REINO UNIDO DECRETA A PRISÃO DE PC FARIAS

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 4 de novembro de 1993

A Justiça do Reino Unido decretou a prisão preventiva do empresário PC Farias, informou a embaixada brasileira em Londres. Segundo o Itamaraty, a medida tornou-se possível depois da assinatura entre os governos brasileiro e britânico de acordo especial permitindo a extradição. PC é procurado pela polícia britânica e não pode deixar o país. Pelo tratado, cabe à Justiça britânica julgar a extradição. Se pagar fiança, PC pode esperar a decisão em liberdade.

Juiz britânico decreta a prisão de PC

A embaixada brasileira em Londres afirmou ontem ter assinado um acordo especial com o Reino Unido que permite a extradição de Paulo César Farias para o Brasil. Já há uma ordem de prisão contra PC, que está sendo procurado pela polícia e proibido de deixar o país. O governo britânico não confirmou essas informações.
Esse acordo não significa, porém, que PC será automaticamente extraditado quando for encontrado. Ele apenas cria a possibilidade de extradição, já que os dois países não têm um tratado formal nesse sentido. Quando for capturado ou se apresentar à Justiça, PC será informado oficialmente de que há um pedido de extradição contra ele. Só então será iniciado o processo e um juiz de Londres vai decidir se o envia de volta ao Brasil ou não. Isso deve levar 60 dias.
O acordo foi assinado na última sexta-feira pelo embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima e uma autoridade do Home Office (que atua como Ministério do Interior e da Justiça). Na sexta à noite, o procurador da República Italo Fioravanti e o assessor jurídico do Ministério da Justiça, Guilherme Magaldi, prepararam as evidências contra PC, que incluem sete dos mais de 20 inquéritos nos quais está indiciado.
Esse material foi encaminhado na segunda-feira a um juiz de Londres que no mesmo dia emitiu, segundo o embaixador, o mandado de prisão contra PC. Flecha de Lima afirmou que não há indícios de que o empresário alagoano tenha deixado o país.

Fiança

O mandado de prisão não significa necessariamente que PC ficará preso enquanto a Justiça decide sobre a sua extradição. Os crimes do qual ele é acusado são afiançáveis no Reino Unido. Caberá ao juiz da Corte de Bow Street, em Londres (onde o caso será julgado), decidir se PC pode ficar em liberdade sob fiança. Nesse caso, o próprio juiz estabelecerá o valor da fiança.
O advogados de PC em Londres afirmaram ontem que não haviam sido informados pela Justiça britânica de nenhuma ordem de prisão contra PC. Eles se negaram a confirmar se PC estava ou não no Reino Unido.
"PC escolheu o melhor lugar para vir. A extradição aqui será um caso difícil", afirmou Magaldi.
Mesmo se o juiz aprovar a extradição, PC ainda tem três possibilidades de apelo. Ele pode pedir um habeas corpus, pode recorrer à High Court (a suprema corte do país) e à Camara dos Lordes, uma das duas casas do Parlamento britânico.
HUMBERTO SACCOMANDI
De Londres

Interpol perde a pista do empresário

Das sucursais e de Londres

A Polícia Federal brasileira não tinha até o início da noite de ontem a menor idéia do paradeiro de Paulo César Farias. Havia apenas a expectativa, quase torcida, de que ele continuasse na Inglaterra.
O diretor da Interpol no Brasil e superintendente da PF no Rio, Édson Oliveira, só soube da ordem de prisão de PC pela Justiça britânica ontem de manhã, por volta das 8h30, após a notícia já ter sido divulgada pela imprensa.
Ontem, Oliveira não quis dar entrevista, alegando não ter autorização de Brasília. Segundo a Folha apurou, ele se comunicou durante o dia com a Scotland Yard (a polícia federal britânica), mas não conseguiu saber muito mais que a confirmação de que PC estava com prisão preventiva para fins de extradição decretada.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o embaixador Flecha de Lima disseram que Brasil está pronto para negociar um tratado formal de extradição com o Reino Unido. Flecha de Lima negou que o acordo especial para PC tenha tido alguma contrapartida por parte do governo brasileiro. Negou também que poderia haver uma troca com Ronald Biggs, o assaltante britânico que mora no Rio de Janeiro.

Família diz que empresário está na Inglaterra

Da Reportagem Local,
das sucursais e de Londres

A família do empresário Paulo César Farias informou ontem, em Maceió, que PC teria deixado a cidade de Londres, nos últimos dias, mas continuaria na Inglaterra. Segundo os irmãos de PC, a disposição da família é pagar fiança em caso de prisão.
PC teve um encontro no último sábado, ainda em Londres, com a sua mulher, Elma, e dos dois filhos, Paulo e Ingrid -eles estão passando uma temporada em Genebra, na Suíça, e de lá se deslocaram até a Inglaterra. PC acha que não será extraditado.
A Polícia Federal brasileira não tinha até o início da noite de ontem a menor idéia do paradeiro de Paulo César Farias. Havia a expectativa, quase torcida, de que ele continue na Inglaterra.
O diretor da Interpol no Brasil e superintendente da PF no Rio, Édson Oliveira, se comunicou durante o dia com a Scotland Yard (a polícia federal britânica), e confirmou que PC estava com prisão preventiva decretada.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que Brasil está pronto para negociar um tratado formal de extradição com o Reino Unido. O embaixador Flecha de Lima negou que possa haver uma troca com Ronald Biggs, o assaltante britânico que mora no Rio de Janeiro.


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