CASTELO: O POVO ESCOLHERÁ LIVREMENTE SEUS
GOVERNANTES
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Publicado
na Folha de S.Paulo, domingo, 04 de julho de 1965
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Neste texto foi mantida a grafia original
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TUBARÃO, 3 (FOLHA) - O presidente Castelo Branco afirmou
hoje que, "graças às providências de agora,
meu sucessor em 1967 encontrará um Brasil, ordenado, em plena
vigencia democratica e com as suas instituições politicas
aperfeiçoadas".
Garantindo categoricamente a realização de eleições
neste e no proximo ano, o chefe do governo fez seu pronunciamento
durante a solenidade de inauguração da primeira unidade
geradora de 50 mil quilovates da Usina da SOTELCA, nesta cidade de
Santa Catarina.
O marechal Castelo Branco, após manifestar sua satisfação
por poder entregar ao país maior produção de
energia eletrica, frisou que a Revolução buscou, no
campo politico, preservar a democracia e assegurar o equilibro entre
os poderes da Republica; e, no campo economico, aspirou à retomada
do desenvolvimento detido e esmagado pela inflação.
"Honrado pela confiança de varias correntes da opinião
nacional e eleito pelo Congresso - afirmou - considero indeclinavel
dever levar a bom termo os propositos consubstanciados no Ato Institucional."
Para isso e com o objetivo de mudar a fisionomia da sociedade, não
vê caminho melhor senão modificando as leis que a orientam,
"sob pena de mergulharmos no arbítrio e na prepotencia".
Retirando que se tem encaminhando para medidas capazes de reafirmar
a normalidade da vida politica nacional, o presidente assegurou: "Neste
rumo, de acordo com o disposto na Constituição, estão
as eleições de 1965 e, como segundo etapa, as do proximo
ano. Uma e outra serão plenamente asseguradas pelo governo,
a fim de que o povo escolha livremente os seus governantes. Nem há
porque temer que o eleitorado escolherá mal ou abrirá
caminho para uma volta ao passado, do qual ainda conserva dolorosas
e tristes recordações".
"O que compete a uma revolução democratica, como
a de 31 de março - frisou - é ganhar as eleições
no meio do povo, falando ao povo, e nunca fechar as urnas com temores
que acredito injustificados. E é nosso dever, como imperativo
da revolução, aí perseverarmos, sejam quais forem
as ameaças de insurreição e as injustiças
desatinadas."
O presidente da República acentuou, tambem, que - ao inaugurar
aquela usina termeletrica, estava acionando importante peça
para a retomada do desenvolvimento economico, plantando "valioso
marco no aproveitamento do carvão nacional".
Insistiu no interesse do governo na rapida conclusão da SOTELCA,
"que atende não apenas ao desenvolvimento da industria
mineira do carvão, mas tambem à diminuição
dos altos preços que oneram a industria siderurgica".
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Castelo:
Meu sucessor em 1967 encontrará um Brasil ordenado |
TUBARÃO, 3 (FOLHA) - "As eleições
de 1965 e do próximo ano serão plenamente asseguradas
pelo governo, a fim de que o povo escolha livremente os seus governantes.
Não há por que temer que o eleitorado escolherá
mal ou abrira caminho para uma volta ao passado do qual ainda conserva
dolorosas e tristes recordações. De qualquer modo, o
que compete a uma Revolução democratica como a de 31
de março é ganhar as eleições no meio
do povo, falando ao povo e nunca fechar as urnas por temores que acredito
injustificados. E é o nosso dever como imperativo da Revolução,
aí perseverar-mos sejam quais as ameaças de insurreição
e as injustiças desatinadas" - declarou o presidente Castelo
Branco, no discurso que pronunciou hoje nesta cidade catarinense,
durante a solenidade de inauguração da primeira unidade
geradora de 50.000 kw da SOTELCA.
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O
discurso |
É a seguinte integra do discurso do presidente Castelo Branco:
"Por mais grato que me seja, como realmente é, o contato
com as diversas areas do país, não apenas por esse motivo,
tenho buscado presidir pessoalmente atos como este de agora. Há
meses estive em Paulo Afonso; mais tarde, em Furnas; hoje encontro-me
nesta importante região brasileira. É que em cada uma
destas ocasiões, chegam o momento de entregar aos usuarios
maior produção de energia eletrica, que esperamos logo
transformadas em valioso instrumento do desenvolvimento nacional.
Assim procedendo, não faço mais do que permanecer fiel
a Revolução. Esta, se no campo político buscou
preservar a democracia e assegurar o equilibrio entre os poderes da
República, no economico aspirou a retomada do desenvolvimento
detido e esmagado pela inflação. Ninguem desconhece
as angústias vividas ante as inequivocas, graves e crescentes
ameaças que rondaram o Congresso, desde o momento em que se
tomou num dos principais centros de resistencia ao dominio da subversão.
E tambem não se ignora que o seu propalado fechamento representava
a rapida instalação de uma ditadura dominada pelo comunismo.
Tal perspectiva bem explicita o vigor com que se mobilizou a opinião
nacional, que em grandiosas manifestações externou o
repudio à trama contra as instruções democraticas.
E estas logo contaram com o decidido apoio da quase totalidade das
Forças Armadas, que trazendo ainda vivo o espirito que as animara
na guerra contra o nazismo, não desejavam nenhum governo ditatorial.
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Dever
indeclinavel |
Vitoriosa pois, a Revolução de 31 de março, cuidou
o seu supremo comando atraves do Ato Institucional, da alta determinação
revolucionária de manter as instituições nacionais,
especialmente o Congresso, que continuou com atribuições
identicas às que exerce desde a Independencia. Era a nitida
demonstração de que, na hora do triunfo, o movimento
revolucionario permanecia dentro dos propositos que o haviam inspirado
anteriormente.
Não me coube a honra de estar entre os que em nome da Revolução,
promulgaram tão importante documento da nossa vida política.
Mas, honrado pela confiança de varias correntes da opinião
nacional e eleito pelo Congresso, considero indeclinavel dever levar
a bom termo os propositos consubstanciados no Ato Institucional. Hoje,
depois de me haver comprometido a defendê-lo, não posso
indagar se outros deveriam ser os seus rumos.
Atitude que, entretanto, não impede o governo pelos meios ao
seu alcance de promover a renovação do pais, através
de legislação adequada. Sei mesmo que o censuram pelo
empenho em que esta de obter novas leis para varios setores da vida
nacional. Confesso, entretanto, não saber de outro meio para
mudar a fisionomia de uma sociedade, sob pena de mergulharmos no atributo
e na prepotencia senão modificando as leis que as orientam.
Tanto mais quanto o proprio Ato Institucional criou, prazo limitado
e com esse objetivo virtual poder constituinte a ser exercido pela
colaboração entre o Executivo e o Congresso Nacional.
Este, aliás, pela compreensão revelada em relação
à situação do país, ainda sensivel aos
graves acontecimentos que lhe ameaçaram a continuidade das
instituições, tem sido valioso elemento na preservação
da tranquilidade nacional. Acima de tudo, tem percebido que seria
malefico pretender colocar-se contra a corrente da Revolução
que pelo Ato Institucional, lhe confiou o importante papel que a nação
deseja e espera que continue a desempenhar com lucidez e objetividade."
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Normalidade
politica |
"Ninguem duvida de que somado o que já se fez ao que ainda
se deverá fazer, dentro das normas estabelecidas por aquele
diploma revolucionario, teremos alcançado ponderaveis modificações
na estrutura politica, social e economica do Brasil.
"E, justamente por não me afastar dos principios diretrises
adotados pelo Ato Adicional, expressão de garantia democratica
do povo brasileiro, tenho-me encaminhado para medidas capazes de reafirmarem
a normalidade da vida politica nacional."
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Eleições
em 65 e 66 |
Neste rumo de acordo com o disposto na Constituição
estão as eleições de 1965 e como segunda etapa,
as do ano proximo. Uma e outra serão plenamente asseguradas
pelo governo, a fim de que o povo escolha livremente os seus governantes.
Nem há por que temer que o eleitorado escolherá mal
ou abrirá caminho para uma volta ao passado, do qual ainda
conserva dolorosas e tristes recordações. De qualquer
modo, o que compete a uma Revolução democratica como
a de 31 de Março é ganhar as eleições
no meio do povo, falando ao povo e nunca fechar as urnas com temores
que acredito injustificados. E é nosso dever como imperativo
da Revolução, aí perseverarmos, sejam quais forem
as ameaças de insurreição e as injustiças
desatinadas.
Graças às providencias de agora é que o meu sucessor,
em 1967, encontrará um Brasil ordenado em plena vigencia democratica
e com as suas instituições politicas aperfeiçoadas.
Ao mesmo tempo em que como decorrencia de uma politica financeira
e economica bem meditada e executada, para a qual nunca é demais
invocar o civismo e a compreensão dos brasileiros, o país
terá retomado o desenvolvimento em todos os seus setores, tudo
a mostrar como bem imaginou a propria Revolução e impossibilidade
de aprimoramento e fortalecimento das instituições democraticas,
se não ocorrer simultaneamente o progresso economico num regime
legal.
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Desenvolvimento
economico |
Realmente, por mais felizes as realizações politicas
da Revolução, ela não teria alcançado
os seus reais objetivos se concomitantemente não levasse a
bom termo a retomada do desenvolvimento economico. E é desse
desenvolvimento que, ao inaugurarmos a usina termeletrica da SOTELCA,
acionamos hoje importante peça. Não porque entreguemos
a Santa Catarina e aos seus vizinhos um adicional de 100 mil kws;
mas por plantarmos valioso marco no aproveitamento de carvão
nacional.
Reconhecendo a necessidade do aproveitamento dos carvões nacionais,
inclusive por motivos de segurança, empenha-se o governo na
recuperação desse setor da produção mineral,
que uma sucessão de erros, afastara dos mercados consumidores.
E, dentro dessa orientação, começou pela reintegração
da Comissão do Plano de Carvão Nacional no Ministerio
de Minas e Energia, onde há mais adequadas condições
para o estudo da mineração e a modernização
da sua tecnica, a fim de ser alcançada a diminuição
dos custos e o incremento do consumo. Nesse sentido, o governo se
empenhará em assegurar o mercado, de modo a obter, por meios
praticos e flexiveis o abaixamento dos custos e, portanto, o beneficiamento
da produção de aço.
Daí o interesse na rapida conclusão da SOTELCA, que
atende não apenas o desenvolvimento da industria mineira do
carvão, mas tambem à diminuição dos altos
preços que oneram a industria siderurgica. Devo mesmo acrescentar
que, se atingir tais objetivos for necessario ampliar a usino ora
inaugurada, contará tal iniciativa com o apoio governamental.
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Integração
eletrica |
Aliás, já se estuda a integração eletrica
da região Centro-Sul com o Sul, fato que permitirá novo
dimensionamento para as instalações da SOTELCA. E, quando
tal ocorrer, será esta empresa um suporte termico para o grande
sistema hidreletrico nacional, alem de importante elo na almejada
interligação do Rio Grande do Sul ao Nordeste.
A verdade é que, consumindo toda a fração vapor
do carvão catarinense, assegura-se importante contribuição
ao barateamento do produto siderurgico. Mas iremos ainda mais adiante
em busca do aproveitamento do rejeito piritoso, subproduto que constitui
a maior e melhor fonte de enxofre que possuímos. E nesse sentido
estou determinando ao Banco Nacional de Desenvolvimento, bem como
ao Ministério de Minas e Energia, que somem os seus esforços
no estudo e solução do problema.
Mas, não é tudo: coroando a ação governamental
no campo do carvão catarinense, há que lembrar ainda
a SIDESC, empreendimento capaz de multiplicar o aproveitamento do
carvão, balançando a sua utilização e
oferecendo campo ilimitado à industrialização
dos subprodutos com o auxilio da carboquimica."
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Iniciativa
privada |
Cumpre agora à iniciativa privada trazer a sua parte a esse
esforço coletivo, pois, na medida em que o fizer, poderemos
abandonar, progressivamente as normas hoje vigentes nessa atividade
e retornarmos aos principios da livre concorrencia. Devem, portanto,
os empresarios minerados cuidas dos problemas da produtividade e da
competição, compreendendo que o governo não poderá
ser o suporte da ineficiencia e da incapacidade. Em beneficio da propria
industria e dos seus operarios é preciso eliminar atividades
que embora titulares de mineração, mais se assemelham
à garimpagem."
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Importação
de carvão |
Não param aí, porem, os problemas pertinentes ao carvão
de Santa Catarina, unico utilizavel para a coqueificação
e gaseificação e, portanto, a permitir menos importação
estrangeira, ou assegurar o suprimento domestico em qualquer emergencia.
Mas, ao procurar resolver os problemas do carvão de Santa Catarina,
está o governo igualmente contribuindo para o desenvolvimento
das regiões mineradoras do Rio Grande do Sul e do Paraná,
Estados onde a tecnologia eliminou os mercados tradicionais das ferrovias
e navegação. Tambem neles a solução deverá
ser a usina termeletrica na boca da mina. O governo. Com essa finalidade
apoiará a ampliação de Xarqueada, Candiota e
Figueira, assegurando mercado para o carvão e maior trabalho
para os operarios. E já se pensa em substituir o oleo combustivel
pelo carvão na usina de Alegretti, no Rio Grande do Sul.
Antes de concluir desejo congratular-me com os dirigentes, tecnicos
e operarios deste importante empreendimento pela maneira por que levaram
a bom termo já a obra agora a serviço do enriquecimento
da região. E não esquecerei uma palavra aos mineiros
e demais operarios, para dizer-lhes que o governo, sensivel as aspirações
que tem, prosseguirá nas atividades sociais de assistencia
de casa propria e crescente participação do trabalho
na riqueza nacional. Devem mesmo orgulhar-se da magnifica contribuição
que estão dando, nesta hora de convalescença e recuperação,
para que o Brasil encontre os caminhos da prosperidade, que deverá
ser de todos e não apenas de grupos privilegiados. Mas, devem
ter tambem a convicção de que somente assim poder-se-à
dividir a riqueza, em vez de enganá-los com a demagogia, que
conduziu o país aos sofrimentos atuais, e que muitos esquecem
ser ainda as consequencias dos velhos males que assolaram o Brasil.
Hoje, ao inaugurar obra como esta, posso voltar-me para todos os brasileiros
e dizer-lhes com segurança, que podem confiar no futuro ."
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