Ex-prefeito de Osasco e candidato ao governo do Estado de São
Paulo pelo PDT, Francisco Rossi, 54, é uma espécie de
Paulo Coelho do palanque. Diz que já curou pessoas e brecou
tempestades. Místico, trocou uma seita oriental pelo discurso
evangélico. Nesta eleição, tenta realizar outro
milagre: exorcizar a descrença na política
Por
Cosette Alves
Francisco
de Almeida Rossi, candidato do PDT ao governo do Estado de São
Paulo, conta que já lidou com as forças do universo
e ousa ir contra o ceticismo. É um homem obstinado e cheio
de fé -característica rara nesse fim de século.
Hoje predominam a descrença e a falta de esperança,
grifes do discurso da moda. Ele tem idéias próprias,
com as quais podemos concordar ou não, mas luta contra a
descrença e sua bandeira é a esperança.
"Na obra de Dante Alighiere, uma frase diz que o inferno começa
quando a esperança acaba. Acho que qualquer um deve lutar
para que a esperança não morra no coração
de ninguém. Apesar das dificuldades, a gente deve se apegar
a Deus. É a grande esperança."
Até me assustei ao ouvir alguém falando com tanta
esperança a respeito do Brasil e do ser humano. Será
que esta fé tão forte é apenas um refúgio
necessário face a incerteza de tantos problemas angustiantes
a resolver? Não sei. Só Deus sabe.
O deputado Francisco Rossi é simpático, simples e
direto. Conversei durante horas em sua casa, onde tomei um café
delicioso. Uma casa bonita, confortável sem ser luxuosa.
Usava suéter e camisa esporte. Movimentava-se com agilidade
e sem tensão. Voz agradável, olhar direto e tranquilo.
Ele acredita que muita coisa é possível e pode ser
feita. Sua fé continuou inabalável mesmo depois de
ter passado, na infância, por um episódio traumático.
Nasceu em Caçapava. Ali ficou até os 2 anos. Mudou-se
para Marília, onde o pai foi abrir uma agência bancária.
Numa briga entre o gerente do banco e um cliente, uma bala perdida
matou o pai de Rossi -que tinha então 5 anos. "Minutos
antes de papai morrer, conversei com ele. Isso me marcou muito.
Eu me recordo de ele dizer - 'estou morrendo, estou morrendo'. Ele
me pedia 'cuida de sua mãe, de seus irmãos'. Eu não
entendia bem o que estava acontecendo."
Depois disso, Rossi sentiu-se para sempre responsável pela
mãe e a família. Foi em 1945. Na época, havia
mais discriminação contra a mulher. Emprego era difícil.
"Comecei a trabalhar muito cedo. Com 10 anos, fazia pequenos
serviços. Meu primeiro emprego foi na Cidade de Deus, no
Bradesco. Era contínuo e até hoje mantenho boa relação
com a direção do banco. Eu os admiro, porque os vi
lá embaixo e subiram."
Foi para Osasco aos 13 anos, por ter sido expulso da escola. Em
Agudos, onde morava, desentendeu-se com a professora, que o repreendeu
e bateu-lhe com uma régua. Rossi reagiu e não quiseram
que continuasse lá.
Não tendo se adaptado em Osasco, voltou após seis
meses para Agudos, onde foi recebido com alegria. Para sua sorte,
a professora malvada havia sido despedida e ele foi readmitido no
ginásio. Bom aluno, recebia prêmios. Não gostava
muito de estudar, "retinha a matéria na cabeça".
O candidato faz um relato sobre a importância que tem a religião
na sua vida. "Eu vivia procurando algo, hoje sou tranquilo,
acho que me encontrei." Nascido em lar católico, ia
à missa. Foi crismado, fez encontro de casais. Conhece bem
a Bíblia. "Mas sempre quis ter certeza da existência
de Deus. A Igreja Católica não conseguiu me transmitir
Deus."
Veio sozinho para São Paulo, morou com os tios até
os 16 anos. Depois, viveu numa pensão de "quinta categoria",
no centro. "Convivia com pessoas revoltadas, que vinham para
cá em busca de oportunidades e não achavam. Conversávamos
e os ateus queriam me provar que Deus não existia. Nunca
entrei nessa. Desde moleque, quando disputava o movimento estudantil,
tinha uma frase que gostava: Com Deus venceremos."
Em busca e inquieto, Rossi provou muita coisa. Passou por uma seita
oriental. Não quis revelar o nome, mas explicou porque chegou
a frequentá-la. Tinha sido eleito deputado federal em 1986.
Em Brasília, ficou doente. O médico disse que ele
deveria vir a São Paulo para se tratar. Rossi resolveu não
se afastar de lá, por causa da votação da Constituinte.
Tomou medicamentos errados, que causaram efeitos colaterais perversos.
Por acaso, soube dessa seita. Curioso e meio desesperado por causa
da saúde, agarrou-se a ela. Hoje, acha que foi curado por
uma "imposição" feita pela seita. "Aí
aprendi a lidar com as forças do universo e sempre achei
que os milagres e curas que aconteciam ali não eram coisas
de Deus. Fiz uma iniciação e comecei a fazer meus
milagres, meus entre aspas." Rossi conta uma experiência.
"Um parente de minha esposa estava com operação
marcada. Recorreram a mim para fazer uma 'imposição
de mãos'. No dia seguinte, ele estava totalmente curado."
Para Francisco Rossi, a fé remove montanhas. É ou
não é possível? Só Deus sabe. Mas ele
acredita. Sua fé é daquela que só vendo para
crer, pois foi ao Japão verificar o que era a seita oriental,
nas suas origens. "Eles desconheciam Jesus. Sempre aprendi
Jesus como único e suficiente salvador. Quando vi aquilo,
questionei: será que estou no lugar certo?" Isso foi
em 1987.
"Sempre acreditei no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
Aprendi a pedir a Deus que dê sabedoria através do
Espírito Santo. Eu implorei por sinais e fui recebendo sinais.
Tenho amizades no meio evangélico e fui me aprofundando na
interpretação evangélica da palavra de Deus.
Vivi momentos difíceis como prefeito de Osasco. Na minha
função, tive uma experiência pessoal com Cristo.
Foi definitivo." Aí, Rossi decidiu deixar a seita. "Aceitei
Cristo, mesmo, há um ano e meio."
A mudança, a partir daí, "foi fulminante".
Antes, pensava em deixar a política, tão decepcionado
estava. "Nem quis saber se a minha religião traria consequências
na minha vida política, pois os evangélicos são
minoria. Minha vida mudou e me senti encorajado a continuar na política."
Ganhar ou não a eleição não o preocupa.
"Uma passagem bíblica diz: 'Uma vida vale mais do que
tudo no mundo'."
Rossi diz que as obras são efêmeras. "O que faço
hoje, estará superado ou destruído daqui a alguns
anos. A maior obra que fiz como político é ter pessoas
que acreditam em mim, sem eu ter um curral eleitoral." Ele
expõe suas idéias sem demagogia. Não é
por estar no PDT que ataca o plano Real e nem faz um discurso de
oposição para tentar ganhar o voto.
Ele defende tentativas para melhorar o Brasil, não importa
quando e em que data sejam executadas. Vota para presidente em Leonel
Brizola. Considera o candidato petista bem-intencionado e inteligente.
Mas ressalva: "Um governo Lula é preocupante. Só
boa intenção não basta."
Seu plano de governo vai caber em uma folha de papel sulfite. "Não
adianta ficar prometendo. Quero ser governador porque vou fazer
algo completamente novo na política nacional. Vou atacar
a questão moral do Estado. Minha prioridade é atacar
a corrupção. Entendo que tudo que fica muito grande
é inadministrável. Como administrar um Estado com
900 mil funcionários?", pergunta. Se eleito, municipalizará
educação e saúde.
Rossi prega a diminuição do Estado, para deixá-lo
mais eficiente. Não descarta a privatização
do Banespa: "Não sei se é o caso. Mas se chegar
a conclusão que é, por que não?". Para
ele, São Paulo deve assumir o processo de modernização
do Estado brasileiro. "A lei do mercado deve começar
a funcionar mesmo", diz. É a favor da livre negociação
salarial. Diz que entrou no PDT porque foi convidado. "Mas
eles sabiam como eu pensava. Mesmo o Brizola, mais estatizante,
mudou muito."
Quando prefeito, resolveu uma greve na saúde "de maneira
drástica". Demitiu 400 médicos, decretou calamidade
pública. "Repus os médicos. Privatizei uma parte,
fiz uma experiência na saúde." Deu certo na ocasião.
Moral da história: "Fiz meu sucessor no primeiro turno.
O povo aprecia medidas enérgicas. Vou governar com mão
forte o Estado de São Paulo".
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