GOVERNO MÉDICI MENTIU SOBRE A PÓLIO, DIZ SABIN


Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1980

O professor Albert Sabin, descobridor da vacina contra a poliomielite, acusou ontem o governo do ex-presidente Garrastazu Médici de ter manipulado dados referentes às condições de saúde no Brasil, no período entre 1969 e 1973, principalmente os relacionados a surtos epidemiológicos.
O cientista, que nos últimos 20 anos esteve diversas vezes no País para observar a situação da poliomielite e outras doenças epidemiológicas, disse que "os relatórios encaminhados à Organização Mundial de Saúde apresentavam estatísticas duvidosas, o que somente agora eu posso confirmar".
A acusação foi feita em entrevista concedida por Sabin no Ministério da Saúde, em Brasília, na presença dos ministros Valdir Arcoverde e Jair Soares, da Saúde e da Previdência Social. Segundo o cientista, com base nesses relatórios, as autoridades sanitárias mundiais tinham a poliomielite como doença extinta em território brasileiro a partir de 1973. "Os números notificados entre os anos de 1969 e 1973 apontavam uma redução da poliomielite da ordem de 86 por cento, fato somente conseguido em nações desenvolvidas da Europa e nos Estados Unidos; essa redução, porém, era incorreta", declarou Sabin.
Ouvidos ontem, os ex-ministros da Saúde do governo Médici, Rocha Lagoa e Mário Machado de Lemos, procuraram refutar as acusações. Rocha Lagoa, que ocupou o cargo até 1972, afirmou, em Petrópolis, que o cientista "talvez tenha se equivocado com as datas". Machado de Lemos, que foi ministro de 1972 a 1974, negou que o Ministério da Saúde tenha divulgado, nesse período, que a poliomielite estava controlada no País.

Governo Médici acusado de ocultar poliomielite

Das Sucursais e do Serviço Local

O governo do general Garrastazu Médici manipulou os dados referentes à saúde no Brasil, principalmente os que diziam respeito a surtos epidemiológicos, revelou ontem o cientista Albert Sabin. Segundo ele, que nos últimos 20 anos esteve no Brasil estudando casos de poliomielite e outras doenças epidemiológicas, "os relatórios encaminhados à Organização Mundial de Saúde apresentavam estatísticas duvidosas, o que somente agora eu posso confirmar".
Em companhia dos ministros Valdir Arcoverde, da Saúde, e Jair Soares, da Previdência Social, Albert Sabin observou que as autoridades sanitárias mundiais tinham a poliomielite como extinta em território brasileiro a partir de 1973. Naquela época, foram ministros da Saúde os sanitaristas Rocha Lagoa e Machado de Lemos.
No encontro com os jornalistas, quando foi anunciado o "Dia Nacional de Vacinação"- 14 de junho -, o cientista acentuou que "os números notificados entre os anos de 1969 a 1973 apontavam uma redução da poliomielite da ordem de 86 por cento, fato somente conseguido em nações desenvolvidas, como os Estados Unidos e países europeus; essa redução, porém, era incorreta".
Afirmando que "não entrarei no mérito da questão, pois é um assunto que não me diz respeito", Albert Sabin acrescentou que um estudo a ser desenvolvido brevemente nos escolares que nasceram entre 69 e 73 no Brasil "comprovará que a poliomielite não estava sob controle". A pesquisa, autorizada pelo ministro Valdir Arcoverde, apontará o que ele considera "poliomielite irresponsável", isto é, crianças com defeitos físicos que poderiam ter sido evitados se o governo "levasse a sério naquela época, como o quer agora, o assunto poliomielite".

Vacinas russas

Na entrevista, Arcoverde revelou o início a 14 de junho, com uma segunda dose a 16 de agosto próximo, da Campanha Nacional de Combate à Poliomielite. No programa o Ministério da Saúde utilizará 45 milhões de doses de vacinas fornecidas pela União Soviética, negociadas ao preço de 36 milhões de cruzeiros. Dez milhões de doses já se encontram à disposição do governo brasileiro.
A vacinação-relâmpago (pretende-se atingir 80 por cento da população exposta ao risco da doença, ou seja, aproximadamente 20 milhões de crianças na faixa etária dos 2 meses aos 5 anos) se desenvolverá na primeira fase em apenas 48 horas. Para isso, as autoridades sanitárias contarão com a colaboração das Forças Armadas e das forças auxiliares, levando a vacina de porta em porta.
O propósito governamental, afirmou Arcoverde, é romper a cadeia de transmissibilidade e manter a poliomielite sob efetivo controle. Entretanto, ponderou, "não basta vacinar apenas este ano, mas também dois ou três subsequentes, pois só assim acabaremos com a doença".
O ministro Jair Soares colocou à disposição do Ministério da Saúde toda a estrutura previdenciária existente no País. Ele considerou que "a pólio é um assunto sério, e como tal deve se encarado".

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