RENÚNCIA JÁ
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Publicado
na Folha de S. Paulo, terça-feira, 30 de junho de 1992
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Editorial |
Com rapidez vertiginosa, os desdobramentos do caso PC Farias vieram
a atingir o próprio cerne do governo. A sociedade brasileira
assiste, angustiada e estarrecida, ao completo colapso da credibilidade
presidencial.
O presidente Collor não possui, hoje, condições
de governar o país. A questão deixa de incidir exclusivamente
sobre os aspectos éticos de sua conduta à frente do
governo. Sobre estas, recaem as mais fortes suspeitas; trata-se ainda
de esclarecer com rigor e isenção o grau de seu envolvimento
com os escândalos que, dia a dia, repetem-se e se avolumam,
para indignação da opinião pública. Mas
o problema deixou de ser apenas jurídico ou moral. Passou a
ser político. Num momento de crise econômica e social
profunda, o país não tem governo.
Temos, na Presidência da República, uma figura acuada.
A sociedade não mais confia em sua palavra. Não mais
espera do presidente nenhuma atitude.
Nenhuma atitude, exceto a da renúncia.
Trata-se da única alternativa capaz de assegurar de imediato
a governabilidade do país. A crise chegou a seu ponto extremo.
Não é por oposicionismo sistemático que esta
Folha vê, na renúnica do presidente, um imperativo político
incontornável. Às primeiras revelações
de irregularidades no governo Collor, feitas pela Folha, segue-se,
hoje, uma verdadeira avalanche de denúncias e evidências,
veiculadas por praticamente todos os órgãos de opinião;
imerso no escândalo, o Executivo perdeu o crédito da
sociedade.
Collor não consegue mais governar. Que renuncie. A Constituição
prevê, em caso de renúncia do presidente, a posse de
seu vice. Este ponto é inquestionável. Caberá
a Itamar Franco o desafio de conquistar sustentação
política para o exercício pleno do cargo, mostrando-se
em sintonia com as exigências de modernização
que se colocam para o país. Foi o papel de Collor, aliás,
enfatizar um programa de mudanças hoje consensual na sociedade,
mas ainda a ser posto em prática.
A gravidade da atual crise política impõe, acima de
tudo, um espírito de máxima serenidade e de respeito
aos mecanismos legais. Não é momento para exaltações,
acertos de contas imaginários ou paixões ideológicas.
Não se ignoram os pontos de atrito que, por diversas vezes,
opuseram esta Folha ao presidente da República. O que se coloca,
neste instante, é algo de bem mais alto do que divergências
conjunturais. Trata-se da governabilidade do país. Trata-se
de encerrar, da forma mais rápida e indolor possível,
uma situação insustentável. O país precisa
de governo. Precisa de um presidente. Já deixou de reconhecer,
em Fernando Collor de Mello, uma figura capaz de atender a essa necessidade.
A superação da crise exige sua renúncia.
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