Rodrigo Leite
Da reportagem Local
Em
meio à crise depressiva que atinge o país, um local
concentra uma das maiores taxas de felicidade por metro quadrado:
o aeroporto internacional de Cumbica. Os que preferiram ser "estranhos
no paraíso" do Primeiro Mundo a padecer no inferno recessivo
voltam ao país só para as festas de fim de ano. Com
as malas cheias de dólares, eles reencontram as famílias
das quais se afastaram por meses - às vezes anos. Precavidos,
mantêm um pé nas filas desembarque dos vôos internacionais.
Embora não saiba muito bem o que o espera, o recém-chegado
não quer se fixar no país. "No princípio
você vai estranhar" disse Paulo Akamine a sua filha Liliane,
há um ano operária em uma fábrica do Japão
- no momento, o maior centro de atração de brasileiros.
Liliane ganha US$ 1,8 mil por mês. Ela diz que em oito horas
de trabalho recebe o equivalente a 30 dias no Brasil. Liliane não
sabe quando volta definitivamente. Tem uma certeza: em fevereiro
estará novamente montando circuitos de computadores em uma
fábrica japonesa.
Situação semelhante vive Gerson Minoru Watanabe, 31,
que há um ano e oito meses deixou a mulher, dois filhos e
a profissão de analista de laboratório no Brasil par
tentar ficar rico como operário no Japão. "Já
ganhei alguma coisa, mas quero mais".
Watanabe vai permanecer dois meses no Brasil. "No primeiro,
vou sentir falta do Japão. No segundo, vou querer ficar no
Brasil. O estilo de vida é muito diferente". Ele diz
que só volta a morar no Brasil daqui a um ano e meio. Ficar,
nem pensar: "Me deixaria triste, meio perdido".
A viagem de volta é certa. A maioria desses "turistas"
pretende deixar o Brasil novamente logo após as férias,
e passar 93 inteiro fora. Pessimistas, eles não vêem
perspectiva neste ano, mas "apostam em 93".
Os "estrangeiros" ignoram o que acontece no país.
Ouvem falar vagamente sobre criminalidade e inflação.
"Li no jornal que a inflação aqui chegou a 505%.
No Japão é só de 5%, disse a emigrante Kety
Hiroko, 24, ao desembarcar em Cumbica, depois de um ano em Tóquio.
"Vou ver como é que está isso aqui", disse
Marco Moraes dos Santos, 20. "Se estiver muito ruim, volto
para a Europa."
A Polícia Federal não tem estimativa de quantas pessoas
vivem fora do Brasil.
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