normas constitucionais capazes
de acompanhar sua evolução social. Isso porque, além
dos direitos individuais que o texto garante, os direitos sociais
são fixados como metas a serem atingidos a médio e
a longo prazos. Discursa a seguir, como representante dos convidados
estrangeiros, o deputado Victor Crespo presidente da Assembléia
da República de Portugal. O encerramento fica a cargo de
Ulysses Guimarães, que fala última vez como presidente
do Congresso constituinte e dá por concluído os 20
meses de sua existência. Às 20h30, o candidato a presidência
da República Ulysses Guimarães volta a discursar na
abertura de um jantar no restaurante do Anexo 4 da Câmara.
O dia de ontem foi ocupado com minuciosos preparativos que a sessão
de promulgação da nova Carta. O sistema de som era
testado com alguns swings norte-americanos da década de 40,
enquanto abaixo do crucifixo, e atrás da Mesa Diretora dos
trabalhos, estavam hasteadas as recém-lavadas bandeiras de
todos os Estados e da União.
O clima de véspera de solenidade importante era igualmente
visível nos corredores do Congresso, que voltavam a se agitar
após um recesso branco iniciado na madrugada de 2 setembro,
quando terminou a votação do segundo turno do Congresso
constituinte, só interrompido por 24 horas, há 13
dias, para a votação do texto final.
Por mais que a Câmara e o Senado estivessem com suas sessões
suspensas a movimentação começou pela manhã,
com uma cerimônia programada pelo Ministério da Agricultura
e pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF),
num terreno atrás da praça dos Três Poderes,
e transformado em Bosque dos Constituintes.
São exatas 600 mudas de 20 espécies de árvores
brasileiras, cada uma com o nome dos 559 constituintes ou suplentes
que chegaram nesses 19 meses a exercer o mandato. Ulysses plantou
uma muda de "Pau-ferro" [Vaesalpinia leiostachya, da familia
das Leguminosae]. Cunha Bueno (PDS-SP), um "Guapuruvu",
e o senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) um "Capitão-do-serrado".
O segundo ato festivo do dia: no corredor que separa o Salão
Verde do Anexo 2 da Câmara dos Deputados, o presidente do
Congresso constituinte descerrou um mural de 30 metros quadrados,
concebido pelo artista plástico Otávio Roth, com pequenos
retângulos coloridos, cada um com letras manuscritas em caligrafias
diferentes, reproduzindo o mais extenso dos artigos do texto constitucional:
o de número 5, reservado aos direitos e garantias individuais.
A exemplo do que deverá ocorrer hoje, até nos mais
minúsculos detalhes, havia a marca personalizada de Ulysses
Guimarães. "O espetáculo também foi montado
como pano de fundo de sua candidatura presidencial", comentou
o deputado Gastone Righi (PTB-SP).
O dia da promulgação
9h
O cardeal de Brasília, d. José Freire Falcão,
e o pastor evangélico Josiel Nunes Gomes celebram culto ecumênico
no gramado da Esplanada dos Ministérios.
10h30 O deputado Ulysses Guimarães recebe os
cumprimentos das delegações estrangeiras no Salão
Nobre da Câmara dos Deputados.
15h20 O presidente José Sarney, Ulysses e o
presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Rafael Mayer, passam
em revista as tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica
que estarão no gramado diante do Congresso.
15h25 No hall do Salão Negro, os três
serão recebidos pelo presidente do Senado, Humberto Lucena,
e pelos membros das Mesas da Constituinte, Câmara e Senado
mais o relator Bernardo Cabral. Sarney e Mayer serão depois
levados ao Salão Nobre do Senado.
15h30 Ulysses instala a última sessão
da Constituinte e nomeia uma comissão de líderes para
acompanhar Sarney e Mayer até a mesa dos trabalhos. Depois
de anunciar que a sessão se destina a promulgar a nova Constituição,
Ulysses determinará a execução do Hino Nacional
por uma banda militar que estará nas galerias. Em seguida,
o presidente da Constituinte assinará originais da Constituição
e a declarará promulgada. Sarney, Mayer e Lucena receberão
um exemplar da nova Carta. Os demais originais ficarão com
a Câmara e o Arquivo Nacional.
17h Coquetel oferecido às autoridades estrangeiras
e nacionais.
20h30 Ulysses oferece jantar às delegações
estrangeiras, presidentes de Assembléia Legislativa e líderes
partidários na Constituinte, no restaurante do 10o. andar
(Anexo IV) da Câmara dos Deputados.
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